quarta-feira, 29 de abril de 2015

Tu é moleque!

Além da minha cara de criança dificultar a necessidade de passar uma imagem de adulto e pai responsável, eu também não ajudo em nada: tirando momentos em que me visto para trabalhar (política da empresa) e uma vez ou outra para casamentos e formaturas (onde sempre pareço um pajem), meu traje é jeans ou bermuda, chinelo ou all star, camisa de time ou com estampas nerds e, no frio, um moletom de touca que sempre é amarrado na cintura no caso de ficar com calor - algo que minha esposa odeia. Se resolvo colocar um boné então (muitas vezes virado para trás), o traje de moleque fica completo.



Pra se ter uma ideia, faz apenas alguns meses que comprei minha primeira camisa pólo - numa tentativa de minimizar o trabalho de vestir uma camisa social. Par de sapatos eu tenho só um; terno também. Gravata, duas. Aí você pode me perguntar “então por que você não começa a se vestir como um adulto?”. Bem, é simples: me forçar a parecer mais “social” ficaria tão falso quanto as risadas das dançarinas do Faustão na hora das video-cassetadas.

Cara de "é pra isso que tô sendo paga?"


É engraçado de ver como a sociedade parece exigir de nós comportamento e imagem de pessoa madura, mesmo que isso remova parte de nossa personalidade. Há uns 2 anos, trabalhei com uma moça que tinha uma filha pequena - e era toda orgulhosa ao mostrar fotos e contar feitos da criança. Ela, de cabelos curtos e sempre muito bem vestida, sempre me pareceu o retrato de uma mãe responsável e bem alinhada com a vida adulta. Contudo, depois de um tempo de convívio, ela começou a contar histórias de quando era mais jovem, onde assiduamente frequentava uma região da cidade que possuía bares “alternativos” - por assim dizer - e shows de punk rock. Também, aos poucos, descobri que adorava uma cervejinha (comportamento que pode ser recriminado pelos mais puritanos, afinal “onde já se viu uma mãe beber?”) e continuava curtindo o mesmo tipo de música da sua juventude. Mesmo hoje, já sendo pai, ainda não consigo chegar a uma conclusão: ela deixou de ser aquela pessoa que era na juventude de forma natural ou foi necessidade de se tornar uma pessoa mais “socialmente aceitável”? Ou ainda: será que ela é outra pessoa - ou, nesse caso, a “forma” verdadeira - em seu dia a dia, até mesmo fazendo mais sintonia com quem ela sempre foi outrora?

Hora de comprar um terno e um sapato.


Olhe como é fácil estereotipar as pessoas (criança, moleque, mãe, responsável, inconsequente), e como isso é comum para a grande maioria. Eu não pareço um pai, ela não parece uma punk rocker e a Scarlett Johansson não parece ser de verdade. Mas o bacana é ver que, pelo menos pra mim, não mudei minha visão a respeito dessa colega de trabalho: ela continuou parecendo uma mãe responsável e madura, independente de qualquer coisa. Por isso não pretendo começar a usar mocassim, comprar mais gravatas ou usar camisas pólo no dia a dia. Também não pretendo amarrar meu pullover na altura do pescoço e nem colocar um blazer pra ir ao mercado. Talvez eu pareça ser um moleque porque, no fundo, eu realmente sou um. Mas isso não faz de mim um mau pai - embora a sociedade se dê o direito de julgar o contrário.

quinta-feira, 23 de abril de 2015

Tédio x Imaginação


Quem me conhece ou acompanha o Um Ser Pai há um tempo deve saber o quanto sou contra o uso de gadgets e parafernalhas para distrair as crianças. Basta um passeio no shopping para ver a quantidade de crianças (na praça de alimentação, por exemplo) com um iPad ou um celular, brincando de joguinhos enquanto a família interage entre si. Essa necessidade que os pais veem em matar o tédio da criança (talvez para não precisar se importunar com elas) está acabando com uma das fontes mais importantes de entretenimento que uma criança pode ter: a imaginação.

Iiiimagiiinaçããoooo!

O artigo em que tenho me baseado dá exemplo do tédio durante uma viagem de carro (algo que hoje é “facilmente” erradicado com DVD players e celulares), e isso me fez lembrar como eu me comportava quando era um pequeno bacuri: ficava olhando os outros carros, fingindo que estávamos numa corrida, ou então vendo as placas deles e tentando montar frases ou nomes com as siglas. Quando chovia, fazia disputas entre os pingos d’água que corriam pela janela. Outros casos envolvem encontros entre adultos nos quais meus pais precisavam me levar, fosse em família ou em amigos, e eu tinha que dar um jeito de me distrair - e até onde me lembro, conseguia fazer isso sem encher o saco deles. A necessidade de combater o tédio era o maior combustível para a minha criatividade - até mesmo quando estava em casa.

Esse, por exemplo, seria o carro do Sílvio Santos

Por isso, pretendo evitar a exposição do meu filho a esses apetrechos tecnológicos, ou até mesmo a ligar um desenho no Netflix e deixá-lo lá, hipnotizado, enquanto passam 500 tipos de desenhos diferentes. Será fácil? Duvido muito, pois hoje já deixamos ele no cercado com vários brinquedos para podermos ter tempo para executarmos nossas tarefas ou até mesmo ligar um filme e ter um momento “só nosso”. Contudo, há uma diferença básica entre criar uma distração (com um celular, por exemplo) ou forçar uma distração (deixando claro que naquele momento não dá para dar atenção à criança). A primeira opção parece ser o caminho mais simples, mas também o mais provável de criar uma pessoa alienada e imediatista, que se frustra facilmente ao não conseguir o que quer pelos meios mais simples.

sábado, 18 de abril de 2015

Naninha

Dentre todos os mistérios que envolvem o comportamento dos bebês, o mais difícil de entender é a briga na hora de dormir. Seja uma soneca depois do almoço ou à noite, o bebê parece não querer admitir que está com sono e prefere brincar, brigar e chorar ao invés de se entregar aos doces sonhos.

"zzzz... OBA! ... zzzz..."



A bateria dos bebês é exatamente como gostaríamos que as dos nossos notebooks se comportasse: ao invés de dar um aviso de “a bateria está com apenas 10% de carga”, para dali a 30 segundos apagar a tela, os bebês praticamente dizem “a bateria está com apenas 3% de carga, mas vou fazer de tudo pra esses 3% valerem por 30!”.


bateria acabando? CORRE PEGAR O CARREGADOR!


Ah, se eles soubessem a briga que vai ser pra acordar pra ir àquela aula de história da arte às 7h30 da manhã de uma segunda-feira chuvosa de Agosto, ou como aguardarão ansiosamente por aquele sábado após uma semana inteira de trabalho para, enfim, dormir 8h seguidas. Ou então, se soubessem a bênção dos céus que é poder desfrutar de um feriadão de quatro dias igual a este que estamos, nem que seja para não fazer nada, apenas descansar…


Concordo, Chapolin


Mas não, eles não sabem que dormir está entre os maiores prazeres que Deus criou. Dormir é tão bom que até Ele descansou no sétimo dia, provavelmente porque pensou “preciso aproveitar antes que não me deixem mais em paz!”. Melhor ainda que dormir, é comer e dormir. Aí o ciclo está completo: aquela dormidinha depois do almoço de domingo deveria ser lei - e quem perturbar esse sono deveria ser punido e jogado na masmorra (principalmente se for algum agente de telemarketing).


MASMORRA.


Quem sabe um dia a humanidade descubra o motivo pelo qual os bebês preferem ficar horas reclamando e erguendo a cabeça para logo depois deitá-la no local mais próximo - como quem luta com o fim de suas forças contra um inimigo poderoso - a simplesmente dormir. Bebês, o sono não é seu inimigo, pelo contrário: é um amigão. Um amigão com quem você vai ter desejado ter passado mais tempo quando chegar à idade adulta.

segunda-feira, 13 de abril de 2015

Bife com batata frita

Continuando a série de textos, hoje falarei sobre a alimentação da criança. Não sei quantas vezes já ouvi pais e mães dizendo que o filho não gosta de feijão, não gosta de carne de porco, não gosta de alface, e por aí vai. Por isso, servem sempre o mesmo tipo de comida (como o artigo, que dá exemplo de macarrão, bife e batata frita). Pior ainda: tem os que levam o filho para almoçar num Mc Donalds da vida, ou então que dá uma bolacha recheada ou um Doritos pra criança comer depois do almoço porque, como não comeu muito, vai ficar com fome. Sinto lhes dizer, mas provavelmente estão criando um futuro Nhonho.


“Olha ele! Olha ele! Olha ele!”


Quando eu era criança, não tinha muita opção de salada no dia a dia. Por isso, não era uma criança do tipo que comia muitas verduras ou legumes (embora adorasse uma sopa de legumes que minha vó fazia). Fui pegar gosto por salada só quando já tinha mais idade, mas o outro quesito - o de dar bobagens para comer - nunca foi uma regra em casa. Meus pais não eram de comprar salgadinhos, bolachas e afins, e sempre comíamos a mesma comida, sem frescuras (a não ser quando era fígado. ECA, fígado). O problema é quando eu ia para a casa dos avós, ou meus tios me levavam para sair, pois aí era sanduíche, bolacha, salgadinhos e tudo o que uma criança ama, mas deveria consumir pouco. Então, na minha cabeça, ficou bem explícito: comer porcaria é um prazer, mas não deve ser a base da alimentação.


ECA.


Aqui em casa eu suponho que teremos um problema mais além: enquanto minha esposa quer que o nosso guri esteja aquém de refrigerantes, bolachas e salgadinhos, além de lanches gordurosos e afins, eu acredito que uma hora ou outra ele vai acabar sendo apresentado a tudo isso, seja pelos tios, pelos colegas da escola ou na casa de um amiguinho - e por isso não adianta tentar deixá-lo sem conhecer a porcariada. Aqui em casa raramente consumimos refrigerantes e comidinhas industrializadas, mas de vez em quando nos damos ao luxo, e acredito que esse é o caminho: comer de tudo, mas priorizar o que faz bem. O sonho, claro, é que o meu filho faça igual a meu sobrinho: quando ele tinha mais ou menos 5 anos, levei uma pizza para a casa deles e, assim que abri a caixa, ele exclamou “pô, tio! Cadê o brócolis?”.


segunda-feira, 6 de abril de 2015

Dodói

Esse fim de semana tivemos nossa primeira experiência de filho doente. Eu, particularmente, fico contente pelo primeiro causo médico acontecer apenas aos 9 meses, levando em conta o fato dele ser prematuro e afins. E até o momento posso dizer que, de todas as novas experimentações que a paternidade já me proporcionou, levar o filho ao hospital foi a pior delas.


O fato de ter acordado de madrugada com o choro, vê-lo amuado e dengoso por causa da febre e de supostas dores corporais não é nem de longe o pior, pois é algo que você já tem que ter em mente quando assina o pacote “Meu Filho, Minha Vida”. Nenhum ser humano é totalmente protegido contra doenças (a não ser o Wolverine). Por isso já estava meio preparado para o momento que isso fosse acontecer.


O pai dele com certeza foi um cara de sorte


A complicação se inicia assim que se pisa dentro do hospital: uma sala de espera da recepção, com pouca ventilação e cheia de outras crianças, em melhor ou pior estado que o seu, mas também doentes. Após um bom período aguardando para ser atendido, somos encaminhados para a sala de espera do atendimento. Uma fila para a triagem, um sistema de som estridente informando o nome do próximo a ser atendido e uma nada otimista tela mostrando a média de demora para atendimento. O pior é que o sentimento é de que o cenário é o mesmo em praticamente qualquer hospital pediátrico.


Hospital pediátrico > Bolsa de Valores NY


Mas o combo completo ainda estava por vir: após tirarmos no palitinho, minha esposa foi acompanhar o guri e eu fiquei na sala de espera, onde várias crianças choravam, esperneavam e corriam de um lado a outro. Algumas nem pareciam doentes, e outras pareciam fazer mais escândalo do que o necessário para sua condição. Estava até conseguindo abstrair bem tudo isso, até o momento que começou a passar um filme da Barbie na TV. UM MALDITO FILME DA BARBIE! Aí eu queria correr, fugir, me abaixar em posição fetal no canto da sala e ficar repetindo pra mim mesmo “é apenas um sonho! É apenas um sonho!”.


“Nãoooo, Barbie nãoooo!”

Quando finalmente fomos liberados, e eu e minha esposa começamos a debater para quem foi pior a experiência - e não chegamos a um veredito. Nessa primeira aventura, de mais ou menos duas horas, saímos vivos, saudáveis e com um bom diagnóstico: era apenas uma febre, afinal. Ele ficou tristinho pelo resto do dia, mas no dia seguinte já estava melhor. Por fim, ficou apenas a lembrança ruim. Agora precisamos nos preparar psicologicamente para a próxima vez - sem filme da Barbie, se Deus quiser.