quarta-feira, 6 de maio de 2015

Elogios


Como último - mas não menos importante - texto sobre o artigo do blog Papo de Homem, está um assunto que posso falar bem das consequências, pois sou alvo delas: a política do “só elogios”.

Hoje os pais tem como verdade absoluta que seu filho é melhor que qualquer outra criança - ou adulto. Elogiam tudo o que ele faz, aplaudem as conquistas e contestam quem os aponte uma falha. Não parece tão errado, certo? Afinal, você tem que trabalhar na auto estima do seu filho e fazê-lo acreditar que pode alcançar qualquer coisa. Mas como nenhum de nós é perito em psicologia (a não ser os pais peritos em psicologia, mas esses provavelmente não fazem isso), acabamos pecando num fator muito importante: o excesso de elogios causa, na verdade, MEDO. Medo de não ser tão bom sempre, de não conseguir ser melhor, de não conseguir superar as expectativas.

Um agravante considerável dá-se quando os pais “superprotegem” a cria: Se a professora dá uma nota ruim, eles reclamam da professora; se a vizinha reclama que o garoto puxou o rabo do cachorro, brigam com a vizinha, porque deixou o cachorro muito perto do pentelhinho, e ainda dão um chute no bicho; se brigou com algum coleguinha, não buscam nem saber o motivo e já esculacham a outra criança. Na visão desses pais, seu filho é perfeito e infalível.


Meus pais me deram uma boa educação e me ensinaram a lutar pelo que quero (já dei alguns exemplos por aqui). Mas também já falei em textos anteriores que eu nasci pro bullying por N motivos, e um deles era por ser “nerd”, “CDF”, “caxias” ou qualquer outro sinônimo de alguém que tira boas notas. Minha mãe e tias, tios e parentes constantemente falavam sobre “como é inteligente esse menino”. Mas aí eu fui fazer faculdade de exatas - ou seja, um bando de crânios estudando no mesmo lugar. Se antes eu já tinha minhas inseguranças quanto à minha condição, imagina “competindo” com gente que chegou a fazer estágio na Microsoft? E isso continuou após conseguir meu primeiro emprego na área, e nos empregos seguintes. Na verdade, até hoje eu boto essa tal inteligência em cheque: será que eu sou (era) tudo aquilo mesmo? Será que eu consigo ser melhor que sou hoje, mas tenho medo de arriscar?

“Inteligente é o novo sexy” - pois é… Já eu, peguei a época negra da história

Conheço alguns recém-adolescentes que se cobram muito, provavelmente resultado desse tipo de comportamento dos pais. Esse talvez seja o ponto mais delicado em relação a como lidar com as nossas crianças: qual o ponto exato entre elogiar, mostrar que a criança está fazendo um bom trabalho, e estimulá-la a se esforçar mais? A vida é dura e surra quem se frustra com facilidade. Por mais que não queiramos que nossos filhos sofram com qualquer coisa, temos que entender que, em algum momento, a vida vai dar porrada, e ele vai ter que saber se levantar.

A vida é a rosquinha e nós somos o cachorro.

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