segunda-feira, 2 de março de 2015

A ameaça felina

Parece que estou fadado a vivenciar causos com animais de rua. Em uma mescla entre a história da cachorra louca e a do cão branco abandonado, semana passada foi a vez de um gato. Uma gata, na verdade. Desde cedo minha esposa disse que a gata estava rondando a vizinhança, perdida e assustada. Era filhote ainda. À noite começou uma chuva forte, e a gata fugiu para debaixo do meu carro. Os cachorros da casa queriam o couro dela, por isso ela começou a miar, desesperada.

Olha a cara da safada.


Corações moles que somos quando o assunto é animais, resgatamos a gata amedrontada e prometemos a nós mesmos que iríamos soltá-la assim que a chuva acabasse. Mas quis o destino que, em uma conversa descontraída pelo Facebook, uma conhecida nossa quisesse ficar com a gata, mas disse que só poderia ir até a nossa casa para pegá-la no fim do dia seguinte. Aí é que começou um exercício de “gestão de felino em uma casa com bebê e cachorros”.


Segura!


Não poderíamos deixá-la na parte de fora, pois os cães iriam matá-la ou ela poderia fugir; não queríamos mantê-la solta na casa, fazendo o que quisesse, pois eu sou alérgico a gatos, e como pobre só herda as desgraças dos pais, provavelmente meu filho também deve ser - e pêlos de gato por cima do sofá que a criança fica brincando não seria nada agradável. Além disso, sabemos que o bicho pode ser arisco, e a qualquer momento poderia acabar machucando o guri também (que provavelmente tentaria dar uma puxada no rabo do bichano).


… Ou poderia também nos executar sumariamente enquanto dormimos...


Assim, passamos o dia vigiando a gata, seguindo-a em todos os lugares que ela ia e sempre tirando de cima dos locais onde o guri normalmente fica. Dormiu dentro do box do banheiro (muito a contra gosto) e passou boa parte do dia deitada num canto recluso da casa. Sabe o pior da história? Meu filho adorou o bicho. Olhava pra ela e começava a rir, queria passar a mão, puxar os pêlos ou qualquer coisa que a fizesse interagir com ele. E a gata gostou - inclusive fechou os olhinhos pra receber o que podemos chamar de “carinho” (mas que na verdade eram puxões).


Isso aconteceu umas duas vezes, pelo menos


Quando o dia já estava terminando, veio a notícia: a pessoa não ia mais ficar com a gata, pois a mãe havia proibido. E estava chovendo mais uma vez, e forte. Dilema à vista: como proceder? Larga a gata na chuva? Fica mais uns dias com ela - vigiando seus passos? Adota de uma vez - correndo o risco de morrer na boca de um dos cães, machucar nosso filho ou desencadear uma crise alérgica familiar?

A solução foi a mais racional possível: colocamos a gata no quintal dos fundos, com água e comida. Se ela quisesse ir embora após a chuva passar, tudo bem. Se ela quisesse ficar por ali, mas sem acesso à nossa casa, tudo bem também. Se ela preferisse passear pela vila e voltar ali de vez em quanto pra fazer uma boquinha, não tinha problema. No fim, ela foi embora, e não voltou. Esperamos que ela tenha reencontrado o caminho de casa ou alguém com mais recursos para ficar com ela. Mas pra nós, aqui, a prioridade sempre será o bem estar do nosso filho, por mais que ele tenha adorado a gata - e nós também, de certa forma.

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