quarta-feira, 16 de novembro de 2016

Curtinha #3


Feriado da Proclamação da República. Aproveitei a folga para me reunir com uns amigos para uma jogatina e voltei de madrugada, esperando dormir o suficiente para descansar. Meu filho não pensava o mesmo, afinal acordou antes das 7 da manhã. Minha esposa, também sonolenta, resolveu levar o guri para nossa cama, para tentar inspirá-lo a voltar a dormir. Não funcionou. Entre risadas, gritinhos, balbucias e engatinhadas por todo o colchão (com direito a joelhadas e cotoveladas em nossas costas), ele expôs sua vontade de permanecer acordado, e acabei tendo que ceder. Sei que, dados os acontecimentos dos últimos meses, você, leitor, pode dizer “ah, mas você deveria estar feliz e agradecido por ele estar assim, é sinal de saúde!”. Concordo, e realmente estou feliz e agradecido. Só queria poder ter ficado feliz e agradecido umas duas horinhas de sono depois.

quinta-feira, 10 de novembro de 2016

Temos que pegar!


Sei que não é a coisa mais compreensível do mundo um adulto de 31 anos jogar via celular um game de realidade aumentada com bichinhos fofinhos, mas eu admito: sou um jogador de Pokémon Go. Pois é, por mais que a vida tente me tornar um adulto, eu não consigo deixar a minha criança interior muito longe. A minha esposa também me acompanha de vez em quando na jornada para nos tornarmos grandes mestres Pokémon, o que prova que Deus tava certo quando juntou nós dois.

Eu sou muito maduro, tá legal??

Antes que me julguem, entendam que a criação e divulgação desse joguinho ativou a minha nostalgia da infância, lembrando dos desenhos e jogos de videogame com quem gastei horas e horas da minha vida infanto-juvenil. O que eu não podia prever, na verdade, é como esse jogo me fez pensar nas coisas que gostaria de fazer com meu filho no futuro.

Calma, eu explico: por várias vezes quando eu e minha excelentíssima saímos para passear no parque e caçar os monstrinhos, vimos pais/mães com seu(sua/s) filho(a/s) jogando em conjunto, e o entusiasmo dos pequenos querendo mostrar aos pais os bichos que capturaram, junto com a alegria de poder fazer tudo aquilo com a companhia dos pais, chega a ser tocante. Queria, por um momento, que o guri tivesse mais idade pra poder nos acompanhar nessa brincadeira, mas também entendo que não é preciso colocar a carroça na frente dos bois: temos vários momentos para curtir com ele até que esteja com idade para sair por aí tal qual o Ash e pegar seus Charmanders, Pikachus e Bulbassauros.


Na verdade, o mais bacana disso tudo é ver uma interatividade entre pais e filhos sem ser forçada, sem ser “obrigação dos pais”, sem filhos num canto, com seus tablets, mexendo em seus joguinhos e seus desenhos enquanto os pais estão em outro canto, com seus outros gadgets, sem trocar uma palavra ou experiência com as crianças. Nesse mundo moderno, tem sido tão difícil ver essa interação familiar que vi no Pokémon Go - ironicamente um jogo que usa os mesmos tablets e gadgets - um exemplo a ser seguido para que as famílias possam voltar a sentirem-se mais unidas e se divertirem em companhia uns dos outros.

Mas o grupo do Whatsapp tá bombando!

“Ah, mas tem várias formas de brincar junto com os filhos sem ser com esses aplicativos inúteis!”, o “conservador anti-Pokémon Go” pode dizer. É verdade, mas você que é pai e mãe, responda com sinceridade: qual foi a última vez que passou mais de uma hora interagindo com suas crias? Não estou dizendo de levá-los no parquinho e ficar de olho enquanto eles brincam no escorregador, nem sentar do lado deles para assistir Procurando Nemo pela quinquagésima-segunda vez, mas sim BRINCAR, SE DIVERTIR junto com eles. Hoje o mundo está muito dinâmico, tudo é muito rápido, e as pessoas se entediam com muita facilidade. Por isso é bom, sempre que possível, parar por um momento e refletir no que podemos fazer para que pais e filhos tenham um entretenimento em comum. Provavelmente o Pokémon Go não vai resistir até que meu filho tenha idade para brincar conosco, mas espero, desde já, encontrar meios para perder (ganhar) uma hora de diversão com ele sempre que possível. Aceitamos sugestões!

sexta-feira, 4 de novembro de 2016

O doce som do berreiro


Madrugada de uns 10 dias atrás. Acordei assustado, ouvindo um choro de criança. Deveria ter ficado incomodado, afinal meu sono foi interrompido e eu precisava acordar cedo para trabalhar, mas eu acabei abrindo um sorriso. Pode parecer estranho, mas sorri porque a voz alta e esganiçada vinha do meu filho, fazendo manha. Voz essa que eu não ouvia há mais de 1 ano.

"Hora de acordar, cambada!"

Para quem não sabe ou não lembra, meu filho precisou fazer uma traqueostomia com 11 meses, e desde então ele ficou, dentre outras coisas, sem poder falar. Há algumas semanas, iniciamos o processo de ocluir a cânula (ou, em bom português, “tampar a bagaça”) com um rolinho de esparadrapo, para que ele se habituasse a respirar pelo nariz e boca. Já no segundo dia ele passou quase todo o tempo, tranquilão, sem se preocupar com a traqueo tampada (isso, claro, quando ele não tirava o esparadrapo e colocava na boca, normal). Com isso, tivemos coragem o suficiente (junto com acompanhamento médico, claro) para tirar a cânula de traqueostomia de vez, e no momento ele já está sem, com o buraco na garganta já quase completamente fechado e tampado com curativo, aguardando apenas uma cirurgia simples para costurar e concluir de vez a Saga da Traqueostomia.

Muito bem, guri!

Mas agora começará uma nova saga: a Saga da Fala. Como se ensina uma criança a soltar a voz novamente, sendo que ela passou 1 ano da vida (e bem o período onde aprenderia a falar) sem poder emitir sons pela boca? Imaginem a frustração de ver que ele já mexia a boca para falar “mamãe” e “papai”, mas agora que pode soltar a voz, quando pedimos para ele falar “mamãe” ou “papai” ele apenas mimetiza com a boca? Como vamos tirar a mania dele apenas apontar ou chamar com a mão para as coisas/pessoas que ele quer e começar a pedir e chamar usando a voz? Obviamente ele terá um tratamento especial com fonoaudiólogo e com o tempo deve aprender a importância de usar a fala, mas por enquanto só nos resta rir e curtir suas balbuciações, gargalhadas, gritinhos e choros - afinal, se tem algo que ele não precisou reaprender, é como abrir um belo berreiro.