quarta-feira, 20 de dezembro de 2017

Deixamos a cria em casa!

No início do mês eu e minha esposa fizemos algo que muitos poderiam recriminar: deixamos nosso filho em casa, com a vó, e viajamos para a Disney.

e conhecemos todos eles


As “desculpas” para tal, no entanto, são plausíveis: ele tem apenas 3 anos e dificilmente aproveitaria (ou até mesmo guardaria lembranças) a viagem. Fomos porque conseguimos um bom negócio e era um sonho antigo do casal. Pretendemos levar o filho (ou filhos) quando tiverem mais idade, para curtir tudo o que é possível, e não queríamos chegar lá, inexperientes, frente a um país novo e novos costumes e acabar passando por perrengues desnecessários - coisas que aconteceram na viagem de agora e que provavelmente não acontecerão na próxima, pois aprendemos.

“← perdido / → muito perdido”
No entanto, ainda doeu no coração deixá-lo. Doeu por repassarmos a responsabilidade de cuidar dele para outra(s) pessoa(s). Doeu por ficarmos tantos dias longe. Doeu por saber que fomos sem ele num lugar para crianças. Doeu porque foi uma viagem cara e o dinheiro poderá, no futuro, fazer falta diante de alguma necessidade dele.


Desculpa a gente?


Ainda assim fomos surpreendidos positivamente com a aprovação geral de familiares e amigos que souberam da viagem. Todos entenderam nossas motivações e nos apoiaram no intuito de termos essa experiência, termos um tempo de casal para nós e, por que não, termos uma “folga” do dia-a-dia de ter uma criança pequena para cuidar.

O peso na consciência finalmente se esvaiu quando voltamos e vimos que ele ficou bem, não deu sustos e nem trabalho e ainda mal parecia ter sentido nossa falta. Creio que todos os presentes e cacarecos que compramos para ele durante a viagem acabem por zerar de vez o nosso débito com o guri.

Foi uma experiência única, gostosa, cansativa e gratificante. Deixo aqui publicamente agradecimentos a quem ajudou a cuidar do bacuri, a quem nos apoiou a fazer a viagem e à minha irmã, que fez tudo acontecer. Fica o desejo de, no futuro, poder ir mais uma vez para a terra do Mickey - com nosso filho na bagagem, claro.


sexta-feira, 1 de dezembro de 2017

Um filho especial


“Mas ele é perfeitinho, doutor?” é provavelmente a pergunta que os médicos mais ouvem durante um ultrassom. A razão é óbvia: nada amedronta mais os “pais grávidos” do que a incerteza que seu filho nascerá com saúde. Contudo, às vezes acontece - se não no nascimento, no decorrer da infância. E precisamos aprender a lidar com isso, sendo os principais envolvidos ou apenas como terceiros num relacionamento de amizade ou familiar com quem convive diariamente com esse desafio.


Basicamente há 3 tipos de reação quando as pessoas descobrem que nosso filho tem necessidades especiais (se você não sabia, leia o relato aqui):
  1. As que não têm a mínima noção da gravidade da situação (“nossa, 3 anos e ainda não anda?”, “minha filha já falava tudo com 2 anos” ou “a prima da irmã da minha amiga tem um filho com 3 anos que escreveu um livro em mandarim”);
  2. As que acham que é bem mais grave do que realmente é (“mas ele consegue comer normalmente?”, “ele reconhece vocês?” ou “OI NENÉM TUDO JÓIA?” - isso sendo falado bem alto e lentamente, como se falasse baleiês);
  3. As que, mesmo que não entendam exatamente o que aconteceu e quais as consequências disso, ao menos questionam e tentam compreender.


Por óbvio, não é sempre que acabamos ouvindo as reações diretamente da boca da pessoa, mas apenas o olhar dela já é capaz de exibir em qual das alternativas acima ela se encaixa.  E acredite: sabemos que não é por mal, afinal entendemos que não é uma situação comum e é difícil saber como agir em frente a um fato novo. Nós mesmos provavelmente já fizemos esse olhar para alguém que passa por algo parecido. Muitas vezes nós, como pais, somos alvos do mesmo olhar de pesar, como se o mundo tivesse desabado na nossa cabeça.


Na verdade, desabou sim. Há um ano e meio atrás, era assim que nos sentíamos, mas também sabíamos que o guri dependia de nós, que se não nos puséssemos de pé e tirássemos os escombros de cima de nós, ele nunca conseguiria fazer o mesmo sozinho. Mas hoje já aprendemos a lidar com a situação e, mesmo que muitas vezes ainda nos machuque lembrar ou ver que ele ainda não chegou à evolução desejada, posso garantir que cuidar dele é bem mais fácil do que a grande maioria dos conhecedores da nossa situação acham que é.


Costumamos dizer que ele “nasceu de volta” após o ocorrido, e o engraçado é que hoje, mesmo com quase 3 anos e meio, ele me parece muito com uma criança entre 1 ano e meio e 2 anos: está perto de voltar a andar sozinho (já dá passos independentes, mas se desequilibra com facilidade), já fala algumas palavras mais fáceis e está aprendendo a juntar as sílabas, começou a comer sozinho (embora mais brinque com a comida do que coloque ela na boca) e faz traquinagens como qualquer criança pequena. Mas, acima de tudo, é uma criança feliz, de riso fácil e humor leve - e isso que nos dá forças cada vez mais para remontar o mundo que desabou. Sua evolução é mais lenta, seu comportamento ainda não condiz com sua idade, mas temos fé, esperança e, principalmente, embasamento dos médicos para acreditar que, em algum momento, ele vai sim ter uma vida comum, dessas que nós, egoístas perfeitos, ainda teimamos em reclamar.


Então, se por acaso você conviva com alguém que tem filho com necessidades especiais, te convido a tentar compreender melhor a situação, conversando com os pais e interagindo com as crianças. Você vai passar a apreciar mais algumas coisas que antes pareciam banais, e também se tornará mais forte para enfrentar pequenos obstáculos que antes pareciam enormes. E se você, por acaso, é uma mãe ou um pai de um filho com necessidades especiais, se dê o direito de rir, de chorar, de ter um jantar romântico ou ir ao cinema e deixar sua criança com os avós, de tirar fotos engraçadas no Instagram, permita-se de vez em quando ter inveja das crianças que têm a mesma idade que seu filho ou filha (porque somos seres humanos, com defeitos, e não há como evitar ver no outro “como seu filho poderia ser hoje”, por mais feio que o sentimento possa parecer) e, mais que tudo, jamais deixe que a dificuldade do seu filho se torne a sua, pois como eu disse acima, ele(a) depende de você. A vida não pode parar por conta de um tropeço - por maior que tenha sido a queda.