domingo, 3 de agosto de 2014

Sobre jarras de cristal e baratas

Hoje peguei o meu filho pela primeira vez. Quem leu o texto “Hamlet” sabe da minha preocupação para com tal fato. Embora ainda não tenha o peso ideal para sair da incubadora, as enfermeiras já possibilitam tirá-lo de lá para ficar no colo dos pais por um tempo. Minha esposa já tinha pegado, mas eu continuava me esquivando desse momento, visto que eu tinha me programado a pegá-lo só após os primeiros dois… anos.

foi mais ou menos assim que aconteceu

Sentei-me em uma cadeira ao lado do posto em que ele fica e uma das enfermeiras o enrolou em um cobertor. Não precisei nem fazer a posição “Hamlet”, mesmo porque ele é pequeno demais para isso. Ele pesa pouco mais que um quilo e meio, e ainda assim saí com meu braço esquerdo tenso e dolorido como se tivesse passado a tarde fazendo mudança. Não pareceu tão complicado, mas ainda assim aquela cabecinha molenga te dá a nítida impressão que ele pode quebrar só de olhar. E ele só dormiu. Dormiu como se tivesse em um lugar seguro e aconchegante, e não em um pedaço de braço que parecia estar no meio de um terremoto. Abriu os olhos uma ou outra vez e não pareceu se assustar em não estar no seu leito reto, fofo e quentinho, mas sim encostado no peito de um cara visivelmente assustado com a jarra de cristal caríssima que estava segurando.

Então, percebi: assim como uma dona de casa que morre de medo de barata, eu estava morrendo de medo de algo que, teoricamente, é inócuo. Não tinha motivos para ter medo de estar com ele, de segurá-lo, de mexer de um lado a outro. Ele é mais forte e mais resistente do que aparenta, e eu ainda o pegarei por inúmeras vezes durante toda a vida. Eis que consegui desativar a bomba relógio, agora só falta conseguir fazer isso das próximas vezes sem suar frio, sem tremeliques e sem deixar o braço tão tenso quanto o cachorrinho desta foto:


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