sexta-feira, 23 de dezembro de 2016
Curtinha de Natal
O guri já está melhor, sem traqueostomia e tem uma certa fascinação por barbas (haja vista que o pai dele não tem um fio). Logo, o pensamento do fim de semana foi o mais simples possível: “vamos levá-lo num shopping para que ele veja o Papai Noel!”. Pensamento ingênuo, imprudente e inconsequente. Por um momento, esquecemos o fato que era o último fim de semana antes do Natal. Ao chegar no conglomerado de lojas, o cenário mais parecia a bolsa de valores - pessoas em todos os lados, falando alto, andando rápido de uma ponta a outra, em movimentos irregulares e descompassados. Com muito esforço e sem pegar a escada rolante (por medo que ela despencasse por excesso de carga), fomos até o local onde o bom velhinho estaria recebendo as crianças. Ele ainda não estava lá. Mas sabe quem estava? Um número incalculável de crianças com seus pais e acompanhantes aguardando a chegada do Seu Noel, fazendo uma fila que mais parecia que iria rolar um show da Beyoncé ali. Demos meia volta. “Ano que vem te levamos pra conhecer o Papai Noel, filho. De preferência, em Novembro”.
Feliz Natal a todos!
quarta-feira, 7 de dezembro de 2016
O paraíso dos gordinhos
Pensa numa pessoa magra. Agora pense nela de lado. Agora pense em uma pessoa de frente tão magra quanto a pessoa magra de lado. Esse era eu há cerca de 8 anos atrás. O tempo, contudo, aliado à minha gordice desenfreada, foi cruel comigo, e hoje tenho um corpo mais arredondado do que deveria. Eu tenho lutado contra, afinal vou e volto do trabalho quase todos os dias de bicicleta, almoço cerca de 350g de comida caseira, com uma quantidade aceitável de salada e evitando ao máximo frituras, evito tomar refrigerante. Mas perco a linha no momento em que colocam na minha frente uma bandeja com coxinhas, bolinhas de queijo e brigadeiros. O problema se agrava no momento que você tem um filho, afinal crianças conhecem outras crianças, e essas crianças fazem aniversário - e você tem que levar seu filho nos aniversários. Aniversários esses que estão recheados de bandejas com coxinhas, bolinhas de queijo e brigadeiros.
E tenho dito!
Essa extensa introdução foi apenas para tentar - em vão - justificar o fato que, por mais que eu tente (e deseje) manter um corpo sarado e saudável, o universo de um pai conspira para que ele ganhe uma pança de respeito - e não estou nem falando de cerveja e churrascos da galera do futebol. Aniversários de criança normalmente possuem a maior quantidade de porcarias alimentícias por metro quadrado dentre todos os eventos sociais conhecidos pelo homem, e enquanto elas gastam as calorias (que ganham ao comer aquelas bolas de farinha e ovo fritas em óleo denso e as bombas de açúcar e chocolate cobertas por confeitos) correndo, brincando de pique-esconde, de cama elástica e num bate-bola qualquer, os pais ficam sentados na mesa e consumindo de forma letárgica os mesmos alimentos - afinal, o que há de melhor para fazer?
Eu
O pai (no caso, eu) normalmente é o mais bem-aventurado nessas ocasiões, afinal é comum que as mães façam amizades com as outras mães, e o pai fica responsável por simplesmente a) levar a família na festa (como bom patriarca que é), b) comprar o presente de aniversário (para mostrar à família do aniversariante que o prejuízo que ele causará ao comer e beber demais não terá sido em vão) e c) sentar na mesa e comer, de forma quase anônima, enquanto filho e mãe socializam. Apesar desses passos simples, o pai precisa se policiar para não comer como se sua vida dependesse daquela refeição, pois aí ele corre o risco de ser o “gordinho misterioso” da festa, aquele que todos os convidados reparam e comentam que está comendo horrores, mas ninguém sabe exatamente quem ele é, com quem veio e qual a criança que está fadada ao sobrepeso caso herde a compulsão paterna.
Eu [2]
Por fim, talvez o sentimento mais triste de ir a aniversários é o dia seguinte: você sempre se lembra, com saudades, daquela coxinha que ficou no prato porque você não aguentou mais, aquele brigadeiro que acabou ou o cupcake que parecia bonito na mesa mas você ficou com vergonha de pegar. O único pensamento possível é “deveria ter comido mais”. Não adianta: aniversários de criança são um paraíso para os gordinhos, e você, enquanto pai, deve honrar a tradição de acompanhar suas crianças nessa empreitada, afinal, ao menos uma vez ao ano, você é que vai financiar essa comilança toda.
sexta-feira, 2 de dezembro de 2016
Desculpem o transtorno: precisamos falar de aborto
POLÊMICA! Talvez o assunto que mais inflame as massas, acima de direita e esquerda, Fla e Flu, bolacha e biscoito, é a questão da legalização do aborto. Nessa semana, o Superior Tribunal Federal (primeira turma) indicou que o aborto no primeiro trimestre de gestação não é crime, independente das razões para tal. Isso ainda vai dar muito pano pra manga, mas a Internet já ficou em polvorosa, com discussões a torto e a direita.
Assunto mais polêmico do que mamilos
Eu não me vejo em posição para opinar, afinal só uma mulher pode dizer quais são os fatores que envolvem uma gravidez indesejada - e a gravidade aumenta com a quantidade absurda de homens covardes, irresponsáveis e negligentes que se acham no direito de não ajudar ou não assumir os seus próprios feitos (afinal, para que uma criança nasça, precisa da participação de um homem e uma mulher, não?). Contudo, na minha posição de SER HUMANO, vejo essa lei como um precedente terrível para o futuro.
"sem útero, sem opinião" - difícil argumentar contra isso
Os argumentos que mais vi nos últimos dias das pessoas que aprovam o aborto são “e em casos de estupro, a mulher é obrigada a arcar com as consequências?”, “meu corpo, minhas regras” e “por que você se importa se a sua vizinha vai abortar? Você se importa se o seu vizinho é homossexual? Cada um que cuide da sua vida!”. O primeiro caso realmente é delicado: o sexo sem consentimento ainda, infelizmente, é um grande problema cultural e de educação não só no Brasil, mas no mundo todo. Quanto à questão do corpo ser da mulher, é verdade - não dá para negar que a mulher é quem carrega (literalmente) todo o peso da gestação, mas há de se lembrar que, dentro desse mesmo corpo, há um outro corpo, e um que não tem culpa de estar lá dentro. E, por fim, se meu vizinho é homossexual realmente não me importa, mas se eu ver ele chutar um cachorro, vou me importar sim.
O que quero dizer com o parágrafo acima é que eu, acima de tudo, sou a favor da vida. Tem gente que crê que, enquanto a criança não é um "serumaninho" com cara de joelho, ele não é uma vida. Que até o terceiro mês, não tem vida naquele embrião. Pois todas as mulheres que conheço que já tiveram um filho e que já conversei sobre o assunto do aborto, discordam (inclusive algumas que antes eram a favor da legalização). A ligação entre mãe e filho, desde os primeiros dias, parece ser algo muito forte, algo que homem algum vai ser capaz de sentir, e por isso mesmo eu creio de olhos fechados quando elas dizem que já no início o seu filho, de corpo e alma, está lá dentro. Estupro, sexo não consentido, o padastro que abusa da enteada, são coisas muito tristes e, apesar de existir métodos contraceptivos e até pílula do dia seguinte de graça em posto de saúde, nem sempre os que mais precisam de proteção ou de uma medida de emergência após um ocorrido trágico conseguem ter acesso aos meios corretos para evitar que um aborto seja levado em conta. Dói no coração de pensar que, talvez, para esses casos extremos, o aborto seja a melhor opção, a fim de não colocar em risco a qualidade de vida tanto da criança quanto da mãe.
Mas sabemos que a legalização do aborto não compete apenas a esses casos - e é aí que eu fico incomodado. A falta de maturidade e de senso de responsabilidade de muitos - principalmente jovens - acaba banalizando o que deveria ser algo divino: a concepção de uma criança. Enquanto existem famílias que lutam desesperadamente para conseguir ter um filho, outros fazem sexo sem se proteger adequadamente e, caso ocorra uma gravidez indesejada, provavelmente terão como primeiro pensamento procurar uma clínica de aborto, afinal a saída mais rápida para fugir de uma responsabilidade é “sumir com o problema”. Conheço histórias lindas de famílias que foram criadas a partir de uma gravidez indesejada (dentro da minha própria família, inclusive) e tenho comigo que nada é por acaso - talvez aceitar ter um filho, mesmo que inesperado, pode ser o “erro de percurso” necessário para a vida de um casal tomar um bom rumo.
Creio que o problema não reside necessariamente na legalização ou não do aborto, mas sim num trabalho educacional - a população precisa entender a importância da prevenção de uma gravidez e as consequências de conceber uma criança. Além disso, a própria cultura da “mulher objeto” precisa ser combatida, de forma que o abuso contra mulheres seja diminuído o máximo possível, e assim não termos mais que discutir o que é melhor para um bebê: ser morto antes de nascer ou nascer num mundo hostil que não está preparado para ele. Mas talvez eu só esteja sendo machista.
P.S.: Para casos de mulheres/meninas que conceberam uma criança de forma indesejada (independente dos motivos) mas que não desejam abortar, existe no Brasil inteiro instituições que auxiliam nos cuidados, nos custos e na saúde da mãe e do bebê, como a Casa Pró-Vida.
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