Além da minha cara de criança dificultar a necessidade de passar uma imagem de adulto e pai responsável, eu também não ajudo em nada: tirando momentos em que me visto para trabalhar (política da empresa) e uma vez ou outra para casamentos e formaturas (onde sempre pareço um pajem), meu traje é jeans ou bermuda, chinelo ou all star, camisa de time ou com estampas nerds e, no frio, um moletom de touca que sempre é amarrado na cintura no caso de ficar com calor - algo que minha esposa odeia. Se resolvo colocar um boné então (muitas vezes virado para trás), o traje de moleque fica completo.
Pra se ter uma ideia, faz apenas alguns meses que comprei minha primeira camisa pólo - numa tentativa de minimizar o trabalho de vestir uma camisa social. Par de sapatos eu tenho só um; terno também. Gravata, duas. Aí você pode me perguntar “então por que você não começa a se vestir como um adulto?”. Bem, é simples: me forçar a parecer mais “social” ficaria tão falso quanto as risadas das dançarinas do Faustão na hora das video-cassetadas.
Cara de "é pra isso que tô sendo paga?"
É engraçado de ver como a sociedade parece exigir de nós comportamento e imagem de pessoa madura, mesmo que isso remova parte de nossa personalidade. Há uns 2 anos, trabalhei com uma moça que tinha uma filha pequena - e era toda orgulhosa ao mostrar fotos e contar feitos da criança. Ela, de cabelos curtos e sempre muito bem vestida, sempre me pareceu o retrato de uma mãe responsável e bem alinhada com a vida adulta. Contudo, depois de um tempo de convívio, ela começou a contar histórias de quando era mais jovem, onde assiduamente frequentava uma região da cidade que possuía bares “alternativos” - por assim dizer - e shows de punk rock. Também, aos poucos, descobri que adorava uma cervejinha (comportamento que pode ser recriminado pelos mais puritanos, afinal “onde já se viu uma mãe beber?”) e continuava curtindo o mesmo tipo de música da sua juventude. Mesmo hoje, já sendo pai, ainda não consigo chegar a uma conclusão: ela deixou de ser aquela pessoa que era na juventude de forma natural ou foi necessidade de se tornar uma pessoa mais “socialmente aceitável”? Ou ainda: será que ela é outra pessoa - ou, nesse caso, a “forma” verdadeira - em seu dia a dia, até mesmo fazendo mais sintonia com quem ela sempre foi outrora?
Hora de comprar um terno e um sapato.
Olhe como é fácil estereotipar as pessoas (criança, moleque, mãe, responsável, inconsequente), e como isso é comum para a grande maioria. Eu não pareço um pai, ela não parece uma punk rocker e a Scarlett Johansson não parece ser de verdade. Mas o bacana é ver que, pelo menos pra mim, não mudei minha visão a respeito dessa colega de trabalho: ela continuou parecendo uma mãe responsável e madura, independente de qualquer coisa. Por isso não pretendo começar a usar mocassim, comprar mais gravatas ou usar camisas pólo no dia a dia. Também não pretendo amarrar meu pullover na altura do pescoço e nem colocar um blazer pra ir ao mercado. Talvez eu pareça ser um moleque porque, no fundo, eu realmente sou um. Mas isso não faz de mim um mau pai - embora a sociedade se dê o direito de julgar o contrário.