quinta-feira, 11 de setembro de 2014

Numa folha qualquer

Eu gosto de desenhar desde criança. Um lápis e papel eram suficientes pra me deixar entretido por um tempo. Quando comecei a colecionar histórias em quadrinhos, passei a desenhar personagens, nas poses e cenários que estavam retratados nas revistas. O tempo foi passando, fui ficando mais velho, e essa prática foi sumindo no decorrer dos anos.

Já vi e até acompanhei muitas histórias de pais que depositavam no filho as frustrações de suas vidas, seja encaminhá-lo para a profissão que queria ter e nunca teve ou para a profissão que tem e quer que o filho siga também, seja botar na escolinha de futebol porque queria ser jogador e não pôde, seja colocar no karatê por ter sofrido bullying na escola e agora quer que o filho saiba se defender. Embora admita que adoraria que meu filho tivesse a mesma paixão por desenhar que eu, acho que tentar induzir o filho a caminhar nos passos que você deseja é privá-lo da liberdade de escolha. Todos somos diferentes, seja nos gostos, na personalidade, no humor ou nas aptidões. Moldar o filho de forma que ele sane suas frustrações é provavelmente criar nele frustrações iguais ou piores.

Calvin manja dos paranaûes

Pode parecer que esse é um assunto repetido, afinal falei sobre a questão de manipular os caminhos do filho no texto sobre como ele se tornou o Brucioêine. Mas o tema aqui é uma vertente própria, a respeito do que o filho será no futuro. Há uma boa diferença entre querer que o filho curta rock ou torça para o mesmo time que o seu e forçá-lo a ser advogado. Todos devem conhecer pelo menos um caso de obsessão, tipo o pai que faz o filho estudar até tarde da noite para ser médico, ou a mãe que faz a filha treinar 6 horas por dia para entrar na turma de balé. Mas se um filho diz que gosta de fazer algo que os pais induziram-no a fazer, isso é manipulação ou encontro de interesses? Como saber quanto se interfere na vida e nos gostos do filho enquanto lhe é oferecido os gostos dos próprios pais? Ou melhor: quando ter certeza que o filho está fazendo algo por vontade ou simplesmente para não magoar ou decepcionar os pais?

Acredito que a criança já dá indícios de suas vocações desde cedo, e talvez o melhor caminho para um pai notar o que pode ou não pode ser interessante para o filho é prestar atenção nesses pequenos detalhes. Desde pequeno gostava de eletrônicos e computadores, e acabei me tornando um profissional de TI. Nunca fui fã de leitura, logo não poderia rumar para alguma profissão que demandasse estudos de caso ou que fosse necessário decorar muitas informações, tais quais Direito, Letras ou até mesmo algum curso da área de biológicas. Nunca tive sucesso em esportes, nunca fui forte, ou alto, e além disso tenho problemas respiratórios. Logo, não poderia me tornar um atleta profissional. Mas e o desenho? Será que eu não poderia ter focado nisso e virado desenhista? O que impediu, será? Faltou apoio? Faltou curso pra aprimorar as técnicas? O salário não seria o suficiente? Ou era apenas um hobby e deve continuar dessa forma? Difícil imaginar o que fazer para não frustrar meu filho se eu nem consigo saber se eu sou um adulto frustrado por não ter seguido no que queria fazer quando criança. Afinal, quantas pessoas queriam ser astronautas quando crianças?

Não desista, Gary!

Eu não posso prometer que não vou interferir nas escolhas do guri, afinal também sou filho de Deus e também cometo minhas falhas. Parece algo instintivo de um pai: sempre achar que o melhor para ele é o melhor para seus filhos. Vou tentar me policiar, tentar não induzir ou até mesmo forçar escolhas. Mas o papel e o lápis estarão sempre lá, se ele quiser desenhar.



Obs.: Para quem já é pai ou convive com crianças pequenas, segue um link bem interessante do blog Pais e Filhos a respeito do significado dos desenhos das crianças. Clique aqui.

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