sexta-feira, 2 de dezembro de 2016

Desculpem o transtorno: precisamos falar de aborto


POLÊMICA! Talvez o assunto que mais inflame as massas, acima de direita e esquerda, Fla e Flu, bolacha e biscoito, é a questão da legalização do aborto. Nessa semana, o Superior Tribunal Federal (primeira turma) indicou que o aborto no primeiro trimestre de gestação não é crime, independente das razões para tal. Isso ainda vai dar muito pano pra manga, mas a Internet já ficou em polvorosa, com discussões a torto e a direita.

Assunto mais polêmico do que mamilos

Eu não me vejo em posição para opinar, afinal só uma mulher pode dizer quais são os fatores que envolvem uma gravidez indesejada - e a gravidade aumenta com a quantidade absurda de homens covardes, irresponsáveis e negligentes que se acham no direito de não ajudar ou não assumir os seus próprios feitos (afinal, para que uma criança nasça, precisa da participação de um homem e uma mulher, não?). Contudo, na minha posição de SER HUMANO, vejo essa lei como um precedente terrível para o futuro.

"sem útero, sem opinião" - difícil argumentar contra isso

Os argumentos que mais vi nos últimos dias das pessoas que aprovam o aborto são “e em casos de estupro, a mulher é obrigada a arcar com as consequências?”, “meu corpo, minhas regras” e “por que você se importa se a sua vizinha vai abortar? Você se importa se o seu vizinho é homossexual? Cada um que cuide da sua vida!”. O primeiro caso realmente é delicado: o sexo sem consentimento ainda, infelizmente, é um grande problema cultural e de educação não só no Brasil, mas no mundo todo. Quanto à questão do corpo ser da mulher, é verdade - não dá para negar que a mulher é quem carrega (literalmente) todo o peso da gestação, mas há de se lembrar que, dentro desse mesmo corpo, há um outro corpo, e um que não tem culpa de estar lá dentro. E, por fim, se meu vizinho é homossexual realmente não me importa, mas se eu ver ele chutar um cachorro, vou me importar sim.

O que quero dizer com o parágrafo acima é que eu, acima de tudo, sou a favor da vida. Tem gente que crê que, enquanto a criança não é um "serumaninho" com cara de joelho, ele não é uma vida. Que até o terceiro mês, não tem vida naquele embrião. Pois todas as mulheres que conheço que já tiveram um filho e que já conversei sobre o assunto do aborto, discordam (inclusive algumas que antes eram a favor da legalização). A ligação entre mãe e filho, desde os primeiros dias, parece ser algo muito forte, algo que homem algum vai ser capaz de sentir, e por isso mesmo eu creio de olhos fechados quando elas dizem que já no início o seu filho, de corpo e alma, está lá dentro. Estupro, sexo não consentido, o padastro que abusa da enteada, são coisas muito tristes e, apesar de existir métodos contraceptivos e até pílula do dia seguinte de graça em posto de saúde, nem sempre os que mais precisam de proteção ou de uma medida de emergência após um ocorrido trágico conseguem ter acesso aos meios corretos para evitar que um aborto seja levado em conta. Dói no coração de pensar que, talvez, para esses casos extremos, o aborto seja a melhor opção, a fim de não colocar em risco a qualidade de vida tanto da criança quanto da mãe.

Mas sabemos que a legalização do aborto não compete apenas a esses casos - e é aí que eu fico incomodado. A falta de maturidade e de senso de responsabilidade de muitos - principalmente jovens - acaba banalizando o que deveria ser algo divino: a concepção de uma criança. Enquanto existem famílias que lutam desesperadamente para conseguir ter um filho, outros fazem sexo sem se proteger adequadamente e, caso ocorra uma gravidez indesejada, provavelmente terão como primeiro pensamento procurar uma clínica de aborto, afinal a saída mais rápida para fugir de uma responsabilidade é “sumir com o problema”. Conheço histórias lindas de famílias que foram criadas a partir de uma gravidez indesejada (dentro da minha própria família, inclusive) e tenho comigo que nada é por acaso - talvez aceitar ter um filho, mesmo que inesperado, pode ser o “erro de percurso” necessário para a vida de um casal tomar um bom rumo.


Creio que o problema não reside necessariamente na legalização ou não do aborto, mas sim num trabalho educacional - a população precisa entender a importância da prevenção de uma gravidez e as consequências de conceber uma criança. Além disso, a própria cultura da “mulher objeto” precisa ser combatida, de forma que o abuso contra mulheres seja diminuído o máximo possível, e assim não termos mais que discutir o que é melhor para um bebê: ser morto antes de nascer ou nascer num mundo hostil que não está preparado para ele. Mas talvez eu só esteja sendo machista.

P.S.: Para casos de mulheres/meninas que conceberam uma criança de forma indesejada (independente dos motivos) mas que não desejam abortar, existe no Brasil inteiro instituições que auxiliam nos cuidados, nos custos e na saúde da mãe e do bebê, como a Casa Pró-Vida.

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