segunda-feira, 6 de outubro de 2014

iFome

De vez em quando marco um almoço com os amigos durante a semana, mesmo tendo um refeitório onde trabalho. É bom para manter a união, e também sair da rotina. Numa das últimas vezes, uma sucessão de fatos fez o encontro ir por água abaixo.

Combinamos via internet o almoço em um lugar que eu nunca tinha ido. Sabia o nome do restaurante e mais ou menos o local. Só depois que já estava a caminho, resolvi confirmar onde era. Tentei ligar para o meu amigo, o celular estava desligado. Pesquisei o endereço do local via 3G, e o primeiro link me deu um endereço muito próximo de onde ele tinha me dito que ficava. Cheguei no horário, e ele não é de se atrasar. Tentei ligar de volta, e nada. Mandei mensagem pelo Whatsapp, e nada. Esperei por 20 minutos, aí comi e fui embora. No caminho de volta, a poucas quadras de onde almocei, encontrei um outro lugar, com o mesmo nome. Quase que no mesmo momento, ele me respondeu no celular, dizendo que o celular dele estava quebrado, que cansou de me esperar e foi embora.

Mas qual é o ponto que quero chegar? Bem, se fosse há uns 15 anos atrás, eu perguntaria qual o endereço corretamente, anotaria em um papel, pediria pontos de referência,  tudo antes de sair. Mas hoje estamos tão dependentes do celular que eu nem pensei em tudo o que precisava, pois era só pegar o telefone e ligar para ele, em caso de dúvidas. E esse é só um exemplo. Com certeza você, que lê esse texto agora, já falou ou ouviu algo do tipo “vai ao mercado, se eu lembrar de mais alguma coisa pra comprar, eu te ligo” ou “me liga quando você chegar que eu te encontro”.

Minha maior preocupação quanto a essa dependência é que sou contra dar um aparelho de celular a uma criança. Vejo crianças com 9, 10 anos, com seu próprio celular à mão, mandando mensagens e brincando com joguinhos. Embora eu ache que haja, sim, pontos positivos, como poder ligar ou receber ligações no caso de alguma emergência, ou então o próprio senso de responsabilidade por um item de valor mais elevado, eu tenho em mente que isso acaba escravizando a criança desde cedo com a tecnologia e com o comodismo, além - é claro - de auxiliar na distração deles.

Né?

Não tenho informações de pessoas próximas, mas volta e meia vejo reportagens a respeito do comportamento das crianças nas salas de aula, e lá está o celular, tirando a atenção dos alunos. No meu tempo (frase de velho) a distração era por meio de mini games ou tamagotchis - e esses eram sumariamente confiscados pela professora. Fora isso, é normal encontrar - por exemplo - em restaurantes ou praças de alimentação os pais com suas crianças sempre no “tec tec” do celular, sem interação alguma. Chegará um tempo em que “Oi” será mais relacionado a uma operadora de celular do que a um cumprimento social.

quem lembra?


Se a desculpa para ter o telefone é ter comunicação direta com os pais, tudo bem. Lembro que já deixei minha mãe muitas vezes louca da vida por não achar um orelhão no caminho de casa. Ainda assim, acho que tem que estudar o caso muito bem. Não adianta tentar bloquear celular pra não poder baixar jogos ou coisas do tipo, pois as crianças aprendem rápido e hoje em dia, com o Google, dá pra descobrir como fazer quase qualquer coisa. Talvez eu morda a língua e acabe cedendo no futuro, mas por ora, quero meu filho longe do celular e mais perto dos pais.


Obs.: Essa imagem eu peguei do site Mães em Obra, onde encontrei essa postagem a respeito do uso de celular para crianças. É bem interessante, vale a pena ler: http://www.maesemobra.com.br/2013/12/a-hora-certa-de-ter-um-celular/

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