sexta-feira, 23 de dezembro de 2016

Curtinha de Natal


O guri já está melhor, sem traqueostomia e tem uma certa fascinação por barbas (haja vista que o pai dele não tem um fio). Logo, o pensamento do fim de semana foi o mais simples possível: “vamos levá-lo num shopping para que ele veja o Papai Noel!”. Pensamento ingênuo, imprudente e inconsequente. Por um momento, esquecemos o fato que era o último fim de semana antes do Natal. Ao chegar no conglomerado de lojas, o cenário mais parecia a bolsa de valores - pessoas em todos os lados, falando alto, andando rápido de uma ponta a outra, em movimentos irregulares e descompassados. Com muito esforço e sem pegar a escada rolante (por medo que ela despencasse por excesso de carga), fomos até o local onde o bom velhinho estaria recebendo as crianças. Ele ainda não estava lá. Mas sabe quem estava? Um número incalculável de crianças com seus pais e acompanhantes aguardando a chegada do Seu Noel, fazendo uma fila que mais parecia que iria rolar um show da Beyoncé ali. Demos meia volta. “Ano que vem te levamos pra conhecer o Papai Noel, filho. De preferência, em Novembro”.  


Feliz Natal a todos!

quarta-feira, 7 de dezembro de 2016

O paraíso dos gordinhos


Pensa numa pessoa magra. Agora pense nela de lado. Agora pense em uma pessoa de frente tão magra quanto a pessoa magra de lado. Esse era eu há cerca de 8 anos atrás. O tempo, contudo, aliado à minha gordice desenfreada, foi cruel comigo, e hoje tenho um corpo mais arredondado do que deveria. Eu tenho lutado contra, afinal vou e volto do trabalho quase todos os dias de bicicleta, almoço cerca de 350g de comida caseira, com uma quantidade aceitável de salada e evitando ao máximo frituras, evito tomar refrigerante. Mas perco a linha no momento em que colocam na minha frente uma bandeja com coxinhas, bolinhas de queijo e brigadeiros. O problema se agrava no momento que você tem um filho, afinal crianças conhecem outras crianças, e essas crianças fazem aniversário - e você tem que levar seu filho nos aniversários. Aniversários esses que estão recheados de bandejas com coxinhas, bolinhas de queijo e brigadeiros.

E tenho dito!

Essa extensa introdução foi apenas para tentar - em vão - justificar o fato que, por mais que eu tente (e deseje) manter um corpo sarado e saudável, o universo de um pai conspira para que ele ganhe uma pança de respeito - e não estou nem falando de cerveja e churrascos da galera do futebol. Aniversários de criança normalmente possuem a maior quantidade de porcarias alimentícias por metro quadrado dentre todos os eventos sociais conhecidos pelo homem, e enquanto elas gastam as calorias (que ganham ao comer aquelas bolas de farinha e ovo fritas em óleo denso e as bombas de açúcar e chocolate cobertas por confeitos) correndo, brincando de pique-esconde, de cama elástica e num bate-bola qualquer, os pais ficam sentados na mesa e consumindo de forma letárgica os mesmos alimentos - afinal, o que há de melhor para fazer?

Eu

O pai (no caso, eu) normalmente é o mais bem-aventurado nessas ocasiões, afinal é comum que as mães façam amizades com as outras mães, e o pai fica responsável por simplesmente a) levar a família na festa (como bom patriarca que é), b) comprar o presente de aniversário (para mostrar à família do aniversariante que o prejuízo que ele causará ao comer e beber demais não terá sido em vão) e c) sentar na mesa e comer, de forma quase anônima, enquanto filho e mãe socializam. Apesar desses passos simples, o pai precisa se policiar para não comer como se sua vida dependesse daquela refeição, pois aí ele corre o risco de ser o “gordinho misterioso” da festa, aquele que todos os convidados reparam e comentam que está comendo horrores, mas ninguém sabe exatamente quem ele é, com quem veio e qual a criança que está fadada ao sobrepeso caso herde a compulsão paterna.

Eu [2]

Por fim, talvez o sentimento mais triste de ir a aniversários é o dia seguinte: você sempre se lembra, com saudades, daquela coxinha que ficou no prato porque você não aguentou mais, aquele brigadeiro que acabou ou o cupcake que parecia bonito na mesa mas você ficou com vergonha de pegar. O único pensamento possível é “deveria ter comido mais”. Não adianta: aniversários de criança são um paraíso para os gordinhos, e você, enquanto pai, deve honrar a tradição de acompanhar suas crianças nessa empreitada, afinal, ao menos uma vez ao ano, você é que vai financiar essa comilança toda.

sexta-feira, 2 de dezembro de 2016

Desculpem o transtorno: precisamos falar de aborto


POLÊMICA! Talvez o assunto que mais inflame as massas, acima de direita e esquerda, Fla e Flu, bolacha e biscoito, é a questão da legalização do aborto. Nessa semana, o Superior Tribunal Federal (primeira turma) indicou que o aborto no primeiro trimestre de gestação não é crime, independente das razões para tal. Isso ainda vai dar muito pano pra manga, mas a Internet já ficou em polvorosa, com discussões a torto e a direita.

Assunto mais polêmico do que mamilos

Eu não me vejo em posição para opinar, afinal só uma mulher pode dizer quais são os fatores que envolvem uma gravidez indesejada - e a gravidade aumenta com a quantidade absurda de homens covardes, irresponsáveis e negligentes que se acham no direito de não ajudar ou não assumir os seus próprios feitos (afinal, para que uma criança nasça, precisa da participação de um homem e uma mulher, não?). Contudo, na minha posição de SER HUMANO, vejo essa lei como um precedente terrível para o futuro.

"sem útero, sem opinião" - difícil argumentar contra isso

Os argumentos que mais vi nos últimos dias das pessoas que aprovam o aborto são “e em casos de estupro, a mulher é obrigada a arcar com as consequências?”, “meu corpo, minhas regras” e “por que você se importa se a sua vizinha vai abortar? Você se importa se o seu vizinho é homossexual? Cada um que cuide da sua vida!”. O primeiro caso realmente é delicado: o sexo sem consentimento ainda, infelizmente, é um grande problema cultural e de educação não só no Brasil, mas no mundo todo. Quanto à questão do corpo ser da mulher, é verdade - não dá para negar que a mulher é quem carrega (literalmente) todo o peso da gestação, mas há de se lembrar que, dentro desse mesmo corpo, há um outro corpo, e um que não tem culpa de estar lá dentro. E, por fim, se meu vizinho é homossexual realmente não me importa, mas se eu ver ele chutar um cachorro, vou me importar sim.

O que quero dizer com o parágrafo acima é que eu, acima de tudo, sou a favor da vida. Tem gente que crê que, enquanto a criança não é um "serumaninho" com cara de joelho, ele não é uma vida. Que até o terceiro mês, não tem vida naquele embrião. Pois todas as mulheres que conheço que já tiveram um filho e que já conversei sobre o assunto do aborto, discordam (inclusive algumas que antes eram a favor da legalização). A ligação entre mãe e filho, desde os primeiros dias, parece ser algo muito forte, algo que homem algum vai ser capaz de sentir, e por isso mesmo eu creio de olhos fechados quando elas dizem que já no início o seu filho, de corpo e alma, está lá dentro. Estupro, sexo não consentido, o padastro que abusa da enteada, são coisas muito tristes e, apesar de existir métodos contraceptivos e até pílula do dia seguinte de graça em posto de saúde, nem sempre os que mais precisam de proteção ou de uma medida de emergência após um ocorrido trágico conseguem ter acesso aos meios corretos para evitar que um aborto seja levado em conta. Dói no coração de pensar que, talvez, para esses casos extremos, o aborto seja a melhor opção, a fim de não colocar em risco a qualidade de vida tanto da criança quanto da mãe.

Mas sabemos que a legalização do aborto não compete apenas a esses casos - e é aí que eu fico incomodado. A falta de maturidade e de senso de responsabilidade de muitos - principalmente jovens - acaba banalizando o que deveria ser algo divino: a concepção de uma criança. Enquanto existem famílias que lutam desesperadamente para conseguir ter um filho, outros fazem sexo sem se proteger adequadamente e, caso ocorra uma gravidez indesejada, provavelmente terão como primeiro pensamento procurar uma clínica de aborto, afinal a saída mais rápida para fugir de uma responsabilidade é “sumir com o problema”. Conheço histórias lindas de famílias que foram criadas a partir de uma gravidez indesejada (dentro da minha própria família, inclusive) e tenho comigo que nada é por acaso - talvez aceitar ter um filho, mesmo que inesperado, pode ser o “erro de percurso” necessário para a vida de um casal tomar um bom rumo.


Creio que o problema não reside necessariamente na legalização ou não do aborto, mas sim num trabalho educacional - a população precisa entender a importância da prevenção de uma gravidez e as consequências de conceber uma criança. Além disso, a própria cultura da “mulher objeto” precisa ser combatida, de forma que o abuso contra mulheres seja diminuído o máximo possível, e assim não termos mais que discutir o que é melhor para um bebê: ser morto antes de nascer ou nascer num mundo hostil que não está preparado para ele. Mas talvez eu só esteja sendo machista.

P.S.: Para casos de mulheres/meninas que conceberam uma criança de forma indesejada (independente dos motivos) mas que não desejam abortar, existe no Brasil inteiro instituições que auxiliam nos cuidados, nos custos e na saúde da mãe e do bebê, como a Casa Pró-Vida.

quarta-feira, 16 de novembro de 2016

Curtinha #3


Feriado da Proclamação da República. Aproveitei a folga para me reunir com uns amigos para uma jogatina e voltei de madrugada, esperando dormir o suficiente para descansar. Meu filho não pensava o mesmo, afinal acordou antes das 7 da manhã. Minha esposa, também sonolenta, resolveu levar o guri para nossa cama, para tentar inspirá-lo a voltar a dormir. Não funcionou. Entre risadas, gritinhos, balbucias e engatinhadas por todo o colchão (com direito a joelhadas e cotoveladas em nossas costas), ele expôs sua vontade de permanecer acordado, e acabei tendo que ceder. Sei que, dados os acontecimentos dos últimos meses, você, leitor, pode dizer “ah, mas você deveria estar feliz e agradecido por ele estar assim, é sinal de saúde!”. Concordo, e realmente estou feliz e agradecido. Só queria poder ter ficado feliz e agradecido umas duas horinhas de sono depois.

quinta-feira, 10 de novembro de 2016

Temos que pegar!


Sei que não é a coisa mais compreensível do mundo um adulto de 31 anos jogar via celular um game de realidade aumentada com bichinhos fofinhos, mas eu admito: sou um jogador de Pokémon Go. Pois é, por mais que a vida tente me tornar um adulto, eu não consigo deixar a minha criança interior muito longe. A minha esposa também me acompanha de vez em quando na jornada para nos tornarmos grandes mestres Pokémon, o que prova que Deus tava certo quando juntou nós dois.

Eu sou muito maduro, tá legal??

Antes que me julguem, entendam que a criação e divulgação desse joguinho ativou a minha nostalgia da infância, lembrando dos desenhos e jogos de videogame com quem gastei horas e horas da minha vida infanto-juvenil. O que eu não podia prever, na verdade, é como esse jogo me fez pensar nas coisas que gostaria de fazer com meu filho no futuro.

Calma, eu explico: por várias vezes quando eu e minha excelentíssima saímos para passear no parque e caçar os monstrinhos, vimos pais/mães com seu(sua/s) filho(a/s) jogando em conjunto, e o entusiasmo dos pequenos querendo mostrar aos pais os bichos que capturaram, junto com a alegria de poder fazer tudo aquilo com a companhia dos pais, chega a ser tocante. Queria, por um momento, que o guri tivesse mais idade pra poder nos acompanhar nessa brincadeira, mas também entendo que não é preciso colocar a carroça na frente dos bois: temos vários momentos para curtir com ele até que esteja com idade para sair por aí tal qual o Ash e pegar seus Charmanders, Pikachus e Bulbassauros.


Na verdade, o mais bacana disso tudo é ver uma interatividade entre pais e filhos sem ser forçada, sem ser “obrigação dos pais”, sem filhos num canto, com seus tablets, mexendo em seus joguinhos e seus desenhos enquanto os pais estão em outro canto, com seus outros gadgets, sem trocar uma palavra ou experiência com as crianças. Nesse mundo moderno, tem sido tão difícil ver essa interação familiar que vi no Pokémon Go - ironicamente um jogo que usa os mesmos tablets e gadgets - um exemplo a ser seguido para que as famílias possam voltar a sentirem-se mais unidas e se divertirem em companhia uns dos outros.

Mas o grupo do Whatsapp tá bombando!

“Ah, mas tem várias formas de brincar junto com os filhos sem ser com esses aplicativos inúteis!”, o “conservador anti-Pokémon Go” pode dizer. É verdade, mas você que é pai e mãe, responda com sinceridade: qual foi a última vez que passou mais de uma hora interagindo com suas crias? Não estou dizendo de levá-los no parquinho e ficar de olho enquanto eles brincam no escorregador, nem sentar do lado deles para assistir Procurando Nemo pela quinquagésima-segunda vez, mas sim BRINCAR, SE DIVERTIR junto com eles. Hoje o mundo está muito dinâmico, tudo é muito rápido, e as pessoas se entediam com muita facilidade. Por isso é bom, sempre que possível, parar por um momento e refletir no que podemos fazer para que pais e filhos tenham um entretenimento em comum. Provavelmente o Pokémon Go não vai resistir até que meu filho tenha idade para brincar conosco, mas espero, desde já, encontrar meios para perder (ganhar) uma hora de diversão com ele sempre que possível. Aceitamos sugestões!

sexta-feira, 4 de novembro de 2016

O doce som do berreiro


Madrugada de uns 10 dias atrás. Acordei assustado, ouvindo um choro de criança. Deveria ter ficado incomodado, afinal meu sono foi interrompido e eu precisava acordar cedo para trabalhar, mas eu acabei abrindo um sorriso. Pode parecer estranho, mas sorri porque a voz alta e esganiçada vinha do meu filho, fazendo manha. Voz essa que eu não ouvia há mais de 1 ano.

"Hora de acordar, cambada!"

Para quem não sabe ou não lembra, meu filho precisou fazer uma traqueostomia com 11 meses, e desde então ele ficou, dentre outras coisas, sem poder falar. Há algumas semanas, iniciamos o processo de ocluir a cânula (ou, em bom português, “tampar a bagaça”) com um rolinho de esparadrapo, para que ele se habituasse a respirar pelo nariz e boca. Já no segundo dia ele passou quase todo o tempo, tranquilão, sem se preocupar com a traqueo tampada (isso, claro, quando ele não tirava o esparadrapo e colocava na boca, normal). Com isso, tivemos coragem o suficiente (junto com acompanhamento médico, claro) para tirar a cânula de traqueostomia de vez, e no momento ele já está sem, com o buraco na garganta já quase completamente fechado e tampado com curativo, aguardando apenas uma cirurgia simples para costurar e concluir de vez a Saga da Traqueostomia.

Muito bem, guri!

Mas agora começará uma nova saga: a Saga da Fala. Como se ensina uma criança a soltar a voz novamente, sendo que ela passou 1 ano da vida (e bem o período onde aprenderia a falar) sem poder emitir sons pela boca? Imaginem a frustração de ver que ele já mexia a boca para falar “mamãe” e “papai”, mas agora que pode soltar a voz, quando pedimos para ele falar “mamãe” ou “papai” ele apenas mimetiza com a boca? Como vamos tirar a mania dele apenas apontar ou chamar com a mão para as coisas/pessoas que ele quer e começar a pedir e chamar usando a voz? Obviamente ele terá um tratamento especial com fonoaudiólogo e com o tempo deve aprender a importância de usar a fala, mas por enquanto só nos resta rir e curtir suas balbuciações, gargalhadas, gritinhos e choros - afinal, se tem algo que ele não precisou reaprender, é como abrir um belo berreiro.


segunda-feira, 31 de outubro de 2016

Ainda tem alguém ai?


Alô? Alguém aí? Bem, ao contrário do que possam ter pensado aqueles que notaram a inatividade do blog nos últimos meses, eu não fui abduzido por alienígenas. Também não fui recrutado por uma agência secreta para virar um espião de elite, tampouco ganhei na Mega-Sena e fui morar em Mônaco, numa cobertura de frente para a Sainte-Dévote.

Mônaco parece um lugar bacaninha pra morar

No último texto, informei que meu filho passou o aniversário dentro do hospital. Bem, a saga do hospital, na verdade, durou até o início de Agosto, por conta de uma complicação ocorrida após a cirurgia para reparar a laringe do pequeno: ele teve duas paradas cardiorrespiratórias e, por consequência, sofreu lesões cerebrais, que impactaram severamente nos movimentos dos braços, das pernas e também em sua visão, além de constantes convulsões. Por semanas, ele se tornou um “recém nascido”, sem quase se mover, sem conseguir firmar pescoço, costas e membros. Mal interagia conosco. Como a proposta desse blog, acima de relatar o dia a dia de um pai com seu filho, é relatar o dia a dia de um pai com seu filho utilizando o bom humor, resolvi dar um tempo, já que - como podem imaginar -, meu humor estava um tanto quanto abalado.

Mais deprimido que o Ben Affleck falando de Batman v Superman

Mas se eu estou escrevendo aqui agora, é porque as coisas melhoraram, certo? Certo! O guri teve uma evolução incrível, chamada de “milagre” algumas vezes por uma das neurologistas que o atendeu. Foram mais de 3 meses de luta, choros e risadas, com muitos tratamentos, muitos sustos e muitas comemorações, e hoje posso dizer que, se ele não está 100%, está cerca de 92,3% recuperado de todas as enfermidades.

Rumo aos 100%!!!

Quem acompanha mais assiduamente esse pequeno sítio eletrônico na rede mundial de computadores sabe que sempre me questionei sobre o motivo de ter criado o Um Ser Pai. Agora, penso que sei a resposta: para mostrar ao mundo (ou para os fiéis 1500 seres que curtem a página no Facebook e para quem eles quiserem compartilhar essa história) que milagres existem, basta ter fé e apoio de todos que nos querem bem. Nesses últimos 3 meses, conseguimos junto a amigos e parentes (e amigos de parentes) uma corrente enorme de orações e vibrações positivas que tenho certeza que foi primordial para a recuperação do pequeno, afinal os próprios profissionais da área médica se surpreenderam com a evolução apresentada - enquanto o primeiro eletroencefalograma, feito após o ocorrido, indicou várias e várias lesões em todos os pontos do cérebro do pequeno, o último, feito semana passada, tem como resumo do laudo “dentro dos limites da normalidade para a idade”. Você, leitor, talvez não seja religioso, não creia num dogma de fé, não acredite em uma força superior e até ache que tudo isso que estou escrevendo é besteira, mas quero deixar aqui, registrado, que fomos parte de uma experiência traumática que terminou excedendo todas as expectativas de melhora, e nesse cenário é difícil não crer que houve uma “ajuda externa”. Chame de Deus, de Jesus, de Santo Inácio de Antioquia, de Oxalá, de Odin, de Mestra Suprema da Força que Rege a Vida, do que quiser. Diga que “Ele” ajudou os médicos a saberem como agir e qual tratamento indicar, que “Ele” apontou para nós qual profissional procurar ou que “Ele” trabalhou diretamente no corpo do nosso filho para recuperá-lo. Não importa como você prefira explicar (ou tentar explicar) o que nos levou a ter nosso filho de um estado semi-vegetativo a uma criança saudável e “comum”, mas acredite em mim: foi algo sobrenatural. Eu, particularmente, creio que foi obra de Deus.

Há quem ache que milagres são instantâneos, que um curandeiro vai dizer ao manco “levanta-te e anda” e ele sairá saltitante. Pois eu te digo que milagres são feitos com calma, com esmero, como uma escultura de barro. Sei disso porque vivenciei um nos últimos 3 meses. Na verdade, tenho vivenciado um há mais de dois anos, quando vi, pela primeira vez, o meu filho!

Agora posso dizer, com toda a certeza, que os dias de cão terminaram!


segunda-feira, 18 de julho de 2016

2 anos de Brucioêine


Hoje é o aniversário de 2 anos do guri. Era uma data que estava sendo esperada cheia de expectativas, pois há uns 2 meses tivemos uma confirmação do médico que seria possível remover a estenose através de cirurgia e, consequentemente, a traqueostomia. Logo, já estávamos nos preparando para ensinar nosso filho a assoprar as velinhas no dia da festa.

Não seja esse amiguinho

Mas o destino - novamente, aquele sarrista - tratou de nos pregar mais uma peça: a cirurgia demorou por conta da burocracia do plano de saúde, e embora a cirurgia - feita no início do mês - tenha sido um sucesso, nosso filho não deu conta de respirar sem o auxílio da traqueostomia. Algo “comum”, segundo o médico, pois ele já havia “desaprendido” a respirar com nariz e boca. Imagine.

No frigir dos ovos, a solução foi colocar novamente a traqueostomia, e fazer a retirada aos poucos, diminuindo a largura da cânula de traqueostomia periodicamente, de acordo com a capacidade respiratória do bacuri. Resultado: ele vai passar o aniversário de 2 anos dentro do hospital.

viva... (...) ¬¬

É um sentimento agridoce, pois ao passo que sabemos que já foi retirado o que o impedia de respirar normalmente, ele ainda permanece com aquele “caninho” no pescoço. Estávamos já consolados em esperar até 3, 4 anos de idade - segundo a primeira previsão do médico - para a retirada, mas ouvir que seria possível retirar antes dos 2 anos nos fez imaginar e fantasiar tudo o que não tivemos quando ele tinha a idade em que normalmente as crianças começam a falar.

Não vai dar para soprar as velinhas de 2 anos, mas espero que no aniversário de 3 ele já possa cantar - mesmo que errado - a canção de parabéns. E que Julho de 2017 nos dê um descanso, porque passar o mês no hospital pelo quarto ano seguido seria para deixar qualquer um louco.

Feliz aniversário, moleque! Esse ano não vai ter festa, mas ano que vem vai ser de arromba!

Disney: nos aguarde!

quarta-feira, 6 de julho de 2016

Curtinha #2


Voltando do trabalho de bicicleta, lembro que não há comida em casa e minha esposa não está lá - ou seja, o milagre da geração espontânea de alimento não irá acontecer. No caminho, passo em uma lanchonete, de onde eu tenho um cupom de desconto para um sanduíche e um refri, para levar o lanche para casa. Percebo a burrada que fiz no momento em que a atendente me entrega o sanduíche com a bebida em um copo de plástico com tampa para o canudinho, numa embalagem de papel para viagem. Penso "como vou levar isso de bicicleta???". Abro a mochila e coloco o pacote com todo o cuidado num canto, cercando-o com todos os pertences que possuía. Pedalo em direção à minha casa, passando pelos 8km de trechos tortuosos e sinuosos, com direito a subidas íngremes, descidas mais íngremes ainda, além de um trecho de brita e uma ponte de tábuas de madeira, inclinando e reclinando o corpo a fim de evitar ao máximo o chacoalhar a mochila. Ao chegar em casa, já desiludido, imagino que meu lanche e minha mochila estão lavados por xarope de caramelo. Surpreso, vejo que apenas uma quantidade ínfima de refrigerante molhou apenas um pedaço do fundo da embalagem, mantendo lanche, mochila e pertences secos. Penso “vitória!”. Fim.



“Tá, mas o que isso tem a ver com o tema do blog, sobre paternidade e tudo mais?”, você pode perguntar. Bem, é simples: todo pai, principalmente os de primeira viagem, se sente inseguro por várias vezes, sem ter certeza que tem capacidade de cuidar do seu rebento em todas as ocasiões possíveis. Bem, se eu consegui cuidar de um copo de refrigerante com tanto esmero, sinto que posso fazer qualquer coisa para garantir a integridade do meu rebento!

sexta-feira, 1 de julho de 2016

2 anos de Um Ser Pai!

YAY!

Admito que não tinha ideia sobre o que escrever hoje. Ao passo que parece ser um dia importante, comemorativo, legal, bem loco, empolgante, minha mente estava num branco só.

LEITE!

- Pensei em escrever sobre a evolução do blog nesse último ano, mas ela foi pequena. Eu diminuí o número de textos por motivos de força maior, e o número de seguidores cresceu pouco;

- Pensei em escrever sobre a evolução do meu filho, mas isso eu faço nos textos, sempre que possível;

- Pensei em fazer igual ano passado e implorar por likes, comentários e compartilhamentos, mas achei que iria ficar repetitivo;

- Pensei em encerrar o blog, mostrando a estrada percorrida até aqui e assumindo que não estou dando a atenção merecida ao blog;

- Pensei em virar hippie e viver da minha arte, das coisas que a natureza dá, mas aí lembrei que tenho um filho pra alimentar.

A Milena aprovaria essa vida

Quando já estava até desistindo de publicar algo, eis que ontem - às 22h (horário que a criança nem devia mais estar acordada) - eu passei meia hora assistindo, bobo, meu filho andar de um lado a outro da sala, empolgado, dando risadas e aplaudindo a si mesmo pelo feito. Foi a primeira vez que ele andou sozinho e em grandes distâncias (levando em consideração que 2 metros é uma grande distância para ele). Se for contar o percurso de ida e volta dele durante esses 30 minutos, ele facilmente está pronto para a meia-maratona nacional de bebês até 2 anos de idade. Chance de medalha!!

Usain Bruce

Ignorando a empolgação paternal que te faz babar por qualquer coisa que o filho faz, imaginei que aquela era a forma dele me relembrar dos motivos que criei o Um Ser Pai, e que essa data deveria SIM ser comemorada. Foi como se ele me dissesse “siga em frente!” (♫ olhe para o lado ♫)

Então, segue o barco! Vamos para mais um ano de blog! Rumo a um milhão de compartilhamentos! (Sonhar não custa nada, não é?)

sexta-feira, 24 de junho de 2016

Falando e andando


Se perguntarem aos pais e mães de bebês “quais os dois fatos mais esperados por vocês que o bebê faça?”, acredito que 10 entre 10 dirão “falar e andar”. Por uma baita ironia do destino, meu filho nasceu com pé torto e teve que fazer uma traqueostomia às vésperas do primeiro ano de idade. Isto posto, acho que qualquer pessoa com o mínimo de empatia pode imaginar o quão frustrante foi para mim e minha esposa saber que nosso guri teria dificuldades para conquistar esses dois marcos importantes da evolução bebezística em seu tempo normal.

Por isso, não é de se estranhar que ontem, ao ver nosso filho com quase 2 anos dando 5 passos entre mim e o sofá da sala, nós tenhamos comemorado tal qual Galvão e Pelé no célebre momento do “É TETRAAAA! É TETRAAAA!”

Para os novinhos e novinhas que não fazem ideia sobre o que eu estou falando.

Não importa o quanto você se esforce, sempre acaba, mesmo que inconscientemente, comparando seu filho a outras crianças da mesma idade. Ou ele é pequeno demais, ou fala menos palavras, ou faz menos gestos, ou ainda não sabe jogar Candy Crush… O fato de ter um filho prematuro-com-pé-torto-usando-traqueostomia piora a situação para o meu lado, pois não consigo saber se uma coisa ou outra que ele ainda não faz é algum efeito colateral de suas condições ou se é normal que uma criança evolua mais rápido que outra em um determinado campo - o que é perfeitamente aceitável se usarmos o pensamento lógico. Mas quando se é pai, pensar logicamente é complicado - ser pai é ser passional o tempo todo. Logo, preciso de um choque de realidade para perceber que meu filho pega o controle remoto e aperta os botões já olhando para a TV, esperando algo acontecer, entre outras coisas que ele faz e eu penso “como é que uma criança de menos de 2 anos entende isso?”.

"Pai, me ajuda nessa fase aqui?"

É inevitável que eu faça comparações ou fique imaginando em vão quais as sequelas que as dificuldades do guri podem causar - se é que causarão alguma - mas isso é apenas uma pequeníssima parte do tempo que passo pensando nele e em seu futuro - isso só ocorre quando bate a famosa bad. Eu já disse em um texto anterior e digo novamente: as melhores conquistas das crianças estão nos pequenos atos. Vê-lo já saber colocar todos os blocos de formas diferentes dentro do cubo do quebra-cabeça me traz mais orgulho do que qualquer “papai” que eu pudesse já ter ouvido - mesmo porque eu mesmo já confundi um semi-círculo com uma meia-lua ao tentar brincar com ele.

Vá dizer que não é pra confundir???

segunda-feira, 13 de junho de 2016

Curtinha #1

Hoje vou iniciar um novo tipo de postagem para movimentar um pouco esse blog, já que não tenho mais conseguido criar textos na frequência que gostaria. Serão textos curtos, de um parágrafo, com algum pensamento, causo ou relato, que intercalarei com as postagens principais. Espero que gostem!

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Comprar presente para menino de 2 anos é uma tarefa muito difícil. Menina é mais fácil, afinal tem vestidinho, bicho de pelúcia, boneca, tiara, cachecol rosa com bolinhas felpudas nas pontas... Mas um menino de 2 anos está na idade entre largar chocalhos e começar a gostar de carrinhos e bola. Me vi há quase uma hora em uma loja de departamentos procurando algo, até prestar atenção em um moletom de touca com um tiranossauro amigável estampado na altura do peito. Me fez rir. Pego o moletom e me dirijo até o caixa, para pagar. No meio do caminho, meus olhos fitam em algo que nunca teria prestado atenção antes de me tornar pai: uma gôndola com um conjunto de 3 pares de meias infantis em promoção. Mas dar meia de presente para uma criança??? Muitos dos traumas de infância da geração de hoje provavelmente tem relação com presentes como meias e cuecas quando o infante esperava ansiosamente por um Comandos em Ação ou um Hot Wheels. Não, meia não é presente para criança. Mas está muito frio, não é mesmo? Penso naqueles pezinhos descalços, ruborizados por conta da baixa temperatura e duros e gelados como um picolé de limão. Mas não, não vou levar as meias. Ok, levo as meias também. Me explico para a mãe da criança após dar o presente em sua festa de aniversário. Fim.

quarta-feira, 8 de junho de 2016

Quando eu digo NÃO é NÃO!


Eu adoro animais (inclusive no meu primeiro vestibular minha segunda opção de curso foi Biologia), e sempre quis ter um animal de estimação (haja vista que sempre morei em prédio). Mas minha esposa, essa adora mais ainda. A maior diferença entre nós no quesito “empatia com bichos” é que, enquanto eu os vejo como “animais de estimação” - prezando mais por obediência do que carinho, minha idolatrada cônjuge virago é daquelas que chegam a chamar o animal de “filho”. Não que eu veja algo de errado nisso, acho até bonito. Mas essa diferença de mentalidade causou um pequeno “stress conjugal” há algumas semanas.


"QUE DAORA, CARA!"


Eu chamei a atenção do nosso cachorro por alguma desobediência, e fui repreendido por minha Senhora dizendo que eu só brigo com ele. Retruquei, explicando que ele estava “ficando folgado” porque ela não mantinha o pulso firme, e complementei: “quero só ver quando o guri estiver maior e você reclamar que estou brigando com ele quando ele nos desobedecer”. Ela mandou uma tréplica, afirmando que “se for para só brigar com ele e não dar carinho, vou defender ele sim”. Nisso, um grupo de moleques da quinta série que passavam pela rua no mesmo momento gritaram para mim, em uníssono “AH LOOOOOOOOOOCOOOO!!”. Ok, essa parte é mentira.


"AH LOOOOOOOOOCOOOO!"


Tá, mas esse texto é sobre crianças, pais ou cachorros?”, você pode perguntar. Bom, é sobre de tudo um pouco, mas mais precisamente, sobre o poder do “não” e como ele deve ser aplicado. Realmente, eu deveria dar mais atenção ao cachorro, mas isso não implica em “brigar menos” com ele quando há uma desobediência. O mesmo deve acontecer no decorrer do crescimento dos filhos, e é muito importante que o “não” seja dito na hora, sem exageros e, principalmente, em comum acordo entre os pais.


"nananinanão!"


Conheço casos dentro da família, de amigos e de conhecidos onde o pai ou a mãe contradizem o respectivo cônjuge, causando uma confusão na cabeça do pequeno rebento, conhecida pelo termo científico “vou pedir para o meu pai (ou minha mãe) porque ele(a) arrega”. O fato é comum e provavelmente você já presenciou (ou até foi o protagonista de) um momento como este:
Filho(a): Mãe, posso comer sorvete?
Mãe: Não, só depois do almoço.
Filho(a): Mas mãe...
Pai: Dá um pouco de sorvete para a criança, mulher! O que custa?


Veja que, no exemplo acima, há um conflito de ideais perante à situação, e expor esse conflito na frente do filho dá a ele a impressão que não há uma hierarquia familiar, onde “pais mandam em filhos”, mas sim uma anarquia onde “cada um pode fazer o que quiser, inclusive eu”. E nesse caso, estamos a um fio de ouvir a criança mandar um “Eu quero e pronto! O que custa?” na próxima vez que ouvir uma negativa de um dos pais.


"Não me interessa como, eu quero agora!"


A melhor forma de tratar essa situação seria o pai reforçar o “não” da mãe e, em um outro momento, em que estivessem sozinhos, o pai explicar à mãe seu ponto de vista, dizendo que, numa próxima vez, ela poderia reavaliar a condição de dar um pouco de sorvete para o filho. Em outras palavras, conversarem a respeito, apresentarem seus pontos de vista e, no fim, o marido acatar a opinião da mulher, já que casamento feliz é aquele onde a mulher opina e o marido concorda.


Topo do bolo do nosso casamento... Ok, mentira de novo.

Independente do grau de entendimento da situação (ou de noção) de cada progenitor, é muito comum (e até importante) que hajam pontos de vista diferentes, mas na frente da criança o pai e a mãe precisam falar a mesma língua, para ela compreender o significado daquele velho ditado que diz “quando eu digo NÃO é NÃO!”.