quarta-feira, 23 de julho de 2014

Perdendo dentes


Semana passada, enquanto estava na sala de espera de um consultório, me deparei com uma cena que vejo a cada dia com mais frequência, e toda vez me deixa estarrecido: uma criança, com no máximo dois anos e pouco, fazendo tudo o que queria, e os pais sentados, observando tudo. O guri subia no sofá, pulava de uma cadeira para outra, gritava com o pai para ele "sair da frente" - e o pai saía. O mais absurdo foi a mãe, com a maior serenidade do mundo, pedir para o menino sair de cima do sofá e ele, olhando fixamente nos olhos dela, com o dedo em riste, falou com austeridade "NÃO!".

Se eu tivesse a pachorra de fazer isso na minha infância, meu pai iria me segurar e falar baixinho "se você não ficar quieto, vou te quebrar 3 dentes com um só tapa“. Era o suficiente para eu me aquietar e nem arriscar continuar meu apocalipse particular.

A propósito:  obrigado, pai, por me ensinar a cuidar dos meus dentes e entender o valor deles em minha vida!

Apesar das ameaças, dá pra contar nos dedos de uma mão quantas vezes apanhei. Aprendi a ter respeito - e medo - desde cedo, e em raros momentos passei dos limites. A meu ver, a grande diferença entre eu-criança e as crianças de hoje é a preguiça dos pais.

É fácil de identificar: junto com uma criança fortemente candidata a ser mais uma da "geração leite com pera" está um pai que acha estar cansado demais da sua exaustiva jornada de trabalho de 8h com a bunda sentada numa cadeira estofada e uma mãe que já se encheu de "brincar de casinha" e fica mexendo no celular - no Whatsapp com as amigas reclamando da vida ou jogando Candy Crush. Os estereótipos, obviamente, mudam de casal para casal, mas o fator comum é a falta de vontade de reprimir a criança no começo do erro, e a bola de neve só aumenta. Aí esse mesmo casal depois vai querer assistir Super Nanny e repassar os “castigos politizados” para a vida real.

A primeira coisa que eu pensei no caso de ser o pai da criatura: pegá-lo, levá-lo para fora, dar uma dura daquelas e voltar com ele como se nada tivesse acontecido. Não sei se me orgulho de, apesar de nem ser oficialmente pai na época, pensar em uma solução tão rápida e didática ou se fico com vergonha de ser tão ingênuo a ponto de acreditar que só isso seria o suficiente. Mas pelo menos eu faria algo a respeito.

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