quarta-feira, 13 de agosto de 2014

Dm

Há uns dias atrás fui comprar o Hot Wheels deste mês para o meu filho. Quando cheguei perto do caixa da loja, uma vendedora olhou para mim e perguntou “você faz coleção?” e eu respondi “não, é para o meu filho”. Ela me olhou por uns 2 segundos, virou as costas e saiu.

Tenho certeza que ela pensou que eu estava tirando sarro da cara dela, afinal eu não tenho cara de pai. Na verdade, eu mal tenho cara de adulto. Isso me fez pensar em quantas situações peculiares eu provavelmente passarei quando estiver com meu filho. Um costume geral da sociedade atual - e talvez desde sempre - é de analisar e prejulgar as outras pessoas apenas pelo olhar. Tenho certeza que pensarão que sou o irmão mais velho, o primo ou até mesmo mais um adolescente que engravidou a namorada de 15 anos e agora tem que arcar com o pesar de ser pai antes da vida adulta. “Mais uma família precoce que vai sofrer, meu Deus!”, será provavelmente o pensamento da Dona Cremilda.
Dona Cremilda não aprova gravidez na adolescência


Eu também não ajudo: ando, de preferência, de moletom de touca, camisa de time ou de banda, calça jeans e All Star. Quando boto um terno, pareço um pajem. Camisa social? Pareço um menor aprendiz. Teve uma vez que fui a um bar noturno, já com minha carteira de motorista à mão - pois sempre pedem - e o host apenas perguntou meu nome e me deu a ficha de consumação. Fiquei todo feliz! “Puxa vida, nem precisou pedir a minha carteira!”, pensei. Aí olhei bem na ficha, onde estava escrito em letras garrafais “MENOR”. Mesmo com uma aliança dourada na mão esquerda, o rapaz não teve dúvida alguma ao preencher os dados naquele maldito pedaço de papel.

Pra não dizerem que é mentira

Mas por que estou falando disso? Bem, hoje o meu filho finalmente recebeu alta e agora está em casa. É a partir de agora que terei que mostrar ao mundo que sou pai. Não que me importe com o que os outros pensam - passei 29 anos da vida tendo que conviver com isso, e passarei muitos mais. Você é julgado a todo momento, por todos, e deve lutar da forma que puder para que nenhum desses julgamentos te danifique de alguma forma. Só que agora não sou mais só eu. Agora tem meu filho também, e eu que terei que ser seu escudo por pelo menos mais 18 anos. Terei que protegê-lo da mesma sociedade que ele ainda fará parte, e tomando porrada no lugar dele, seja sendo considerado seu irmão mais velho, seja sendo considerado um pai “de menor”, seja afirmando que a coleção de Hot Wheels é minha quando ele tiver seus 15 anos e estiver com vergonha de assumir ao mundo que ainda coleciona carrinhos.

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