Sabe aquelas histórias que acontecem nas nossas vidas e que parecem uma aventura de algum roteirista hollywoodiano, com várias reviravoltas e tensões, onde no fim você só torce para não ter sido escrito pelo George R. R. Martin? Ontem foi um dia desses.
No fim da tarde minha esposa me liga, dizendo que estava com um aspecto amarelado, mas passava bem. Como ela estava grávida, não pensei duas vezes: vamos ao hospital. Chegamos lá mais ou menos 17h30, e logo ela foi atendida. Fizeram vários exames nela, por mais de quatro horas, e depois de verificarem que o bebê estava bem, mas os exames com alterações, nos mandaram para a maternidade: ela provavelmente seria internada para realizar uma cesárea.
Encostei o carro na maternidade um pouco depois das 22h - no meio tempo bati um cachorro quente de esquina que ficou se revirando no meu estômago madrugada adentro - e demos entrada para a verificação da médica, junto com os exames. Ela, aparentemente nova, olhou os exames estupefata, e ligou para o obstetra da minha esposa, para passar as informações. Eis que o médico diz “em <insira aqui um número grande> anos de profissão nunca vi um caso desses”. Aí, como diria o Araketu, “o corpo estremece e as pernas desobedecem”. Já fiquei tenso. A médica e o obstetra, com medo de alguma complicação que poderia acontecer durante a cesárea, nos encaminharam para outro hospital, que também possuía maternidade. E lá vamos nós, 11h30 da noite correr para o terceiro hospital do dia. Nesse meio tempo, começou a cair o maior toró - e obviamente me molhei para pegar o carro.
Enfim, chegamos ao ponto final. Mais uma vez demos entrada, e um médico mais velho foi atendê-la. Ele, indignado, reclamou “como te encaminharam para cá sem me ligar? Estamos sem vaga na maternidade!”. Dentro de mim o Araketu tocou de volta, enquanto o doutor continuou “temos que interná-la já, e ver o que fazer depois!”.
Resumo da ópera: após vários telefonemas para Deus e o mundo, decidiram: iriam operar minha esposa lá e depois encaminhar o bebê para a outra maternidade - aquela que eu tinha ido antes. Tudo pronto, tudo certo, tudo resolvido, próximo passo: subir para a sala de cirurgia. Nesse momento já era 1h30 da manhã de hoje, e as informações que eu tinha eram: 1- minha esposa estava com exames alterados; 2- a cirurgia era urgente; 3- meu filho prematuro ainda seria transportado para outro hospital após nascer, no meio da madrugada e com uma tempestade rolando lá fora. Acho que qualquer um no meu lugar entende que não era um momento tranquilo de espera.
Então eu, acompanhado de alguns membros das nossas famílias, aguardei. Nervoso, mas sem deixar transparecer, aguardei. Mandando mensagens e respondendo amigos e parentes pelo celular, aguardei. 2h, nada. 3h, nada. 3h40 me chamam. Eu mando o Araketu se catar e vou firme falar com o pediatra: o pequeno Brucioêine havia nascido! Estava bem, se recuperando na incubadora. Pude vê-lo rapidinho e tirar uma foto. Cabeludo igual ao pai, com o nariz da mãe. Uma pessoinha em miniatura. Me informaram que conseguiram uma vaga no mesmo hospital, então não precisaria mais deslocá-lo. Cerca de 527 toneladas haviam saído das minhas costas, mas ainda tinham mais 527 lá, no aguardo de informações da minha esposa.
Demorou mais ainda. 4h, 4h30, 5h. Então me chamaram de volta. Ainda deu tempo de sofrer um bullying da enfermeira, dizendo que eu não tinha cara de pai(EU SEI!). Enfim, disseram que estava tudo bem, e que ela ficaria em observação por um tempo, para se recuperar da cirurgia. Agradeci a Deus e aos médicos, e pude falar com ela rapidinho - embora ainda estivesse bem anestesiada.
Cheguei em casa 6h da manhã, exausto, física e psicologicamente, mas feliz. Feliz porque deu tudo certo, independente de todas as reviravoltas ocorridas no dia. E com a certeza que essa seria, daqui um tempo, apenas uma boa história pra contar - e com o final feliz. Chupa, George R. R. Martin!
E foi assim, crianças, que eu conheci o meu filho.
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