sexta-feira, 5 de fevereiro de 2016

Mentira tem perna curta


Dizem que o problema do Brasil é o brasileiro, que o “jeitinho” daqui é uma herança portuguesa de um povo corruptível e que tenta levar vantagem em tudo. Isto posto, é de se imaginar como é difícil conseguir educar corretamente a geração que herdará esse pedaço de terra que está deitado eternamente em berço esplêndido.

Lííímpidoo...

Há uns dias atrás, na volta do trabalho para casa, estava esperando o ônibus, e quando ele chegou, a mãe de uma criança que estava na minha frente disse ao rebento “se te perguntarem, você tem 4 anos”. Não parece grande coisa, se você não soubesse que aqui, onde moro, menores de 4 anos não pagam a passagem (não sei se isso é uma lei nacional, ou algo assim). O guri - que claramente já tinha passado dos 1461 dias de vida - foi instruído pela mãe a mentir a idade para que ela pudesse economizar pouco menos de 4 reais (e sabe-se lá com que frequência isso acontecia). Noutro dia, também na fila do ônibus, um mendigo veio pedir dinheiro, e outra mãe - com sua filha - disse ao homem que não tinha dinheiro. Depois que ele foi embora, a menina perguntou “mãe, mas você não tem aquele troco da farmácia?”.

Cuidado: ser sincero demais também pode ser problemático

Acredito que não seja um problema particular do brasileiro, mas nós tendemos a mentir com muito mais frequência e naturalidade do que gostaríamos de admitir. Mentiras das mais pequenas até as que se carregam por dias, meses e anos. Fazemos isso ao mesmo momento em que tentamos educar crianças a serem cidadãos corretos e de bem. “Como explicar para uma criança que, na verdade, eu não queria dar meu suado dinheiro a um mendigo?”, a moça da fila pode dizer, em sua defesa. “Eu sou mãe solteira, tenho que levar meu filho junto comigo a todos os lugares! Como vou custar o dobro de passagens?”, poderia falar a outra, como justificativa. E aí entramos na parte da “desculpa”, que é um buraco maior ainda.

Mentira mais recorrente: "já tava assim quando cheguei"

Eu não sou nenhum exemplo de ser humano correto. Tive cópia de Windows pirata. Baixo os episódios de Game of Thrones porque não tenho HBO em casa. Já aceitei troco errado a meu favor. Já dei inúmeras desculpas para tentar me safar de algo que era culpado - mesmo que fosse algo irrisório. E quem nunca fez algo parecido, não é? Mas aí é que está o problema: por ser comum, achamos que “tá tudo bem”. Mas, ao me deparar com as cenas que descrevi acima, quase pude ver pequenos pingos de tinta escura caindo sobre transparente inocência das crianças, e aquilo me assustou. Se isso vai me fazer conseguir ser uma pessoa mais correta e justa, para tentar dar o melhor exemplo possível pro meu filho, eu não tenho como saber. Mas posso começar pagando a passagem dele quando chegar a idade.


Nenhum comentário:

Postar um comentário