Ontem me tornei oficialmente “pai”. Não foi porque peguei meu filho no colo, nem porque dei a primeira mamadeira. Também não foi por receber a primeira vomitada de leite ou porque coloquei sua primeira roupa. Na verdade, não teve nada a ver com o meu guri.
Estava eu almoçando em um restaurante, entre as visitas na maternidade, quando um grupo de adolescentes sentou na mesa ao lado. Não costumo ouvir a conversa alheia, mas eles falavam tão alto que eu não conseguia nem ouvir meus próprios pensamentos. O grupo, de grande maioria feminina, devia ter entre 15 e 16 anos, e o assunto principal era “bunda”. Que menino tinha a bunda mais bonita, quem olhava pra bunda de quem, quem da mesa tinha a melhor bunda, etc.
Eu, ouvindo aquilo, e olhando para eles como se fossem crianças no playground, fiquei abismado com o assunto. “Mas são só crianças!”, pensei. Aí que, assim como Homer Simpson, tive uma epifania: quando eu tinha meus 15, 16 anos, eu aprendi a beber, comecei a ver as garotas “com outros olhos”, entre outras coisas que todo adolescente faz e não preciso detalhar aqui ( ͡° ͜ʖ ͡°).
“Valeu, dona peituda!”
Sempre acreditei que os pais eram, de certa forma, "hipócritas" ao criticar, coibir e até impedir que adolescentes fizessem coisas de adolescentes, já que é muito provável que eles fizessem exatamente as mesmas coisas quando tinham seus 15, 16 anos. Contudo, o acontecimento de ontem me provou que, ao atualizar o status para "pai", suas memórias de adolescência são enterradas em um canto obscuro da memória, onde tudo de rebelde e malicioso se transformou em lembranças de escorregadores, pega-pega e bonecos de Comandos em Ação - sim, sua memória te engana e te faz pensar que ainda brincava com carrinhos e bonecos quando estava com 15 anos.
É assustador pensar que, quando meu filho tiver seus 15 anos, algumas meninas já estarão dando um "confere" no formoso traseiro dele, que hoje é apenas um pedaço rosado de pele com cheiro de Hipoglós - e imagino que ser pai de uma menina deve ser mais desesperador ainda. Aí sim eu entendo meus pais, assim como os pais em geral, ao tentar inibir os filhos a agirem como naturalmente os adolescentes agem. É praticamente uma tentativa de frear a Mãe Natureza, pois quem lembra bem de sua adolescência, ou está passando por ela nesse momento, sabe como muitas vezes seu instinto responde muito mais rápido do que a noção de certo e errado. A questão é que, assim como falei no texto sobre as lutas de boxe clandestinas, os pais também instintivamente tentarão proteger o filho de fazer as besteiras que a vida demanda para se tornar um adulto experiente e consciente de seus atos.
No fim, somos realmente todos animais, sempre lutando contra nossos próprios instintos. Ou sendo forçados a lutar contra eles.
entendedores entenderão
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