Madrugada de uns 10 dias atrás. Acordei assustado, ouvindo um choro de criança. Deveria ter ficado incomodado, afinal meu sono foi interrompido e eu precisava acordar cedo para trabalhar, mas eu acabei abrindo um sorriso. Pode parecer estranho, mas sorri porque a voz alta e esganiçada vinha do meu filho, fazendo manha. Voz essa que eu não ouvia há mais de 1 ano.
"Hora de acordar, cambada!"
Para quem não sabe ou não lembra, meu filho precisou fazer uma traqueostomia com 11 meses, e desde então ele ficou, dentre outras coisas, sem poder falar. Há algumas semanas, iniciamos o processo de ocluir a cânula (ou, em bom português, “tampar a bagaça”) com um rolinho de esparadrapo, para que ele se habituasse a respirar pelo nariz e boca. Já no segundo dia ele passou quase todo o tempo, tranquilão, sem se preocupar com a traqueo tampada (isso, claro, quando ele não tirava o esparadrapo e colocava na boca, normal). Com isso, tivemos coragem o suficiente (junto com acompanhamento médico, claro) para tirar a cânula de traqueostomia de vez, e no momento ele já está sem, com o buraco na garganta já quase completamente fechado e tampado com curativo, aguardando apenas uma cirurgia simples para costurar e concluir de vez a Saga da Traqueostomia.
Muito bem, guri!
Mas agora começará uma nova saga: a Saga da Fala. Como se ensina uma criança a soltar a voz novamente, sendo que ela passou 1 ano da vida (e bem o período onde aprenderia a falar) sem poder emitir sons pela boca? Imaginem a frustração de ver que ele já mexia a boca para falar “mamãe” e “papai”, mas agora que pode soltar a voz, quando pedimos para ele falar “mamãe” ou “papai” ele apenas mimetiza com a boca? Como vamos tirar a mania dele apenas apontar ou chamar com a mão para as coisas/pessoas que ele quer e começar a pedir e chamar usando a voz? Obviamente ele terá um tratamento especial com fonoaudiólogo e com o tempo deve aprender a importância de usar a fala, mas por enquanto só nos resta rir e curtir suas balbuciações, gargalhadas, gritinhos e choros - afinal, se tem algo que ele não precisou reaprender, é como abrir um belo berreiro.
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