Há uns 2 anos fui doar sangue e, quando já estava no “cantinho do lanche” para repor as energias, uma mulher - com seus possíveis 40 e tantos anos - puxou papo comigo. Quis saber se eu era doador assíduo, e eu disse que sim. Aí ela me perguntou “e qual a sua filosofia?”. Eu não entendi o que ela quis dizer, e ela se explicou “você doa por causa da carteirinha de doador, por achar que está ajudando alguém, por querer passar sua saúde para frente, por alguma questão religiosa...?”. Eu fiquei tipo assim:
o_O
Para mim, não havia motivos para NÃO doar sangue. Mas acabei respondendo que era para ajudar quem precisasse. “Se tenho de sobra, por que não ajudar quem precisa?”. Ela disse “Ah, altruísmo. Isso é bonito!”. Fui embora pensando nesse encontro esotérico, e percebi que, por mais que não quisesse admitir, a doação não tinha nada de altruísta: eu uso a carteirinha de doador para pagar meio ingresso no cinema, aproveito pra fazer um lanchinho bom (tem um achocolatado de Alpino que é sensacional) e ainda saio com aquela sensação de orgulho, mesmo que seja bem lá no fundo. Assim como, em um episódio de Friends, Joey tenta provar à Phoebe que não existe ações altruístas, eu também estava convencido que não existia altruísmo no mundo.
Sério. assistam esse episódio. Temporada 5, ep. 4.
Bem, isso até ter um filho. Só aí eu vi que o Joey não sabe de nada. A gente faz tanta coisa pro filho - desde gastar um tempo seu só pra fazê-lo rir até cuidar da saúde dele melhor do que cuida da sua própria - que não dá pra negar que existe sim uma forma de um ser humano fazer o bem a outro sem esperar nada em troca, nem se sentir bem com isso. Tudo que é feito passa por cima de orgulho, de dinheiro, de bel-prazer ou de qualquer forma de tentar ganhar algum tipo de retribuição no futuro. E essa acabou sendo a minha filosofia : garantir que aquela pessoinha está se sentindo da melhor forma possível.