quarta-feira, 20 de dezembro de 2017

Deixamos a cria em casa!

No início do mês eu e minha esposa fizemos algo que muitos poderiam recriminar: deixamos nosso filho em casa, com a vó, e viajamos para a Disney.

e conhecemos todos eles


As “desculpas” para tal, no entanto, são plausíveis: ele tem apenas 3 anos e dificilmente aproveitaria (ou até mesmo guardaria lembranças) a viagem. Fomos porque conseguimos um bom negócio e era um sonho antigo do casal. Pretendemos levar o filho (ou filhos) quando tiverem mais idade, para curtir tudo o que é possível, e não queríamos chegar lá, inexperientes, frente a um país novo e novos costumes e acabar passando por perrengues desnecessários - coisas que aconteceram na viagem de agora e que provavelmente não acontecerão na próxima, pois aprendemos.

“← perdido / → muito perdido”
No entanto, ainda doeu no coração deixá-lo. Doeu por repassarmos a responsabilidade de cuidar dele para outra(s) pessoa(s). Doeu por ficarmos tantos dias longe. Doeu por saber que fomos sem ele num lugar para crianças. Doeu porque foi uma viagem cara e o dinheiro poderá, no futuro, fazer falta diante de alguma necessidade dele.


Desculpa a gente?


Ainda assim fomos surpreendidos positivamente com a aprovação geral de familiares e amigos que souberam da viagem. Todos entenderam nossas motivações e nos apoiaram no intuito de termos essa experiência, termos um tempo de casal para nós e, por que não, termos uma “folga” do dia-a-dia de ter uma criança pequena para cuidar.

O peso na consciência finalmente se esvaiu quando voltamos e vimos que ele ficou bem, não deu sustos e nem trabalho e ainda mal parecia ter sentido nossa falta. Creio que todos os presentes e cacarecos que compramos para ele durante a viagem acabem por zerar de vez o nosso débito com o guri.

Foi uma experiência única, gostosa, cansativa e gratificante. Deixo aqui publicamente agradecimentos a quem ajudou a cuidar do bacuri, a quem nos apoiou a fazer a viagem e à minha irmã, que fez tudo acontecer. Fica o desejo de, no futuro, poder ir mais uma vez para a terra do Mickey - com nosso filho na bagagem, claro.


sexta-feira, 1 de dezembro de 2017

Um filho especial


“Mas ele é perfeitinho, doutor?” é provavelmente a pergunta que os médicos mais ouvem durante um ultrassom. A razão é óbvia: nada amedronta mais os “pais grávidos” do que a incerteza que seu filho nascerá com saúde. Contudo, às vezes acontece - se não no nascimento, no decorrer da infância. E precisamos aprender a lidar com isso, sendo os principais envolvidos ou apenas como terceiros num relacionamento de amizade ou familiar com quem convive diariamente com esse desafio.


Basicamente há 3 tipos de reação quando as pessoas descobrem que nosso filho tem necessidades especiais (se você não sabia, leia o relato aqui):
  1. As que não têm a mínima noção da gravidade da situação (“nossa, 3 anos e ainda não anda?”, “minha filha já falava tudo com 2 anos” ou “a prima da irmã da minha amiga tem um filho com 3 anos que escreveu um livro em mandarim”);
  2. As que acham que é bem mais grave do que realmente é (“mas ele consegue comer normalmente?”, “ele reconhece vocês?” ou “OI NENÉM TUDO JÓIA?” - isso sendo falado bem alto e lentamente, como se falasse baleiês);
  3. As que, mesmo que não entendam exatamente o que aconteceu e quais as consequências disso, ao menos questionam e tentam compreender.


Por óbvio, não é sempre que acabamos ouvindo as reações diretamente da boca da pessoa, mas apenas o olhar dela já é capaz de exibir em qual das alternativas acima ela se encaixa.  E acredite: sabemos que não é por mal, afinal entendemos que não é uma situação comum e é difícil saber como agir em frente a um fato novo. Nós mesmos provavelmente já fizemos esse olhar para alguém que passa por algo parecido. Muitas vezes nós, como pais, somos alvos do mesmo olhar de pesar, como se o mundo tivesse desabado na nossa cabeça.


Na verdade, desabou sim. Há um ano e meio atrás, era assim que nos sentíamos, mas também sabíamos que o guri dependia de nós, que se não nos puséssemos de pé e tirássemos os escombros de cima de nós, ele nunca conseguiria fazer o mesmo sozinho. Mas hoje já aprendemos a lidar com a situação e, mesmo que muitas vezes ainda nos machuque lembrar ou ver que ele ainda não chegou à evolução desejada, posso garantir que cuidar dele é bem mais fácil do que a grande maioria dos conhecedores da nossa situação acham que é.


Costumamos dizer que ele “nasceu de volta” após o ocorrido, e o engraçado é que hoje, mesmo com quase 3 anos e meio, ele me parece muito com uma criança entre 1 ano e meio e 2 anos: está perto de voltar a andar sozinho (já dá passos independentes, mas se desequilibra com facilidade), já fala algumas palavras mais fáceis e está aprendendo a juntar as sílabas, começou a comer sozinho (embora mais brinque com a comida do que coloque ela na boca) e faz traquinagens como qualquer criança pequena. Mas, acima de tudo, é uma criança feliz, de riso fácil e humor leve - e isso que nos dá forças cada vez mais para remontar o mundo que desabou. Sua evolução é mais lenta, seu comportamento ainda não condiz com sua idade, mas temos fé, esperança e, principalmente, embasamento dos médicos para acreditar que, em algum momento, ele vai sim ter uma vida comum, dessas que nós, egoístas perfeitos, ainda teimamos em reclamar.


Então, se por acaso você conviva com alguém que tem filho com necessidades especiais, te convido a tentar compreender melhor a situação, conversando com os pais e interagindo com as crianças. Você vai passar a apreciar mais algumas coisas que antes pareciam banais, e também se tornará mais forte para enfrentar pequenos obstáculos que antes pareciam enormes. E se você, por acaso, é uma mãe ou um pai de um filho com necessidades especiais, se dê o direito de rir, de chorar, de ter um jantar romântico ou ir ao cinema e deixar sua criança com os avós, de tirar fotos engraçadas no Instagram, permita-se de vez em quando ter inveja das crianças que têm a mesma idade que seu filho ou filha (porque somos seres humanos, com defeitos, e não há como evitar ver no outro “como seu filho poderia ser hoje”, por mais feio que o sentimento possa parecer) e, mais que tudo, jamais deixe que a dificuldade do seu filho se torne a sua, pois como eu disse acima, ele(a) depende de você. A vida não pode parar por conta de um tropeço - por maior que tenha sido a queda.

segunda-feira, 27 de novembro de 2017

Qual o segredo da Galinha Pintadinha?


O guri nunca foi de ficar preso à TV. Na verdade, nunca foi de ficar entretido com nada por muito tempo. Nem mesmo o celular, o violão ou o jogo de futebol (as três coisas que mais o deixavam interessado) eram capazes de mantê-lo ocupado por mais de 2 minutos. Mas aí aconteceu: finalmente dei o braço a torcer e colocamos ele para ver Galinha Pintadinha, e ele ficou hipnotizado.

Ei! Guri! Eeeeei!

Não sabemos ao certo qual o poder que uma galinha azul tem sobre a mente das crianças, mas a verdade é que, de todos os programas infantis que existem, a bendita ave parece ter alguma feitiçaria. Foi assim com meu sobrinho, com minha sobrinha, com as crianças que minha irmã dava aula… Bastava começar o “popopó” e todas permaneciam vidradas na TV. Esqueça Mundo Bita, Patati Patatá, Show da Luna, Backiardigans e Peppa (essa última até tem exercido uma certa atração ultimamente); se quer uns 5 minutos de sossego, coloque a tal da penosa para distrair seu bacuri.

Sinto muito, Peppa, mas você não tá com nada

Queria de verdade conhecer o criador (ou criadora) da Galinha Pintadinha para olhar bem na cara dele e dizer “mano, você tá de parabéns!”. Não sei se são as cores, a melodia bem executada, a seleção das músicas ou bruxaria, mas o fato é que funciona. E funciona tão bem que agora tem Galinha Pintadinha em inglês, francês, espanhol, japonês… Basta procurar no Youtube e você encontrará! Essa pessoa deve estar milionária hoje, e não dá para dizer que não mereceu.

Essa é a Galinha Pintadinha em inglês

Apesar de ser grato à Galinha Pintadinha por nos proporcionar alguns minutos de tranquilidade para executarmos outras tarefas no dia-a-dia de pais, minha curiosidade teima em me fazer parar às vezes na frente da TV e pensar “qual é o seu segredo, sua galinha???”. Graças a isso, já sei cantar todas as músicas (inclusive algumas em inglês). Talvez a hipnose da galinácea não afete somente as crianças, afinal.


terça-feira, 31 de outubro de 2017

Quando o ser humano deixa de ser egoísta


Nós, seres humanos, somos egoístas por natureza (nota do autor: se por acaso você for um alienígena, perdoe minha generalização). Por mais que vivamos em sociedade e dependamos uns dos outros, no fundo sempre buscamos satisfazer nossas próprias vontades, o que faz ser muito raro aquilo que chamamos de altruísmo. Contudo, quem é pai ou mãe já deve ter se visto numa situação onde se esquece completamente das suas vontades para fornecer ao seu filho ou filha um momento só dele(a). O momento mais recente, para mim, foi há algumas semanas, com meu primo, num aeroclube.

Meu tio tem um trike, que é basicamente um triciclo motorizado. Não é nada espetacular, deve chegar no máximo a uns 30 km/h, mas ainda assim, dei as primeiras voltas com meu filho no colo andando bem devagarinho e usando uma das mãos para segurá-lo contra meu corpo, com medo dele se jogar ou algo assim. Qual não foi minha surpresa a, pouco tempo depois, ele mesmo se prontificar a segurar o guidão com suas mãozinhas e olhar para trás, para mim, sorrindo, cada vez que eu acelerava um pouco mais? No fim, estava tacando-lhe pau no melhor estilo Marcos da Vó Salvelina (alô memes de 2013, um abraço!) e ele curtindo a beça cada volta.

É parecido com esse aí

O mais interessante disso tudo é que, embora seja bacana brincar com o trike, é algo que enjoa rápido para um pseudo-adulto tal qual eu. Mas, ao ver como o guri estava empolgado e se divertindo com tudo aquilo, minha vontade era de dar mais e mais voltas, para ter certeza que, no fim do dia, ele iria se lembrar, de forma feliz, do dia que teve. Podia aproveitar o tempo de outra forma, interagindo com meu primo, com meus tios, com a minha esposa, mas quis ficar ali, com ele. No fim do dia, recordando de como ele tinha ficado radiante com a brincadeira, eu acho que finalmente entendi o que significa ser pai: deixar de ser tão egoísta para aprender a servir aquele que depende de você para tanta coisa - inclusive para se divertir.

"Perguntei ao meu marido como as coisas estavam indo, e ele me mandou essa foto"

segunda-feira, 23 de outubro de 2017

Curtinha #9


Ontem cortei o cabelo numa barbearia de portinha no centro da cidade. Tinha um rádio relógio tocando Chicago - If you leave me now, circulador de ar Britânia pra dissipar o calor, barbeiro de bigodão e cabelo estilo Chitãozinho e Xororó anos 80 e, no final do corte, como loção pras partes que usou navalha, passou Leite de Colônia verde. Por mais estranho que pareça, lembrei da minha infância. Na minha época de guri, não existiam cabeleireiros especializados em cortes infantis. Nada de banco de carrinho ou de cavalinho. Nada de Galinha Pintadinha passando numa TV. Nada de brinquedos, pula-pula ou piscina de bolinhas. A criança sentava num caixote de madeira e o tiozão de bigode e cabelo com mullets cortava seu cabelo como se fosse um adulto. Ainda assim, não me lembro de ter problemas ao cortar o cabelo, enquanto meu filho, mesmo com todos os brinquedos e distrações proporcionados pelo estabelecimento infantil, ainda morre de medo da maquininha. Não sei que conclusão tirar disso, mas é interessante ver o contraste gigantesco de um mesmo evento num espaço de apenas 25 anos.


sexta-feira, 29 de setembro de 2017

6 Dicas de vida que um pai não deveria dar, mas dará


Mesmo que meu filho tenha apenas 3 anos, volta e meia me pego pensando em como agirei quando ele tiver seus 15, 16, 18, 20 anos (ou seja, aquele período que você, como pai, tenta dizer para ele não fazer algo de errado e ele vai e faz exatamente o contrário). Então, pensando na famosa psicologia reversa e também para ensinar didaticamente ao filho ou filha que a vida não é fácil, enumerei algumas dicas importantes para dar aos jovens filhotes que acham que já são donos do próprio nariz:


  • Ficar bêbado
    • O fato: são raros os adolescentes/recém-adultos que nunca tomaram um porre na vida, e com certeza os pais recomendaram-nos a não beber demais.
    • A dica: Ao menos uma vez na vida, o jovem rebento precisa ter uma experiência de demasia alcoólica. 
    • Aprendizados: 
      • dar valor às coisas invisíveis aos olhos (como, por exemplo, o fígado que carrega dentro de seu corpo);
      • As consequências de seus atos (através da forte e incessante dor de cabeça da ressaca);
      • Amor-próprio e dignidade (ao ter suas fotos e vídeos embaraçosos divulgadas nas redes sociais pelos seus amigos).
outro aprendizado: a gravidade tende a ficar mais forte
  • Arranjar um emprego ruim
    • O fato: jovens sonhadores querem arranjar o emprego dos sonhos aos 20 anos, abrir uma startup aos 22 e ter seu primeiro milhão aos 25. Qualquer coisa abaixo disso, eles negam e preferem continuar às custas dos pais, jogando seu videogame e saindo com os amigos com a grana da mesada.
    • A dica: arranjar um emprego que pague mal, exija muito da pessoa e que constantemente faça o ser pensar “o que tô fazendo aqui ainda???”.
    • Aprendizados:
      • valor do dinheiro (ao trabalhar 8h/dia, inclusive sábados, e receber 400 reais no fim do mês);
      • moldar caráter (quando o chefe começar a gritar e exigir prazos e metas impossíveis, usando palavras de baixo calão, fará o jovem pensar “eu nunca serei assim!”);
      • dar graças mesmo quando a situação for ruim (ao conseguir um emprego melhor no futuro e, nos momentos de frustração, pensar “podia ser pior — tipo meu primeiro emprego).
Seu Madruga tinha razão
  • Não comprar como primeiro carro um 0 Km
    • O fato: seu filho ou filha vai te encher o saco para que você o ensine a dirigir. Depois, pedirá para andar com o carro sempre que vocês estiverem em alguma região deserta, reta e sem grandes riscos de causar tragédias no trânsito. Isso, claro, antes dos dezoito. Depois da maioridade, sonharão com aquele carro 0 Km, com uma fita vermelha no capô e você - o pai ou mãe - com a chave balançando na mão.
    • A dica: esqueça  o carro 0 Km. Seja dando de presente ou fazendo o filho pagar pelo próprio carro com seu suado dinheiro (de preferência angariado pelo emprego ruim listado acima), que seja um carro rodado. De preferência já batido e com, no mínimo, 5 anos de fabricação.
    • Aprendizados:
      • mecânica (quando o carro der problema numa sexta-feira chuvosa, de manhã, no meio da rodovia);
      • não se martirizar com danos materiais (ao riscar a lataria na coluna da garagem, quebrar a lanterna traseira ao dar ré no mercado ou amassar o para-choque fazendo uma baliza — algo que vai indubitavelmente acontecer. O conserto em um carro 0 Km sairia bem mais caro);
      • o poder da barganha (nos momentos que tiver que combinar com o mecânico o custo da troca dos amortecedores ou quando for vender o carro e o vendedor querer dar apenas 8 mil no carango).
Outra possibilidade de danos ao veículo: ex-namorado(a) maluco(a)
  • Passar uma noite acordado:
    • O fato: “festar a noite toda!!!”. Que jovem nunca disse isso? A sensação que “só se vive uma vez” está sempre à flor da pele dos “teens” — mesmo que o dia seguinte traga consequências.
    • A dica: encorajar o jovem a passar a noite em claro. De preferência num domingo, tendo prova ou trabalho na segunda-feira.
    • Aprendizados:
      • o valor de uma boa noite de sono (no momento em que, mesmo que ele desligue o despertador, você, como pai ou mãe, fará questão de fazer aquela faxina na casa, com direito a aspirador de pó e enceradeira, ou então cantar bem alto a música que tocar na abertura do programa da Ana Maria Braga);
      • “Deus ajuda quem cedo madruga” (porque o horário comercial demanda foco das pessoas das 8h às 18h);
      • o mundo não pára porque você está com sono (pois, independente da noite de festa ser na sexta ou no sábado, existem coisas a serem feitas no fim de semana. E se não tiverem, você como pai ou mãe tem a obrigação de criar alguma coisa para o rebento fazer — tipo cortar a grama).
Também dá para aproveitar para zoar seu(ua) filho(a) um pouco
  • Entrar numa briga
    • O fato: o jovem é cheio de si, cheio de energia e normalmente acha que está certo. Isso, no mundo real, pode criar atritos.
    • A dica: dá porrada, filho(a)!
    • Aprendizados:
      • causa e consequência (ao levar um soco após ter gritado “ei, seu bunda mole!”);
      • os problemas não vão embora num passe de mágica (afinal, aquele chute no olho vai doer por alguns bons dias);
      • tudo pode ser resolvido na conversa (pois dói menos);
outra dica: se for brigar, esteja sóbrio
  • Entrar no cheque especial no banco (o famoso limite)
    • O fato: jovens normalmente não sabem controlar suas finanças.
    • A dica: diga para sua criança-adulta que aquele valor final no extrato bancário é realmente o quanto de dinheiro que ele possui (e não que os 2 mil reais são, na verdade, 1900 de limite). Se ele perguntar sobre juros, diga que “não dá nada”.
    • Aprendizados:
      • dinheiro não nasce em árvore (também conhecido como “você só colhe o que planta” ou, em outras palavras, o dinheiro que você ganha é só o que você pode gastar);
      • nunca fique em débito com ninguém (principalmente com a máfia. Se o banco é capaz de te cobrar juros de 200% ao ano, pense o que Don Corleone faria com você);
      • vermelho significa pare, verde significa siga (eu sei, é algo bem óbvio, mas às vezes é preciso ser mais lúdico para que o jovem aprenda).
Se mantenham longe da máfia, crianças



Em quase 33 anos de idade, se tem algo que posso dizer que aprendi é que “o que você não aprende com os pais, a vida se encarrega de ensinar na marra”. Se eu puder dar uma mãozinha para meu filho quando a hora chegar, por quê não fazê-lo, não é?

sexta-feira, 15 de setembro de 2017

Curtinha #8


Meu filho tem o costume de apontar as coisas com o dedo do meio. Tentei exaustivamente mostrar a ele que não é esse o dedo correto, e até funcionou com a mão esquerda, mas a direita ainda insiste em exibir o pai-de-todos em destaque. Certo dia estávamos em uma igreja pequena, na missa dominical. A igrejinha, cheia, tinha pessoas apinhadas até fora da porta, e eu, embora tivesse conseguido um lugar lá dentro, precisei sair para tentar fazer o guri dormir. Deitei-o no colo e comecei a andar de um lado a outro, embalando-o, e ele teimando em continuar acordado. De repente, um avião cruzou o céu e ele viu. Instintivamente, o guri, deitado, ergueu o braço direito e apontou o dedo do meio, em riste, para o avião, em meio à todas aquelas pessoas reunidas para um encontro católico. Por mais que não tenha sido sua intenção, quem estava lá e viu apenas um pequeno bracinho erguendo um dedo que comumente é utilizado para demonstrar desafeição pode ter tido um entendimento diferente do que “olha lá um avião!”. Enfim, momentos embaraçosos fazem parte da paternidade.


segunda-feira, 28 de agosto de 2017

Curtinha (não tão curtinha) #7


Apesar de fazer mais de um mês do aniversário do guri, achei que seria interessante deixar esse relato. Um dia antes da festinha, fomos à uma formatura. O pequenote ficou com minha mãe e eu e minha esposa pegamos um Uber rumo à cerimônia dos novos médicos do ano de 2017. Como esperado em qualquer formatura em que não é preciso dirigir depois, injetamos uma quantidade não recomendável de álcool em nossos corpos e, além de tudo, perdemos a hora. Lembro-me que eram 4 da manhã quando entramos em casa. Às 9h deveríamos começar os preparativos da festa porque, pobre que somos, decidimos alugar apenas a decoração, mas fazer a montagem por conta própria. Dois Engovs, um Epocler, baldes de café e injeções de adrenalina e açúcar depois, estávamos lá, no salão de festas, enchendo bexigas, montando caixas de ponta cabeça e olhando para o relógio a cada 5 minutos para ter certeza que daria tempo. No meio de tudo isso, ainda tinha que ir buscar os comes e bebes da festa, encomendados e prontos para pegar às 11h30. Para finalizar, ainda teríamos que almoçar, afinal “saco vazio não pára em pé”, certo? Ah, e seria bom também tomar um bom banho, se arrumar, arrumar o crianço e estar com a cara minimamente decente antes das 16h, quando a festa começaria. Com muito esforço, suor e lágrimas, tudo ficou pronto exatamente às 15h30. A festa ocorreu tranquilamente.

E o que quero expor com tudo isso? Duas coisas:

1- quando é algo para o seu filho, você se esforça ao máximo. Se esforça de uma forma que você nunca se esforçaria para fazer algo a si mesmo. O corpo pedia um domingo preguiçoso, sentado no sofá, assistindo Temperatura Máxima, mas o papel de pai e mãe falou mais alto.

2- se você tem uma formatura ou algum outro evento que vá exaurir sua força vital e mental, NÃO MARQUE a festinha do seu filho para o dia seguinte. Vai por mim.


segunda-feira, 14 de agosto de 2017

Um dia de pai


Ontem foi Dia dos Pais. Acordei, fiz meu café e fui interrompido durante a refeição porque meu filho acordou. Fui até seu quarto, troquei a fralda, escolhi uma roupa de acordo com meu gosto (que normalmente é o oposto do gosto da minha esposa) e já o arrumei porque iríamos sair de casa logo. Fiz sua mamadeira. Terminei meu café. Me troquei rápido e, quando voltei para a sala, o guri estava com um copo de vidro na boca, fazendo barulhos dentro dele e rindo com o som. Tirei o copo de perto. Coloquei o tênis nele. Coloquei o tênis em mim. Saí de casa com ele para almoçar com meu pai. Dei almoço para ele antes de eu almoçar. Ele dormiu no trajeto de volta. Tirei ele do carro, com chuva, um guarda-chuvas pendurado entre o ombro e o pescoço e muita dificuldade para tentar não fazê-lo acordar. Ele acordou. Troquei ele novamente e dei um lanche. Brincamos de fazer careta. Dei banho nele. Dei janta para ele. Saímos de volta para outro compromisso. Na volta, o coloquei para dormir, não antes de colocar o pijama e dar remédio. Ele dormiu.

Devia ter feito isso pra ele não pegar o copo


E assim foi meu Dia dos Pais. Um dia como qualquer outro de um pai que assume a responsabilidade de cuidar de um filho. Não teve almoço especial para mim, não teve café na cama, não teve presente, não teve apresentação da escola e nem bilhetinho escrito à mão com erros ortográficos. E quer saber? Nada disso fez falta.

Ele ainda não brinca de Lego, mas quando brincar,
vai ficar ainda mais fácil passar o dia com ele.


Quando criança, minha cabeça dizia que o Dia dos Pais era um dia em que você deveria se dedicar ao seu pai. Tentava juntar dinheiro para comprar qualquer coisinha para presentear o velho. Eu e meu irmão fazíamos café (ruim) para dar na cama para ele. Íamos almoçar com ele na nossa avó. “Vai almoçar com seu pai que vou almoçar com meu pai”, lembro da minha mãe dizer. Lá, almoçávamos, tomávamos café, assistíamos a algum filme, mas o que menos fazíamos era passar um tempo com nosso pai (que normalmente ficava na companhia dos nossos tios). Mas o importante para nós era que ele soubesse que estávamos lá por causa dele.

Definição gráfica de um bom Dia dos Pais


Mas qual o verdadeiro significado do Dia dos Pais? Talvez sirva como lembrete de que se deve gastar um pouco de tempo com seu pai, ou então só uma desculpa do comércio para vender alguma coisa no hiato entre Páscoa e Natal. Quem sabe, serve para “homenagear aquela figura que sempre esteve ao seu lado”, mesmo que muitos pais não façam isso pelos seus filhos. Depois de virar pai, descobri que o Dia dos Pais é apenas um dia comum. Um dia em que você deve exercer sua paternidade — como todos os outros. Então, a dica que deixo é: faça valer seu papel de pai para que, no futuro, você mereça cada apresentação de escola, café da manhã, presente, bilhete escrito à mão e, principalmente, ser chamado de forma orgulhosa de “pai”.

Feliz Dia dos Pais!

quarta-feira, 2 de agosto de 2017

Sobrevivemos a Julho!


Amigos seguidores do Um Ser Pai, regozijai! Passamos pelo mês de Julho sem nenhuma intercorrência que nos levasse ao (ou deixasse internado no) hospital!


Aeeeeeeeeee!!!


Talvez você, leitor, esteja achando estranho essa felicidade toda, sem entender a relação entre “hospital” e “mês de Julho”. A verdade é que, nos últimos 3 anos, passamos o mês sete vivendo em diferentes quartos de hospital por questões variadas:


  • 2014: pouco tempo após o famigerado 7x1, numa quinta-feira tempestuosa, fizemos uma via-crucis de hospital em hospital até internarem minha esposa para um parto às pressas. Aí foi UTI Neo-Natal pra um, UTI normal pra outra e eu correndo entre uma e outra para visitar os membros da família. Relato completo aqui.
  • 2015: uma suposta laringite no pequeno evoluiu para um quadro que os médicos não souberam definir o que era e resultou em muitos dias no hospital pediátrico e uma traqueostomia. Saímos 2 dias antes do guri completar 1 ano de vida. Relato completo aqui e aqui.
  • 2016: enfim, a retirada da traqueostomia! Cirurgia bem-sucedida, pós-operatório nem tanto - uma intercorrência e os piores dias de nossas vidas se prolongaram por 40 dias. Relato completo aqui.

É muita coisa, viu


Admito que, por mais que não seja supersticioso, temi por cada espirro e cada tossida que o guri deu durante todo esse mês. A preparação para a festinha de 3 anos me deixou preocupado por dias, pensando “será que dessa vez vamos conseguir fazer a festa sem sustos?”. Mas parece que a vida finalmente nos deu uma folga e nos deixou curtir os momentos importantes. O guri está bem, a mãe está bem, o pai está bem, a família está bem.

Tudo bem!!!


As sequelas (literalmente falando) dos problemas de Julho dos últimos 3 anos ainda estão presentes em nosso dia-a-dia, mas felizmente estão cada vez menores, nos dando esperança que os próximos Julhos, Agostos e Setembros serão mais tranquilos e alegres. Até ano que vem, Julho!

terça-feira, 18 de julho de 2017

3 anos de Brucioêine


Esse vai ser um texto emocionado. Então, se você não gosta de melodramas... leia do mesmo jeito (dá uma força pra nóis, vai!).

Hoje meu filho completa 3 anos de vida, provavelmente tendo passado por mais dificuldades que muito marmanjo por aí. Nasceu às pressas, ficou sem contato com a mãe por 18 dias, apresentou uma condição adversa nos pés chamada “pé torto congênito” e teve que usar gesso e passar por cirurgia antes mesmos dos primeiros 120 dias. Antes de completar um ano, teve um problema na traqueia que até hoje os médicos não souberam explicar, e por isso teve que usar traqueostomia por mais de um ano. Não pôde aprender a falar, gritar, rir, abrir um berreiro. Às vésperas dos 2 anos de idade, quando finalmente removeu a traqueostomia, uma complicação na pós-cirurgia feriu o seu cérebro e ele perdeu movimentos, visão e capacidade de interação. Tudo isso poucos dias depois de ter aprendido a andar.

Pensem vocês, pais e aspirantes à paternidade, como se sentiriam ao olhar para seu rebento inerte, com os músculos retraídos e sem conseguir demonstrar o quanto depende do seu carinho e do seu cuidado. Um tio meu, que foi visitá-lo no hospital, disse para nós que “Deus não deixaria de curar um carinha tão legal quanto ele”, pois, independente de todos os problemas que ele teve antes dessa complicação, o guri sempre foi muito querido, sorridente e brincalhão.

E meu tio estava certo. Ele melhorou, se recuperou, tirou a traqueostomia e vem fazendo um treinamento intensivo para voltar a andar. Consegue se equilibrar apoiando nos móveis, já escala na estante da sala e no sofá, sobe escada de joelho e caminha se dermos uma só mão para ele. Realmente, Deus sorriu para ele e confirmou que ele é um carinha legal.

Admito que, como pai, ainda é difícil olhar para outras crianças de 3 anos, correndo, pulando, falando bem, às vezes até já andando de bicicleta, e não pensar que poderia ali ser meu filho, fazendo as mesmas traquinagens, caso não tivessem acontecido tantos percalços em sua curta vida. Mas aí lembro em como ele estava há um ano, quietinho numa cama de hospital, sem sequer olhar para nós, e aceito que, por mais que esteja difícil hoje, o pior já passou. Já escrevi aqui que acredito que tudo tem um motivo, e todas essas provações, tanto para nós quanto para ele, têm sim uma importância maior, e basta a nós aguardamos para ver. Acima de tudo, o que nos acalma é ver que, apesar de tudo o que já passou, ele é uma criança feliz, divertida e que contagia a todos que interagem com ele.

Então, nesse dia 18 de julho de 2017, quero apenas agradecer. Agradecer a quem rezou por ele, a quem nos ajudou nos momentos difíceis, aos próprios momentos difíceis (que nos fizeram crescer como família) e pela vida do nosso guri.

Feliz aniversário, carinha legal.


sábado, 1 de julho de 2017

3 Anos de Um Ser Pai!


Nesses dias um amigo me perguntou por que eu tinha abandonado o blog. Respondi prontamente “mas eu não abandonei o blog!”. Depois, refletindo sobre a pergunta dele, vi que o “abandonar” não significava necessariamente parar de atualizá-lo e nunca mais mexer nele, mas sim deixá-lo “tomando pó”, “às moscas”, mesmo que apareça de vez em quando aqui para passar um pano e espantar as traças.

Se eu disser que nunca pensei que o blog chegaria a essa marca, estaria mentindo. Ao menos, pensando na época em que criei ele, com otimismo, sonhos de sucesso, fama e riqueza. Agora, se eu pensar em pouco menos de um ano atrás, não tinha como imaginar que ele ainda existiria.

Com certeza foi o ano mais conturbado de nossas vidas (mais detalhes aqui), e isso impactou em vários pontos no âmbito social, profissional, financeiro, de saúde e, principalmente, no Um Ser Pai. As postagens - já escassas - ficaram mais raras ainda. Já faz semanas que ele fala “papá” e “mamã” e eu nem postei nada a respeito disso. Ele aprendeu a brincar com carrinhos, a jogar bola e a soprar apito. Consegue andar bem se apoiando nos móveis e dando apenas uma mão para nós. Continua fazendo tratamento clínico e temos esperança que estará andando até o fim do ano. Ainda assim, raramente tenho aparecido aqui para contar tais feitos.

Talvez eu não esteja cuidando do Um Ser Pai como deveria. Talvez seja pelo fato que não consigo dar a ele a visibilidade que gostaria que tivesse, ou então pela correria do dia-a-dia, que não me dá muito tempo para pensar no que escrever, ou mesmo porque aquela empolgação do início do blog, em 2014, foi se esvaindo com o passar dos anos. As várias tribulações que tivemos também têm sua parcela de culpa, com certeza. Por isso, ao mesmo tempo que sinto orgulho de estar há 3 anos contando minha saga de pai de primeira viagem, me entristeço por ver que fui decaindo como interlocutor.


Ainda assim, cá estou eu, com pano e veneno para traças em mãos, afinal temos uma festa para fazer! Por mais que seja “só uma data”, esses ciclos de 365 dias servem para que reflitamos e pensemos sobre a jornada que tivemos, e isso é passível de comemoração! Então, no momento, quero apenas agradecer aos cerca de 1500 fiéis seguidores do blog Um Ser Pai e dizer que, enquanto vocês não desistirem do blog, me esforçarei ao máximo para dar mais vida a ele!

segunda-feira, 19 de junho de 2017

Dormindo quentinho


Lembro de várias vezes, durante a madrugada ou tarde da noite, eu já estar no mundo dos sonhos na minha gostosa e aconchegante caminha e acordar com o som do meu pai entrando no quarto para colocar o cobertor em mim e em meu irmão - mesmo quando eu estava com calor e descoberto por opção.

Talvez meu pai deveria ter me ensinado esse truque

Agora sou eu que sempre vou dar uma espiada no quarto do guri antes de dormir, para ver se o espoleta não se descobriu. Tento entrar sempre fazendo o mínimo de barulho, a fim de evitar o rangido do piso de madeira - e normalmente falho na missão. Mas o importante é conseguir cobri-lo e deixá-lo confortável para o resto da noite.

Eu e minhas suaves pisadas no chão

Apenas nesses dias que fui perceber a semelhança e, enfim, entender o que meu pai fazia. Não era simplesmente para que não pegássemos a tal da “friagem” da madrugada, acabar acordando com dor de garganta ou até resfriado, mas sim pela necessidade de olhar para o filho e ter certeza que ele está bem, mesmo durante a noite, mesmo enquanto está no sono dos justos.

É um sentimento muito estranho: às vezes você pensa “ah, meus filhos dormiram, agora posso ter um tempo só pra mim!” e, por mais que isso seja almejável e que você aproveite bem aquelas duas horas de tempo consigo mesmo, ainda existe uma parte sua que está sentindo falta de, ao menos, olhar para o rosto da criança ou tê-lo ali perto, só para ter certeza que ela permanece saudável e feliz.

Mas também não precisa acordar a criança

Não sei se é, no meu caso, um efeito colateral de tantos problemas que o meu filho já teve com tão pouca idade, mas prefiro acreditar que é algo que brota no ser humano assim que ele vira um progenitor. Basta assistir o Animal Planet ou o Discovery Channel pra entender que isso ocorre em todo o reino animal: os pais sempre estão preocupados em manter seus filhotes próximos, e viram bicho (perdão pelo trocadilho) se algum perigo se avizinha. Como humanos, sempre procuramos explicações racionais para todo e qualquer evento, mas às vezes temos que simplesmente aceitar que instinto, sentimento e empatia são realmente os elementos que regem nosso dia-a-dia. Talvez essa seja a melhor definição para a palavra “amor”.