terça-feira, 26 de maio de 2015

Aprenda com seu velho



Embora eu me esforce para tentar me transformar num pai de verdade, fazendo coisas como usar a furadeira, trocar o botijão de gás, consertar o degrau da escada que quebrou e arrumar a buzina do carro, tem certas que é quase um tradicional “passar de pai para filho” que nunca conseguirei fazer.


Nessa a gente manda bem


- Pescar
Eu não sei pescar. A última vez que pesquei deve ter sido com, no máximo, 10 anos, com varinha de bambu e pegando lambaris e baiacus - que eu jogava de volta no mar, já que não dá para comer. Nunca aprendi e provavelmente nunca aprenderei a usar molinete. Não sei diferenciar peixe de água doce e de água salgada. Não sei o que usar de isca - provavelmente tentaria uma minhoca (como mostram nos desenhos) ou um pedaço de chocolate (afinal, quem não gosta de chocolate, não é?). Por mais que meu pai saiba pescar, nunca aprendi com ele - e, por consequência, meu filho também não saberá. Pelo menos não por minhas mãos.


Certeza que ia funcionar!!


- Estilingue
A única vez em que brinquei de estilingue foi quando era muito criança, na casa do meu avô. Ele tinha um - por algum motivo - e eu tentei usar. Foi um desastre. Não sabia direito como puxar a pedrinha sem derrubá-la, minha mira era (é) uma desgraça e nunca conseguia calcular o tanto de força para usar. Embora estilingue seja algo meio destrutivo para entregar na mão de uma criança, eu ainda acho que é o tipo de coisa que um pai ensina para o filho.


Expectativa
Realidade


- Pipa
Esse é bem vergonhoso. Eu nunca empinei uma pipa na vida. Sequer montei uma. Embora eu saiba a teoria (papel crepom ou sacola, gravetos, cola e fio), não faço ideia de como funcione na prática. Provavelmente eu correria contra o vento e a pipa cairia no chão - ou no vizinho. Não sei como que solta o fio e muito menos por que devemos ficar puxando o fio de vez em quando. Não sei a diferença entre pipa, papagaio, arraia e pandorga - se é que elas são diferentes.


História da minha vida

- Fazer a barba
Sabe aquela cena clássica de filme, onde estão o pai e o filho na frente do espelho, de toalha na cintura e espuma de barbear no rosto? Pois é. Eu não tenho barba. O pouco que nasce em mim, consigo tirar com um pouco de sabonete e uma passada de barbeador. Uma lâmina de barbear dura uns 3 meses pra mim. Eu posso mostrar pra ele a teoria - ou mostrar algum tutorial no Youtube - mas não vou poder fazer o tradicional bigodón ou “metade-barba-metade-liso”.

Único motivo para deixar a barba crescer

- Jogar futebol
Minha habilidade futebolística é quase nula. Embora adore jogar, fico apenas no “muito esforço, pouco retorno”. Semana passada fiz um gol e quase  fiz a comemoração do Bebeto, tirei a camisa e corri pra galera - de tão raro que é tal acontecimento - enquanto qualquer outro jogador que marque um tento apenas bate 3 palminhas e volta pro meio de campo. Embora eu ainda confie no sucesso da canhotinha de ouro do meu guri, acredito que vou ter que ficar só no papel de técnico, ensinando a teoria e as táticas.

"- É TETRAAAAA! É PRA VOCÊ, FILHÃO!!!"
"- Calma aí, fera, foi só um gol."

Apesar de tudo isso, sei que há muito que posso ensinar para ele, desde tocar violão até andar de bicicleta, passando por cozinhar bolinho de chuva e fazer programas para computador (coisa que minha esposa não deseja para ele nem como último recurso, devido à visível perda de sanidade que me afeta por causa de tal prática). Ainda assim, fico triste de saber que o legado da minha família termina comigo quando o assunto é qualquer um dos tópicos acima. Mas, como diriam os Beatles, “life goes on”.


quinta-feira, 21 de maio de 2015

E volta o cão arrependido...

Acho que muitos aqui que tem filho pequeno já responderam determinadas perguntas mais vezes do que “presente” na escola, pois quase todo mundo que conhece a criança acaba perguntando exatamente as mesmas coisas. Eu já estou pensando em fazer uma estampa de camiseta com as seguintes frases:

  • É menino.
  • O nome dele é <insira nome da criança aqui>;
  • Tem X meses;
  • Sim, ele é bem calmo;
  • Sim, ele é observador;
  • Sim, ele é pequeno;
  • Nasceu prematuro;
  • Usa bota porque nasceu com os pés tortos;
  • Usará o dia todo até começar a andar, depois é só para dormir;
  • Até os 3 anos;
  • Não vai precisar de fisioterapia;
  • Já come papinha;
  • Não mama mais no peito;
  • Dorme bem à noite;
  • É fofo;
  • Sim, eu sou o pai;
  • Sim, eu sou maior de idade.


Essa é boa também

Claro, é brincadeira. Normal todos ficarem curiosos, e não faz mal ter que responder tudo isso todas as vezes. Mas uma camiseta facilitaria o trabalho, não? Ou, quem sabe, fazer uma conta do Facebook.

“- Quantos meses ele tem?”
“- Entra lá no Face dele, tem todas as informações lá!” (grosso)
"ainda não sei falar, mas já tenho Facebook"

Bebês são imãs de gente, então você que é futuro pai ou futura mãe, saiba que farão da vida da criança um verdadeiro Big Brother, querendo saber cada detalhe. Mas o mais impressionante disso é que você não se importará de contá-los e mostrar fotos e vídeos toda vez, pois é gostoso falar sobre seu filho. Mas, continuo afirmando: a ideia da camiseta é boa.

sexta-feira, 15 de maio de 2015

Clube do Bolinha

Há algumas semanas saí sozinho com meu filho pela primeira vez. Minha mulher encarnou o espírito de Amélia e mandou eu e o guri sair de casa e não voltar até o fim da tarde. Assim, nós dois partimos em uma aventura recheada de adrenalina, ambição e luxúria. Mentira, apenas fomos na casa de um amigo jogar conversa fora.

Party Hard!


A quem possa estar preocupado com a saúde física e mental do garoto depois disso: não esquentem, ficou tudo bem. Foi trocado na hora que tinha que ser trocado, comeu quando estava com fome e até recebeu conselhos de vida de um amigo meu, tudo devidamente guardado em vídeo, para que ele possa relembrar as sábias palavras quando for mais velho. Ele voltou são e salvo para casa, apesar da surpresa de muitos que souberam da história depois.

Não é beeeem assim...

Socialmente falando, parece estranho, bizarro e até assustador que o pai saia sozinho com o bebê em determinados momentos. A primeira coisa que fazem é perguntar onde está a mãe. Depois, pensam nos piores motivos para ela não estar junto, desde acidentes de trânsito até achar que a mãe é desnaturada e não ama seu rebento. Após todos os julgamentos - mesmo que apenas por pensamento - perguntam se o pai precisa de ajuda, já imaginando que ele é apenas um fornecedor de esperma inconsequente que não sabe como cuidar da criança porque nunca brincou de boneca na infância, ou porque não tem o precioso instinto materno.

Acredite no instinto paterno


Para minha sorte, meus amigos são mente aberta e encararam - assim como eu - com naturalidade aquele momento. Afinal, por que o pai não pode sair sozinho com seu filho? Não muda absolutamente nada - salvo quando o bebê ainda precisa do leite materno. O pai sabe (ou, ao menos, deveria saber) quais são as necessidades da criança e como resolvê-las. Conheci há algumas semanas um casal que não teve como deixar a criança sob os cuidados de ninguém após acabar a licença maternidade, e como a mãe era concursada, coube ao pai abandonar o emprego para ficar em casa. Pode causar estranheza no princípio, mas logo depois você para e pensa “por que não?”.

Não é beeeem assim... [2]


Sair com o bebê é uma forma bacana do pai aumentar o vínculo com o filho no começo da vida - e por mais que no princípio ele normalmente fique bem mais com a mãe, esse estreitamento de laços com o pai tende a ser muito importante para a criança no futuro. Eu acho, pelo menos.

domingo, 10 de maio de 2015

Um ser mãe

Sempre coloco aqui o meu ponto de vista de pai, mas é importante também olhar com a devida o esforço d ser mãe, afinal é ela que levanta de madrugada para dar de mamar, que fica em casa praticamente o dia inteiro, vivendo em função do filho e adaptando seu próprio horário para se adequar às necessidades do rebento, e aquela que se transforma aos poucos em um zumbi.


É um pouco difícil para mim - enquanto pai/homem/ser do sexo masculino - entender como, apesar de todo o esforço atrelado à mãe nos primeiros meses de vida da criança, ela ainda diz que não mudaria em nada a decisão de gerá-la e cuidá-la. Acredito que seja algo biológico, afinal tem muitas coisas que só a mãe consegue fazer, por exemplo:

- Achar onde está aquele par de meias, a fronha que faz conjunto com o lençol ou então onde ficou aquele coiso que tava dentro da parada que fica em cima do baguio, graças ao seu GPS acoplado e seu vasto banco de dados mental que guarda informações de tudo que existe dentro de casa;


É sempre assim... 
- Mexer na máquina de lavar (como pode um aparelho com no máximo 2 botões ser tão complexo???);


- Acalmar instantaneamente a cria desesperada. Ele chora no berço, chora no colo do pai, do tio e do vizinho, no cercadinho e no carrinho de bebê, mas basta a mãe pegar e em 10 segundos ele já está calmo;


Comida também causa o mesmo efeito, de vez em quando

- Ser auto-imune a gripes e doenças em geral, mesmo quando os filhos estão sofrendo e o pai está quase em estado terminal;


- Saber como pedir aquela coisa complicada e difícil para o pai. Quem nunca chegou pra mãe e disse “ô, manhêêê, pede pro pai <insira um pedido que te dá um incrível medo de negação>, pufavô?”. Na verdade, pedir praticamente qualquer coisa para a mãe é mais fácil.


Esses são apenas alguns exemplos da importância e do poder que as mães carregam, e por isso hoje é o dia delas. Mães que também são pais são fáceis de encontrar por aí, mas um pai que também consegue ser é mãe é algo raríssimo, pois ele tem que todo dia lutar muito para conseguir chegar no mesmo patamar.

quarta-feira, 6 de maio de 2015

Elogios


Como último - mas não menos importante - texto sobre o artigo do blog Papo de Homem, está um assunto que posso falar bem das consequências, pois sou alvo delas: a política do “só elogios”.

Hoje os pais tem como verdade absoluta que seu filho é melhor que qualquer outra criança - ou adulto. Elogiam tudo o que ele faz, aplaudem as conquistas e contestam quem os aponte uma falha. Não parece tão errado, certo? Afinal, você tem que trabalhar na auto estima do seu filho e fazê-lo acreditar que pode alcançar qualquer coisa. Mas como nenhum de nós é perito em psicologia (a não ser os pais peritos em psicologia, mas esses provavelmente não fazem isso), acabamos pecando num fator muito importante: o excesso de elogios causa, na verdade, MEDO. Medo de não ser tão bom sempre, de não conseguir ser melhor, de não conseguir superar as expectativas.

Um agravante considerável dá-se quando os pais “superprotegem” a cria: Se a professora dá uma nota ruim, eles reclamam da professora; se a vizinha reclama que o garoto puxou o rabo do cachorro, brigam com a vizinha, porque deixou o cachorro muito perto do pentelhinho, e ainda dão um chute no bicho; se brigou com algum coleguinha, não buscam nem saber o motivo e já esculacham a outra criança. Na visão desses pais, seu filho é perfeito e infalível.


Meus pais me deram uma boa educação e me ensinaram a lutar pelo que quero (já dei alguns exemplos por aqui). Mas também já falei em textos anteriores que eu nasci pro bullying por N motivos, e um deles era por ser “nerd”, “CDF”, “caxias” ou qualquer outro sinônimo de alguém que tira boas notas. Minha mãe e tias, tios e parentes constantemente falavam sobre “como é inteligente esse menino”. Mas aí eu fui fazer faculdade de exatas - ou seja, um bando de crânios estudando no mesmo lugar. Se antes eu já tinha minhas inseguranças quanto à minha condição, imagina “competindo” com gente que chegou a fazer estágio na Microsoft? E isso continuou após conseguir meu primeiro emprego na área, e nos empregos seguintes. Na verdade, até hoje eu boto essa tal inteligência em cheque: será que eu sou (era) tudo aquilo mesmo? Será que eu consigo ser melhor que sou hoje, mas tenho medo de arriscar?

“Inteligente é o novo sexy” - pois é… Já eu, peguei a época negra da história

Conheço alguns recém-adolescentes que se cobram muito, provavelmente resultado desse tipo de comportamento dos pais. Esse talvez seja o ponto mais delicado em relação a como lidar com as nossas crianças: qual o ponto exato entre elogiar, mostrar que a criança está fazendo um bom trabalho, e estimulá-la a se esforçar mais? A vida é dura e surra quem se frustra com facilidade. Por mais que não queiramos que nossos filhos sofram com qualquer coisa, temos que entender que, em algum momento, a vida vai dar porrada, e ele vai ter que saber se levantar.

A vida é a rosquinha e nós somos o cachorro.