O texto da semana passada sobre mentira e honestidade me fez lembrar de mais um episódio da minha infância (aqui tem um e tem outro aqui também).
Eu devia ter uns 5 anos na época, e estava no mercado com mamãe. Não era do tipo de criança que fazia birra para que meus pais comprassem porcaria no mercado (mesmo porque já tinha ouvido “não” vezes o suficiente para prever qual seria o resultado final). No máximo, pedia uma ou outra coisinha apenas para testar o grau de recepção. Naquele dia, enquanto estávamos já no caixa, passando as compras, vi um Laka na gôndola, e deu vontade.
Ei, organizadores das gôndolas que colocam só guloseimas na boca do caixa: vocês não prestam!
Pensei “vou pedir pra mamãe!” e, na maior inocência (pra não dizer burrice), não levei em conta um pequeno detalhe: pra mamãe levar o chocolate, tem que dar o chocolate pra mamãe pagar! Acabei guardando o Laka no bolso, imaginando que minha mãe teria visto e pago por ele. Após sair do mercado, peguei o chocolate, já prevendo a explosão de endorfina ao mordê-lo, quando os olhos saltados da minha progenitora acusaram que algo estava errado. “Filho! De onde veio esse chocolate???”, perguntou ela. Eu, ainda sem entender, disse “do mercado, mãe!”. Ela, então, retruca “mas eu não paguei por ele!”.
"não... Não! NÃÃÃÃÃÃÃÃOOOOO!!!"
Silêncio. Pensamentos confusos. Enfim, com voz embargada e olhos marejados, eu pergunto a mim mesmo “Eu… Eu roubei o chocolate?”, e caio no choro. Era isso, então. Eu havia praticado meu primeiro delito na vida. Ali poderia ter sido o início de uma vida de crimes. Aquele Laka poderia me levar a um Doritos, ou pior - a um Kinder Ovo! Depois, uma revista, um celular, um carro, e com a idade de agora estaria definhando devido às drogas, com uma tatuagem tribal na cara, encarcerado em algum presídio brasileiro, por conta de uma tentativa de roubo a caixa eletrônico que deu errada porque meu parceiro calculou errado a quantidade de dinamite que teríamos que usar.
Na foto tá faltando a tatuagem tribal no rosto
Mas não! Eu não quis aquele chocolate. Não o comi. Minha mãe me ofereceu, e eu disse que não queria, pois era roubado. Ela me explicou, com paciência, que eu não devia me sentir culpado porque não sabia que tinha feito algo de errado, mas que era para tomar como lição para nunca mais fazer a mesma coisa. E ela acabou comendo o chocolate porque “dane-se, não fui eu que roubei”.
O mais importante, na verdade, não foi a explicação, mas sim a forma que fui educado até antes daquela pequena transgressão, para ter a real noção que o que tinha feito era errado, e por isso era desmerecedor daquele chocolate.E essa é a real lição dessa linda historinha: a educação vem de berço, e os valores morais também.