sábado, 27 de setembro de 2014

São só as vozes na minha cabeça

Há algumas semanas atrás, após darmos banho no guri, minha esposa estava dando de mamar no quarto nele. Eu a ouvi me chamar e fui ver o que ela precisava. “Tem algum bicho no sótão”, disse ela, assustada. Eu bati no forro do quarto e não ouvi nada. Depois ela chamou a minha sogra - que está temporariamente morando conosco, para ajudar nas tarefas de casa enquanto minha esposa cuida do filhote - e disse a mesma coisa. Ela também não ouviu nada. Aí esquecemos o episódio e continuamos nossas vidas.

Mais ou menos uma semana depois, a mesma coisa: ela me chamou no quarto, disse que ouviu um barulho no sótão, como se fosse um rato, ou um morcego. Dessa vez, quando bati no forro, ouvi o som também. Realmente parecia ser um rato, e ainda fez um barulho como se estivesse fugindo para outro canto do sótão. Pensei “o que um maldito rato está fazendo no sótão de um sobrado? Não tem comida pra ele lá!”. Peguei uma escada, uma lanterna e subi até lá, para tentar achar a droga do rato - ou o que quer que fosse. Para meu azar, o local onde ouvimos o barulho ficava bem atrás da caixa d’água, e eu não conseguia alcançar. Minha sogra chegou, me entregou um cabo de vassoura, e eu comecei a bater e empurrar, a fim de achar o invasor. Nada. Desisti e fiquei no aguardo de outro dia, onde o barulho estivesse em outro lugar.

Terceiro dia: mesmo ritual. Chego no quarto, minha esposa já injuriada por causa do rato. Bati no forro e ouvi o barulho de volta. Porém, dessa vez, reparei em outro detalhe: a luz do quarto se alterava quando ouvíamos os movimentos do animal. Aí eu parei e comecei a analisar a situação. A luz enfraquecia, nenhum som. A luz voltava ao brilho normal, o barulho aparecia. Assim foi umas três vezes seguidas, até que me dei conta do que estava acontecendo: minha sogra estava lavando a louça, e temos uma torneira elétrica. Quando ela ligava a torneira, a luz diminuía um pouco; quando ela desligava, a luz voltava ao normal, e desencadeava o fechamento da válvula da caixa d’água (chiado do “rato”), que - provavelmente com a pressão da água da rua - fazia também o som do “rato” andando pelo forro. Só nos restou dar risada da situação e da nossa imbecilidade.


Pô, Remy, era você o tempo todo!

Esse episódio me fez lembrar de quando era criança, e quantas vezes ouvi e vi - principalmente à noite - coisas que, na verdade, não estavam lá. Obviamente, me fez também perceber que - muito provavelmente - meu filho também ouvirá barulhos estranhos à noite. Vai pedir para eu olhar debaixo da cama e dentro do guardarroupa para ver se tem monstros, irá visualizar uma pessoa parada e o encarando no local onde ele pendurou o moletom, ouvirá sons esquisitos pela janela do quarto, que na verdade será apenas os galhos da árvore batendo no vidro, por causa do vento.

Sempre que vemos na TV ou em filmes exemplos como esse, normalmente o pai debocha do filho. “Não tem nada aqui, não tá vendo?”, ou “Isso é sua imaginação! Vai dormir!” - e quando o filme é de terror, normalmente esse pai paga pela prepotência. Aí eu penso: que moral eu tenho para depreciar o guri por ouvir e ver coisas, se eu mesmo acreditei por quase uma semana que um rato estava no forro da minha casa? A nossa mente nos prega peças, e o imaginário de uma criança é infinitamente maior que o de nós, adultos.

Prometo que não farei algo desse tipo

Eu quero encontrar uma forma de poder fazê-lo enfrentar tais medos, ver que não tem nada com o que se preocupar, ao invés de simplesmente dizer “é sua imaginação” e mandar dormir logo. Será que é melhor apostar na maturidade da criança, ou até mesmo atribuir a proteção dele a Deus e ao anjo da guarda? Ou será que é melhor entrar no mundo de fantasia dele e, quem sabe, comprar uma espada e escudo de brinquedo e fazê-lo acreditar que é um guerreiro e que quem tem que ter medo são os “monstros”, e não ele? Acredito que cada alternativa tem um ponto positivo e um negativo, mas o mais importante é que, no fim das contas, ele não dependa de mim ou da mãe para enfrentar os seus medos, independente de qual fase da vida estiver.

Isso aí, garoto!

Trilha Sonora:

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