terça-feira, 30 de setembro de 2014

Que feio!

Existe um ditado que diz “educação vem de berço”. Eu concordo, e isso me assusta, afinal eu não sou um exemplo de pessoa a ser seguido. Sabe aquelas pequenas coisas erradas que sua mãe gritava “menino(a), não faça isso!” quando você era mais novo, e ainda acontece até hoje? Pois é.

Além do uso dos palavrões, já comentado por aqui, há uma extensa lista de maus exemplos que eu preciso abandonar, a fim de não deixar de herança para o guri. Um dos mais clássicos é comer no sofá. Esse também é compartilhado pela minha esposa, afinal é muito mais cômodo sentar na frente da TV e mandar ver na comida ao invés de fazer todo aquele trabalho chato de tirar as coisas de cima da mesa, estender uma toalha - que provavelmente ficará suja de molho e precisará ser lavada - e comer como uma família de lordes ingleses. Esse eu admito: só vou largar mão quando o moleque tiver idade para comer junto conosco.

chato.

Continuando com o sofá, quem nunca ouviu um “tira o pé do sofá!”, não é? Eu já ouvi inúmeras vezes. Adiantou? Não. E não é só no sofá, é em cadeira, banco, banqueta ou qualquer superfície que sirva de assento - inclusive no trabalho. Para mim, achar uma posição confortável é uma batalha épica e interminável.


Não parece muito confortável.

Outro item da lista é escovar os dentes andando pela casa. Não consigo ficar me encarando na frente do espelho por muito tempo, e me entedio fácil. Meu dentista já brigou comigo, disse que tenho que prestar atenção no que estou fazendo. Eu sei que ele está certo, mas aquela vozinha na minha cabeça sempre me diz que eu já sei escovar instintivamente.

Dizem que não é educado bocejar sem colocar a mão para tapar a boca. Já eu, além de bocejar, ainda dou aquela espreguiçada gigante, enquanto praticamente imito o som do Chewbacca. É uma falta de atenção minha, e acabo fazendo isso nos lugares mais inapropriados. Uma variável do bocejo é também o espirro. Eu, infelizmente, possuo o fardo da maldição conhecida como “rinite alérgica”. Logo, espirros selvagens e inesperados aparecem de surpresa, sem que eu consiga me preparar para - educadamente - colocar a mão na frente e não fazer um som estrondoso, que normalmente assusta crianças pequenas e animais de estimação que estão próximos de mim.

Huurrrr

Para finalizar essa lista - que é apenas uma pequena parcela das várias coisas erradas que faço - é esquecer de lavar as mãos antes de comer. Pô, higiene pessoal básica, não é mesmo?  Meu poder de distração é muito grande, então eu facilmente esqueço de coisas simples e habituais. Então, se eu não estiver com aquela sensação de mão coberta por uma película de sujeira - normalmente ocasionada após mexer no carro ou na correia da bicicleta - provavelmente esquecerei de lavar. Não é sempre, claro - e agora, com o bebê em casa, comecei a me policiar muito mais a respeito disso.

Meu pai costumava dizer “faça o que eu mando, não faça o que eu faço”. Embora achasse graça disso quando era mais novo, vejo que não funciona na prática. Quem tem que dar o exemplo sou eu, e, pelo jeito, o primeiro passo na educação do meu filho será educar a mim mesmo.

sábado, 27 de setembro de 2014

São só as vozes na minha cabeça

Há algumas semanas atrás, após darmos banho no guri, minha esposa estava dando de mamar no quarto nele. Eu a ouvi me chamar e fui ver o que ela precisava. “Tem algum bicho no sótão”, disse ela, assustada. Eu bati no forro do quarto e não ouvi nada. Depois ela chamou a minha sogra - que está temporariamente morando conosco, para ajudar nas tarefas de casa enquanto minha esposa cuida do filhote - e disse a mesma coisa. Ela também não ouviu nada. Aí esquecemos o episódio e continuamos nossas vidas.

Mais ou menos uma semana depois, a mesma coisa: ela me chamou no quarto, disse que ouviu um barulho no sótão, como se fosse um rato, ou um morcego. Dessa vez, quando bati no forro, ouvi o som também. Realmente parecia ser um rato, e ainda fez um barulho como se estivesse fugindo para outro canto do sótão. Pensei “o que um maldito rato está fazendo no sótão de um sobrado? Não tem comida pra ele lá!”. Peguei uma escada, uma lanterna e subi até lá, para tentar achar a droga do rato - ou o que quer que fosse. Para meu azar, o local onde ouvimos o barulho ficava bem atrás da caixa d’água, e eu não conseguia alcançar. Minha sogra chegou, me entregou um cabo de vassoura, e eu comecei a bater e empurrar, a fim de achar o invasor. Nada. Desisti e fiquei no aguardo de outro dia, onde o barulho estivesse em outro lugar.

Terceiro dia: mesmo ritual. Chego no quarto, minha esposa já injuriada por causa do rato. Bati no forro e ouvi o barulho de volta. Porém, dessa vez, reparei em outro detalhe: a luz do quarto se alterava quando ouvíamos os movimentos do animal. Aí eu parei e comecei a analisar a situação. A luz enfraquecia, nenhum som. A luz voltava ao brilho normal, o barulho aparecia. Assim foi umas três vezes seguidas, até que me dei conta do que estava acontecendo: minha sogra estava lavando a louça, e temos uma torneira elétrica. Quando ela ligava a torneira, a luz diminuía um pouco; quando ela desligava, a luz voltava ao normal, e desencadeava o fechamento da válvula da caixa d’água (chiado do “rato”), que - provavelmente com a pressão da água da rua - fazia também o som do “rato” andando pelo forro. Só nos restou dar risada da situação e da nossa imbecilidade.


Pô, Remy, era você o tempo todo!

Esse episódio me fez lembrar de quando era criança, e quantas vezes ouvi e vi - principalmente à noite - coisas que, na verdade, não estavam lá. Obviamente, me fez também perceber que - muito provavelmente - meu filho também ouvirá barulhos estranhos à noite. Vai pedir para eu olhar debaixo da cama e dentro do guardarroupa para ver se tem monstros, irá visualizar uma pessoa parada e o encarando no local onde ele pendurou o moletom, ouvirá sons esquisitos pela janela do quarto, que na verdade será apenas os galhos da árvore batendo no vidro, por causa do vento.

Sempre que vemos na TV ou em filmes exemplos como esse, normalmente o pai debocha do filho. “Não tem nada aqui, não tá vendo?”, ou “Isso é sua imaginação! Vai dormir!” - e quando o filme é de terror, normalmente esse pai paga pela prepotência. Aí eu penso: que moral eu tenho para depreciar o guri por ouvir e ver coisas, se eu mesmo acreditei por quase uma semana que um rato estava no forro da minha casa? A nossa mente nos prega peças, e o imaginário de uma criança é infinitamente maior que o de nós, adultos.

Prometo que não farei algo desse tipo

Eu quero encontrar uma forma de poder fazê-lo enfrentar tais medos, ver que não tem nada com o que se preocupar, ao invés de simplesmente dizer “é sua imaginação” e mandar dormir logo. Será que é melhor apostar na maturidade da criança, ou até mesmo atribuir a proteção dele a Deus e ao anjo da guarda? Ou será que é melhor entrar no mundo de fantasia dele e, quem sabe, comprar uma espada e escudo de brinquedo e fazê-lo acreditar que é um guerreiro e que quem tem que ter medo são os “monstros”, e não ele? Acredito que cada alternativa tem um ponto positivo e um negativo, mas o mais importante é que, no fim das contas, ele não dependa de mim ou da mãe para enfrentar os seus medos, independente de qual fase da vida estiver.

Isso aí, garoto!

Trilha Sonora:

terça-feira, 23 de setembro de 2014

Cá com meus botões

Além dos carrinhos e do Lego (esse depende que eu comece a ganhar muito dinheiro - e logo), um dos brinquedos que eu mais queria que meu filho tivesse é uma quadra e times de futebol de botão. No top 10 das minhas maiores frustrações da vida está o dia quando descobri - lá com meus 15 anos - que minha mãe tinha dado minha coleção de futebol de botão para crianças carentes - e sem meu consentimento. Ok, crianças carentes mereciam mais do que eu, afinal já estava na idade de largar os brinquedos e virar gente grande. Mas era MINHA coleção =(.

Eu lembro bem, tinha 52 times diferentes, entre seleções e agremiações. E os melhores não eram aqueles supercaros, feitos de resina ou de plástico resistente, mas sim aqueles de plástico fraquinho, com pontas debaixo e dos lados - que você precisava lixar pra poder fazê-lo deslizar - e que custava R$ 0,50 na papelaria da rua de cima. Eu ainda tinha raridades, como Botafogo-PB, Novorizontino, Tuna Luso e Nacional-AM. Times que provavelmente nunca mais encontrarei.

Esse é o melhor tipo!

Pra quem não conhece, futebol de botão (ou de mesa) é constituído de uma tábua de madeira lisa, com o desenho de um campo de futebol, dois times de 10 jogadores + goleiro (que podia ser tanto uma peça mais larga de plástico quanto uma caixa de remédio), e uma palheta, que servia para movimentar os jogadores, além - é claro - da bolinha, que normalmente é um disco pequeno de plástico ou um pequeno cubo. Nas regras que jogava desde criança, era preciso pedir ao adversário para preparar seu goleiro antes do chute a gol, a fim de posicioná-lo para tentar a defesa. Não havia impedimento. Se você batesse com muita força em um jogador adversário, era falta. Dentro da área, era pênalti - e aí o adversário não podia preparar o goleiro, apenas deixá-lo no meio do gol. Apenas 3 toques na bola por jogador. Se a bola bateu em um jogador adversário, é a vez dele. Com regras tão bem descritas, obviamente era fácil promover um campeonato com todos os coleguinhas do condomínio. Eu, na verdade, nunca fui muito bom no jogo - aprendi a jogar direito só quando era mais velho e, obviamente, sem mais amiguinhos para brincar.


Goleiro de plástico - uma porcaria


Já esses eram bacanas! Feitos de madeira, caixa de remédio, de sabão e ainda com feijão ou pedras dentro, para fazer peso!

Tive certeza que meu filho teria que aprender a jogar futebol de botão - comigo =D - no dia em que fui pela primeira vez à casa de um amigo meu - agora padrinho do guri. Estávamos entediados, e ele me disse que tinha uma quadra e alguns times. Uma lágrima quase escorreu no meu rosto, e fomos jogar. Um emocionante jogo que acabou 3x2, com empates e viradas de placar. Mesmo tendo lá naquela casa um computador e um videogame, TV e vídeo cassete (naquela época), resolvemos jogar botão. E foi mais divertido que qualquer outra coisa que pudéssemos fazer naquele dia, mesmo com aqueles eletrônicos à disposição. Aí, assim como no caso da coleção de Hot Wheels, você pode me perguntar “mas a coleção é sua ou da criança?”. No caso do futebol de botão, eu digo que a coleção será nossa. Pela necessidade do meu filho não ficar preso apenas com entretenimento eletrônico. Pela coordenação motora, senso de estratégia, habilidade manual e relação de competitividade que essa atividade pode proporcionar ao guri. E, obviamente, pelos 52 times que já devem ter feito a alegria de algumas crianças, mas que sempre morarão em meu coração!

sexta-feira, 19 de setembro de 2014

Quem não chora, não vira um mala

Se tem uma coisa que posso dizer que aprendi com meu pai é “não seja um mala”. Eu tenho até urticária de ir, por exemplo, a um mercado, e ver criança esperneando, berrando e fazendo pirraça porque quer isso ou aquilo.

Era comum, na minha infância, ir com o meu pai para a empresa dele, ou “passear” no centro da cidade, enquanto ele ia ao banco, visitar clientes ou qualquer outra tarefa que demandasse andar por aquela região. O maior problema - além de andar bastante, para alguém que tinha pernas tão curtas - era que, a cada quadra, quase em cada esquina, havia uma lanchonete. Uma lanchonete daquelas que emana cheiro de pastel e coxinha, gerando fome automática. No início, eu ficava enchendo o saco do meu pai “pai, compra coxinha! Pai, compra chocomilk! Pai, pai, pai…” e ele dizia que não. Dizia uma, duas, três vezes, aí levantava a voz e eu ficava sem lanche e com bico. Voltávamos pra casa e eu só na vontade. Um belo dia ele me levou novamente para o centro, e eu não pedi nada. Não queria que ele brigasse comigo de volta. Pois no fim do passeio, passamos em uma lanchonete, e ele me comprou uma coxinha e um chocomilk.


Na minha época, ainda era o "Saboroso Choco Milk"

Naquele momento eu aprendi que o ditado “quem não chora, não mama” só serve para bebês, afinal eles só tem essa forma de se manifestar. Eu descobri que era só eu não torrar a paciência do meu pai durante os afazeres dele que no final eu seria recompensado pelo bom comportamento. Obviamente cometi alguns deslizes com o passar dos anos, ao pedir outras coisas que não eram simplesmente uma coxinha e um chocomilk. Mas quando dava errado, eu me lembrava daquele passeio no centro e entendia o porque não ganhei. Com o tempo, também fui descobrindo que, às vezes, eu não ganhava uma coxinha e um chocomilk por falta de condições (dinheiro, tempo, etc.), e não por falta de merecimento. Aí descobri também que não é porque você merece algo que a vida vai te dar. Ao longo dos anos aprendi, com esse pequeno episódio, a ser educado, a ser paciente, o valor do tempo, o valor do dinheiro e que não devemos ser tão pretensiosos a ponto de achar que sempre somos prioridade.


Dinheiro não compra felicidade. Mas compra Coxinha, que é quase a mesma coisa

Não sei se meu pai fez de propósito, se era exatamente essa a lição que ele queria me dar no dia ou se simplesmente bateu a fome e aproveitou pra me levar junto à lanchonete, mas funcionou muito bem. E mesmo que tenha sido apenas um acaso, eu usarei como premissa, pois enquanto muitos ensinamentos são justificados pelos pais como “quando você crescer, irá me agradecer”, esse eu entendi mesmo sendo criança, mesmo sem a maturidade e o conhecimento de um adulto. Isso também me faz pensar em outra coisa: crianças são muito mais espertas do que imaginamos que elas são - talvez bem explicadinho, não será necessário esperar ela crescer pra entender, pois quem sabe um desses acontecimentos não acaba passando batido pela memória? A vontade de comer coxinha passou, ela já não está mais entre nós, mas o aprendizado ficou.

segunda-feira, 15 de setembro de 2014

Gambiarras (ou procedimentos alternativos)

Nesse fim de semana dei mais um passo em direção a ser um pai de verdade.  Consegui arrumar o sofá de casa, que já estava ficando muito desconfortável. Ok, “arrumar” é modo de falar, foi mais uma medida paliativa, por assim dizer. Também não foi fácil. Imaginei que arrumaria em meia hora, mas apenas após 3 horas de esforço, com mãos e braços arranhados como se tivesse entrado em uma briga com um gato selvagem, e ainda sem conseguir solucionar da forma que imaginei que poderia fazer, finalizei o trabalho. Em uma escala de 0 a 10, acredito que consegui um louvável 7.

Já sei trocar chuveiro, botijão de gás, arrumar tomadas, fazer extensão elétrica, montar e desmontar o carrinho de bebê, entre outros afazeres que normalmente são denominados ao pai. Mas ainda tenho muita coisa a aprender, afinal o Manual do Pai diz que um pai deve saber consertar tudo.

Meus dois avôs são os meus exemplos de como ser um homem. Meu avô paterno - que Deus o tenha - vivia para servir. Quando íamos aos domingos na casa dele, desde cedo já estava de pé, na churrasqueira, preparando o almoço para nós. Durante a refeição, ele continuava trazendo mais carne, e só no fim ia comer - e não adiantava insistir para ele sentar conosco! Além disso, dava jeito em qualquer coisa que precisasse de conserto ou de “uma mãozinha”.  Meu avô por parte de mãe é um “resolvedor de problemas”. Sempre que alguém da família tem um problema, desde um chuveiro queimado até consertar a estrutura da casa, ele sabe como resolver. E se não der pra fazer da forma correta, sabe dar um “jeitinho”. Um verdadeiro MacGyver. Ambos fazem parte da seleta porção de seres humanos do sexo masculino que tiram o “Manual do Pai” de letra. Se duvidar, eles mesmos ajudaram a escrever!

Foto dos meus avôs quando mais novos.

O mais interessante é pensar em como se adquire todas essas experiências. Quantas pessoas já viram como é um sofá por dentro, por exemplo? Quantos você conhece que conseguem fazer uma TV voltar a funcionar sem ao menos saber qual o defeito? Quantas vezes alguém chegou para você e disse “agora vou te ensinar como se instala um chuveiro”? Hoje ainda temos o vô Google, o pai Youtube e o tio Yahoo Respostas (esse normalmente é aquele tio que sempre te dá péssimos conselhos e te coloca em furadas). Quando não sabemos algo, basta procurar na internet, pois é bem provável que, assim como o Neo em Matrix, você aprenda em apenas alguns minutos algo que nunca imaginou conseguir fazer. Mas e na época de nossos pais e avós, como era feito?

“- Eu sei kung-fu!”
“- Quem perguntou?”

Provavelmente é o tipo de conhecimento que se passa de pai para filho. Aquela herança importante, que molda a criança para a idade adulta. Espero aprender ainda muita coisa para ensinar ao meu filho, mas caso eu não saiba como fazer, tomara que o vô Google me ajude, afinal poucas coisas são mais frustrantes para uma criança quanto descobrir que seu pai não sabe tudo.

quinta-feira, 11 de setembro de 2014

Numa folha qualquer

Eu gosto de desenhar desde criança. Um lápis e papel eram suficientes pra me deixar entretido por um tempo. Quando comecei a colecionar histórias em quadrinhos, passei a desenhar personagens, nas poses e cenários que estavam retratados nas revistas. O tempo foi passando, fui ficando mais velho, e essa prática foi sumindo no decorrer dos anos.

Já vi e até acompanhei muitas histórias de pais que depositavam no filho as frustrações de suas vidas, seja encaminhá-lo para a profissão que queria ter e nunca teve ou para a profissão que tem e quer que o filho siga também, seja botar na escolinha de futebol porque queria ser jogador e não pôde, seja colocar no karatê por ter sofrido bullying na escola e agora quer que o filho saiba se defender. Embora admita que adoraria que meu filho tivesse a mesma paixão por desenhar que eu, acho que tentar induzir o filho a caminhar nos passos que você deseja é privá-lo da liberdade de escolha. Todos somos diferentes, seja nos gostos, na personalidade, no humor ou nas aptidões. Moldar o filho de forma que ele sane suas frustrações é provavelmente criar nele frustrações iguais ou piores.

Calvin manja dos paranaûes

Pode parecer que esse é um assunto repetido, afinal falei sobre a questão de manipular os caminhos do filho no texto sobre como ele se tornou o Brucioêine. Mas o tema aqui é uma vertente própria, a respeito do que o filho será no futuro. Há uma boa diferença entre querer que o filho curta rock ou torça para o mesmo time que o seu e forçá-lo a ser advogado. Todos devem conhecer pelo menos um caso de obsessão, tipo o pai que faz o filho estudar até tarde da noite para ser médico, ou a mãe que faz a filha treinar 6 horas por dia para entrar na turma de balé. Mas se um filho diz que gosta de fazer algo que os pais induziram-no a fazer, isso é manipulação ou encontro de interesses? Como saber quanto se interfere na vida e nos gostos do filho enquanto lhe é oferecido os gostos dos próprios pais? Ou melhor: quando ter certeza que o filho está fazendo algo por vontade ou simplesmente para não magoar ou decepcionar os pais?

Acredito que a criança já dá indícios de suas vocações desde cedo, e talvez o melhor caminho para um pai notar o que pode ou não pode ser interessante para o filho é prestar atenção nesses pequenos detalhes. Desde pequeno gostava de eletrônicos e computadores, e acabei me tornando um profissional de TI. Nunca fui fã de leitura, logo não poderia rumar para alguma profissão que demandasse estudos de caso ou que fosse necessário decorar muitas informações, tais quais Direito, Letras ou até mesmo algum curso da área de biológicas. Nunca tive sucesso em esportes, nunca fui forte, ou alto, e além disso tenho problemas respiratórios. Logo, não poderia me tornar um atleta profissional. Mas e o desenho? Será que eu não poderia ter focado nisso e virado desenhista? O que impediu, será? Faltou apoio? Faltou curso pra aprimorar as técnicas? O salário não seria o suficiente? Ou era apenas um hobby e deve continuar dessa forma? Difícil imaginar o que fazer para não frustrar meu filho se eu nem consigo saber se eu sou um adulto frustrado por não ter seguido no que queria fazer quando criança. Afinal, quantas pessoas queriam ser astronautas quando crianças?

Não desista, Gary!

Eu não posso prometer que não vou interferir nas escolhas do guri, afinal também sou filho de Deus e também cometo minhas falhas. Parece algo instintivo de um pai: sempre achar que o melhor para ele é o melhor para seus filhos. Vou tentar me policiar, tentar não induzir ou até mesmo forçar escolhas. Mas o papel e o lápis estarão sempre lá, se ele quiser desenhar.



Obs.: Para quem já é pai ou convive com crianças pequenas, segue um link bem interessante do blog Pais e Filhos a respeito do significado dos desenhos das crianças. Clique aqui.

domingo, 7 de setembro de 2014

Lava, lava, lava, uma orelha, uma orelha

Por ser apenas um recém nascido, não há muito como interagir com meu filho. Ele basicamente dorme, mama, faz cocô, resmunga e chora - não necessariamente nessa ordem. De vez em quando abre os olhos e fica se mexendo sozinho como se fosse a coisa mais divertida do mundo.
Nesse período, ele fica muito mais com a mãe do que comigo. Então, não há muito como estarmos os 3 fazendo algo juntos. Experiências mal sucedidas já provaram que uma troca de fraldas a quatro mãos mais atrapalha do que ajuda. Não há também como ajudar na amamentação, tendo em vista que não possuo glândulas mamárias e também não faz muito sentido ficar segurando o guri enquanto ele fica pendurado no peito da mãe. Por isso, independente de como o dia se desenrola - seja trabalhando até mais tarde, saindo no fim de semana, indo jogar futebol à noite - eu não largo mão de ajudar no banho. É o único momento em que nos relacionamos como família.
Não dá pra dar de mamar, pai. Não adianta insistir.

Ainda não cruzei a perigosa e tênue linha entre ajudar e assumir o papel principal no banho, mas a cada dia tenho mais experiência nas tarefas que antecedem e sucedem o sublime momento da limpeza corporal do garoto. Já tenho habilidades consideravelmente razoáveis em vestir o guri, já entendi as áreas onde deve-se passar pomada e também já dominei a arte de desdobrar e colocar uma fralda. Nos entremeios, eu e minha esposa conversamos, dividimos funções e damos apoio um ao outro - e os dois ao filho, que de vez em quando esperneia ou chora, seja por frio, assustado com a água ou porque derrubamos ele sem querer no chão. Tá, essa última é mentira.

Saber a forma correta de dar banho no bebê é muito importante.

Segurá-lo corretamente também.

Esse é só o início, ainda teremos muitas interações como família, tanto divertidas quanto sérias, tanto engraçadas quanto apreensivas, mas acredito que este é um bom início. É praticamente uma dica para os futuros pais: dêem banho juntos no seu filho ou filha. Além de você, pai, que provavelmente será naturalmente desastrado (acredito que é uma condição genética masculina), aprender a manusear melhor o bebê, o casal também terá um momento de interação. Acredite, esses momentos vão ficar mais raros, tendo em vista que a prioridade agora é o bebê, mas é importante o casal se manter junto - falarei mais sobre isso outro dia.

Já tentei interagir assim. Ele não correspondeu muito bem.

Por fim, é só lembrar que banhinho é bom. Agora acabou!


quinta-feira, 4 de setembro de 2014

Que dureza...

Meu maior medo em relação a criar meu filho é me tornar um pai igual aos pais que tanto critico. Aquele pai molenga, que diz “sim” para tudo que o filho quer, só para não ter nenhum stress com a criança. Aquele pai que acha que o filho é melhor e pode mais do que qualquer outra criança. Aquele pai que culpa a falta de atenção e de educação do filho ao “transtorno bipolar” ou ao “déficit de atenção”, já que virou moda dar essa desculpa hoje em dia. Enfim, aquele pai que descrevi no texto sobre perder dentes.

Eu e minha esposa tínhamos já acordado que o nosso filho não iria dormir conosco em nossa cama. Mas agora, enquanto ele está bem pequeno, ele já ficou deitado conosco por algumas horas em alguns dias. Também queríamos deixá-lo sem conhecer chupeta, por causa dos danos que pode acarretar à dicção e à arcada dentária. Só que desde a incubadora as enfermeiras já faziam uma chupeta “artesanal” com luva cirúrgica para acalmá-lo de vez em quando, e pelo jeito ele se acostumou. Tanto fez que acabei comprando uma.

Sério, estou começando a temer essa minha falta de pulso. É só o começo, mas até onde vai isso? Será que outros planos que eu tinha - como nunca levá-lo ao mercado até ter idade para entender questões como “dinheiro” e “necessidade” ou não ensiná-lo a mexer em celular ou tablet e afins nos primeiros anos de vida - irão por água abaixo? Isso que ele ainda nem está na idade de fazer terror psicológico com seus olhos esbugalhados e biquinho.

Por favor, filho, não me olhe assim.

Eu tento acreditar que serei da forma que sou com meu cachorro: mesmo com carinha de “gato de botas” eu ainda consigo impedi-lo de entrar em casa, latir para o cão do vizinho ou pedir comida quando estamos à mesa. Também tenho o pulso firme de não deixá-lo subir no sofá ou comer muitos biscoitos. mas obviamente não é igual, afinal cães não conseguem nos manipular, barganhar ou até mesmo chantagear para alcançarem suas metas. Pelo menos ainda não. Talvez um dia, mas ainda não.

Eu acabei de te conhecer e já te amo. Esquilo!

Claro, esses dois exemplos que dei ainda são “inofensivos” perto do que a falta de pulso dos pais pode fazer com um filho. Depois de tudo que ele passou, sendo prematuro, ficando quase um mês preso em uma caixinha, e ainda sendo tão fraquinho, dá dó ser rígido, afinal ele nem entende ainda o que pode ou não pode fazer. Pior ainda: eu não entendo ainda o que ele quer ou não quer. Como eu posso tentar já educá-lo se ele nem sabe ainda a diferença entre a chupeta e o meu dedo?

No fim, acho que ainda não é hora de me preocupar com isso. Mas desde já tenho que me policiar para que pequenas regalias não se tornem hábitos, e que esses hábitos não se tornem rotina.


    

segunda-feira, 1 de setembro de 2014

Piiiiiiiiii

Uma grande preocupação que tenho quanto à alfabetização do pequeno Brucioêine é a respeito dos palavrões. Eu e minha esposa estamos acostumados a proferir palavras de baixo calão. A princípio, planejava lotar esse texto de palavrões, para poder expôr o quanto esse assunto me preocupa, deixando o aviso “se você, leitor, é uma pessoa totalmente contra ou se escandaliza com palavrões, sugiro não ler esse texto, porque provavelmente terá palavrão pra c...”, mas por respeito a quem irá ler, resolvi trocar os palavrões por palavras que tem o mesmo significado - literalmente.

É até irônico pensar que, até uns 8 anos, eu nem sabia o significado de “prostituta fezes”. Mesmo com mais idade eu também tinha um vocabulário ingênuo. Lembro que uma vez falei “masturbação” sem saber o que significava e minha tia me recriminou. Falava “sêmen” pra minha mãe achando que significava “orra”. Ela brigava comigo e eu não entendia por que.

Os palavrões saem sem eu sequer notar. Se eu quero dar ênfase a algo, é algo “coito”. Não é algo legal, nem bacana, nem batuta. É “coito”. Agora, se é algo que é muito melhor que legal, que bacana, que batuta, e até mesmo que “coito”, ele recebe o advérbio de quantidade da língua portuguesa que mais denota abundância: o “pra pênis”. Aí a coisa vira algo “coito pra pênis”.

O “pra pênis”, no caso, indica algo de grande quantidade. Se você tem 10 reais na carteira, você tem pouco dinheiro. Com 100 reais, você tem bastante. Com 1000 reais, você tem dinheiro “pra pênis”. Na verdade, o “pra pênis” tende ao infinito. Tudo que pode ser contabilizado, está sujeito ao “pra pênis”. “Pênis”, que assim como o “coito”, são palavras paradoxais - também servem para indicar algo ruim. Enquanto o “coito” permanece como um adjetivo - como na famosa frase “neguim são coito” - o “pênis” é apenas uma interjeição. Se você acertou o dedinho do pé no batente da porta, você automaticamente grita “Pênis!”. Também pode ser usado quando algo te espanta. E também pode ser facilmente substituído pela conjunção “meretriz fezes”.


Desculpa, tia Sandra...

Enquanto “meretriz” refere-se a uma mulher promíscua, como deve ser de conhecimento geral, “fezes” é o termo chulo para excremento, comumente usado como adjetivo a algo - ou alguém - que não presta. Mas juntos eles se transformam na interjeição citada acima. Ah, e o “meretriz” também é parte do xingamento mais utilizado por este que vos fala: “filho de uma meretriz”. Nunca tome tal ofensa da forma literal, pois tenho todo o respeito à progenitora do sujeito que é meu alvo, mas é o insulto que tem a melhor sonoridade, e que consegue retirar toda aquela raiva e rancor guardadas no coração. Também utilizado para demonstrar o quando você gosta de um amigo.

=(

Eu não quero que meu filho tenha esse péssimo costume, e preciso tentar ao máximo parar desde já, para que não me escape nenhuma palavra inapropriada perto do guri - principalmente quando ele estiver na idade de repetir tudo que se fala. Pretendo trocar as palavras por outras mais amenas. Minha mãe - uma santa - no auge de sua raiva, exclama “meu saquinho de pipoca”. Se alguém a deixou muito nervosa, ela xinga de “pamonha”. Se tem algo ruim acontecendo, ela diz “é do peru mesmo”. Talvez um treinamento intensivo com ela me ajude. E também aceito sugestões! O que eu não aceitarei é ver meu filho falando tão feio quanto eu falo hoje. Isso sim seria um saquinho de pipoca.