No último fim de semana houve eleições, e devo dizer que não me orgulho do meu voto. Cheguei à frente da urna, pronto para digitar o número do candidato que já tinha decidido. Mas lá, pensei bem nele, lembrei dos debates, de todas as mentiras, omissões e acusações, da falta de objetividade e de propostas de governo. Por um momento, pensei em votar no outro candidato. Aí concluí que o outro fez exatamente a mesma coisa. Aí cogitei votar em branco, mas eu acho que votar em branco é jogar o voto fora, perder seu direito de reclamar. Acabei votando no primeiro mesmo, e saí da seção de cabeça baixa, com vergonha de olhar nos olhos das outras pessoas.
Reza a lenda que no domingo o Brasil decidiu o futuro do país. Futuro também do meu filho. Na próxima eleição para presidente, ele terá 4 anos, e eu fiquei imaginando o que esse futuro reservará para o crescimento dele nesses primeiros anos de vida, seja em saúde, educação ou condição financeira. E também idealizei como poderia ser se o outro candidato a ganhasse. Não foi muito diferente - na verdade estávamos todos buscando votar no “menos pior”. O que mais me deixou preocupado de verdade com o futuro foi ver a forma que muitas pessoas reagiram ao final das eleições.
Muito mais que o presidente, quem faz o país é o seu povo. E eu vi uma parte desse povo - não generalizando, obviamente - agredir de forma xenófoba outra região do mesmo país, além de colocar em xeque a inteligência de quem não pensou como ele. Uma geração leite com pêra, que não sabe perder, esqueceu que uma votação se faz a partir de propostas (que mal existiram nessa disputa) e cada um vota na proposta que mais lhe convém. Puro egoísmo, é verdade, mas é assim que uma democracia funciona - e isso é no mundo todo. Vi também parte desse povo - gente que conheço, amigos e parentes - dizendo que o Brasil já era, porque está na mão de corruptos. Dentro desse grupo, tem um que tem uma empresa e burla a lei para pagar menos imposto; outro pagou um encanador para travar o relógio da distribuidora de água e, assim, pagar apenas o valor mínimo; uns dois ou três compraram no Paraguai um aparelho decodificador de canais e tem o famoso “Gato NET” em casa. Entendam, eu não sou nenhum santo, estou longe de ser, mas também não sou hipócrita - somos tão sujos quanto esses, afinal, roube R$ 1 ou R$ 1.000, o crime é o mesmo.
Teve também o outro lado: pessoas que votaram na vencedora tirando sarro de quem votou contra, como se fosse uma final de campeonato do time deles contra o rival; humilhando e ironizando, como se fossem superiores simplesmente porque o seu voto manteve a atual presidência. Esqueceram que, independente do resultado das eleições, essas mesmas pessoas que foram escorraçadas por eles eram antes amigos, colegas de infância, entes queridos, e esse tipo de comportamento pode ter acabado com um relacionamento saudável de outrora.
Por isso, independente se o presidente do Brasil fosse o Barack Obama ou o Enéas (in memorian), a minha preocupação em relação ao futuro que meu filho terá que enfrentar não é necessariamente a respeito de quem ganhou a eleição, mas sim do povo que conviverá com ele nesses próximos 4, 8, 20, 50 anos. Independente de ter votado a favor da reeleição, contra ou em branco, estamos todos no mesmo barco, e discutir a respeito não resolve em nada. Mais amor, por favor.
Resumo do meu sentimento no domingo.