terça-feira, 29 de julho de 2014

Who's your daddy?

Toda criança que se preze já entrou numa discussão “o meu pai é melhor que o seu”. Faz parte do crescimento como pessoa. Ter orgulho do pai é algo que parece acontecer naturalmente. O meu medo é não ter algo pelo qual meu filho possa “contar vantagem” diante dos coleguinhas.

Meu pai é menor que eu, mas sabe cozinhar, joga bem no gol, conhece bastante de futebol, sabe dançar, na minha infância era relativamente forte para o tamanho dele, contava histórias legais de sua infância no interior. Um dia, na única vez que fomos a um hotel fazenda, eu o vi cavalgando. Enquanto eu estava só no trotezinho, com medo de abusar da boa vontade do pangaré, meu pai estava correndo com o seu cavalo, fazendo manobras e brincadeiras. Eu olhei para aquilo e pensei “eu nunca vou conseguir fazer isso”. E engana-se quem acha que foi a famosa admiração de uma criança diante de um fato novo: eu já tinha 18 anos.

Eu não sei que feitos meus podem causar orgulho do meu filho a meu respeito. Como eu já disse em posts anteriores, não jogo bola bem. Além disso, não sei dançar, até me arrisco na cozinha, mas basicamente só sei fazer “gordices”. Estou longe de ser forte, não tenho nem cara de adulto ainda (e nem sei se vou ter - provavelmente passarei do look adolescente diretamente pro look maracujá de gaveta) e meu emprego não é do tipo “bombeiro” - fico sentado na frente de um PC o dia todo.

Bom, eu sei desenhar relativamente bem, arranho no violão e na bateria. Talvez, se ele crescer como um nerd (igual ao pai), pode ser que ele diga aos amiguinhos “meu pai joga videogame muito bem!” ou “meu pai faz programas pra computador! Ele pode fazer qualquer coisa!”. Contudo, não importa o que eu faça, nunca conseguirei ser tão legal quanto o cara que opera uma máquina dessas:




Para quem não conhece, esse transformer com ares de batmóvel é uma empilhadeira de contêiner. Tem uma dessas no lugar em que trabalho. Toda vez que passo por ela eu penso “o filho do cara que opera esse trambolho deve causar inveja a todos os coleguinhas da escola!” - e meus colegas de trabalho concordam comigo. Ora, pare e pense por um momento: imagine-se com  7, 8 anos, na escolinha, no dia do “leve seu pai para a escola”. Vários pais irão se apresentar, dizer suas profissões e quais são suas tarefas. Policiais, bombeiros, médicos, engenheiros… Todos esses parecem bacanas, até que o seu pai chega e fala “eu sou um operador de empilhadeira de contêiner. É como um trator de 3 metros de altura, com rodas gigantes, e tem um braço em forma de T que ergue caixas enormes de metal que pesam toneladas!”. As crianças vão falar “Woooooooow! Ele opera um robô gigante!”.

Esse é o grande dilema a respeito de ser um pai herói: será que aquilo que você faz e te causa orgulho como adulto é capaz de ganhar a admiração de uma criança? Ou de repente o truque de tirar uma moeda de trás da orelha vale mais que mil diplomas? Não sei ao certo, mas pô, daora essa empilhadeira de contêiner, hein?

sábado, 26 de julho de 2014

Cara de um, focinho do outro


Durante o período de espera do bebê "ficar pronto", é natural ficar imaginando como o filho se parecerá ao nascer. Eu sempre quis, independente de qualquer coisa, que viesse com os olhos verdes da mãe.

É estranho tentar montar uma imagem na cabeça que represente uma junção entre os pais. Desde que me conheço por gente, as pessoas - ao olharem para crianças - costumam dizer “é a cara do pai!” ou “o olhar é igualzinho ao da mãe”, ou ainda “o formato do lóbulo da orelha esquerda é igualzinho ao do vô Asdrubal!”. No fim, você olha para a criança, e é apenas uma criança, com suas próprias características.

vô Asdrubal

Outro fato comum é olhar para a criança e discordar de todo mundo. Tem um casal de amigos nosso que tem uma menina de 3 anos, super sapeca. Ao olhar para ela, não consigo imaginar uma ligação maior com a mãe, principalmente porque já estava acostumado a ver um retrato dela quando criança. Mas toda a população restante da Terra - e de alguns planetas vizinhos - olha para ela e diz que é a cara do pai, inclusive as mesmas feições. Aí eu fico naquela, né: será que eu tô enxergando direito ou todo o resto do mundo - e de alguns planetas vizinhos - é que não vê tal semelhança?

Tem também a terceira possibilidade: a famosa cara de joelho. É uma carinha fofa e enrugada, com um narizinho protuberante e uma sensação que essa criança não se parece em nada com o pai, nem com a mãe e muito menos com o vô Asdrubal. Mas é igualzinha à grande maioria dos seus colegas de berçário. E é nessa hora que aquela sua tia que mora longe vai tentar achar uma certa semelhança mais ou menos na curva da sombrancelha com algum parente longínquo. 

Pois tudo isso foi por terra no momento que olhei pela primeira vez para o meu filho. É muito estranho cravar que o guri se parece com algum de nós, sendo ele tão pequenino. Mas não teve como: ele é a minha cara - cabelo, queixo, boca - mas o nariz é igualzinho ao da minha esposa. É o famoso “cara de um, focinho do outro”. Aí sabe como é, fica complicado dizer que seu filho é lindo sem parecer estar se gabando. Mas ele é lindo, sim, mesmo que eu não seja. E aí entra outro fato engraçado sobre como o filho se parece: ele sempre vai ser lindo para os pais, mesmo que os pais sejam as pessoas mais feias do mundo - e de alguns planetas vizinhos.



quarta-feira, 23 de julho de 2014

Perdendo dentes


Semana passada, enquanto estava na sala de espera de um consultório, me deparei com uma cena que vejo a cada dia com mais frequência, e toda vez me deixa estarrecido: uma criança, com no máximo dois anos e pouco, fazendo tudo o que queria, e os pais sentados, observando tudo. O guri subia no sofá, pulava de uma cadeira para outra, gritava com o pai para ele "sair da frente" - e o pai saía. O mais absurdo foi a mãe, com a maior serenidade do mundo, pedir para o menino sair de cima do sofá e ele, olhando fixamente nos olhos dela, com o dedo em riste, falou com austeridade "NÃO!".

Se eu tivesse a pachorra de fazer isso na minha infância, meu pai iria me segurar e falar baixinho "se você não ficar quieto, vou te quebrar 3 dentes com um só tapa“. Era o suficiente para eu me aquietar e nem arriscar continuar meu apocalipse particular.

A propósito:  obrigado, pai, por me ensinar a cuidar dos meus dentes e entender o valor deles em minha vida!

Apesar das ameaças, dá pra contar nos dedos de uma mão quantas vezes apanhei. Aprendi a ter respeito - e medo - desde cedo, e em raros momentos passei dos limites. A meu ver, a grande diferença entre eu-criança e as crianças de hoje é a preguiça dos pais.

É fácil de identificar: junto com uma criança fortemente candidata a ser mais uma da "geração leite com pera" está um pai que acha estar cansado demais da sua exaustiva jornada de trabalho de 8h com a bunda sentada numa cadeira estofada e uma mãe que já se encheu de "brincar de casinha" e fica mexendo no celular - no Whatsapp com as amigas reclamando da vida ou jogando Candy Crush. Os estereótipos, obviamente, mudam de casal para casal, mas o fator comum é a falta de vontade de reprimir a criança no começo do erro, e a bola de neve só aumenta. Aí esse mesmo casal depois vai querer assistir Super Nanny e repassar os “castigos politizados” para a vida real.

A primeira coisa que eu pensei no caso de ser o pai da criatura: pegá-lo, levá-lo para fora, dar uma dura daquelas e voltar com ele como se nada tivesse acontecido. Não sei se me orgulho de, apesar de nem ser oficialmente pai na época, pensar em uma solução tão rápida e didática ou se fico com vergonha de ser tão ingênuo a ponto de acreditar que só isso seria o suficiente. Mas pelo menos eu faria algo a respeito.

domingo, 20 de julho de 2014

Boys don't cry

Eu era uma criança chorona. Se bem me lembro, chorava fácil por coisas bestas. Era uma forma de chamar atenção, creio eu. Infelizmente, até um pedaço da minha adolescência eu também usei essa artimanha - e não me orgulho.

De uns anos pra cá, parei com isso. Tirando raríssimos momentos de raiva ou de discussões acaloradas, não tenho derramado uma lágrima sequer. Minha esposa até me diz que eu não tenho mais coração.

 “Sr. Mágico de Oz, quero um coração!”


Dizem que homem não chora. Hoje é moda dizer que isso é bobagem, para vender a imagem de que os homens têm sentimentos. Mas na época do meu pai era a mais pura verdade: se chorou, é frouxo. Bom, eu já vi meu pai chorar algumas vezes, e nunca considerei frouxidão. Talvez dependa do motivo, afinal existem vários tipos diferentes de choro, e o de emoção provavelmente é o que mais pega de surpresa.

Admito que fiquei um pouco apreensivo nas semanas antes do nascimento do meu filho. Senti-me pressionado a chorar. Muitos me perguntavam se eu achava que iria chorar, principalmente minha esposa. E eu não sabia responder, afinal fazia tanto tempo que eu não chorava! Eu nem lembrava mais como era, como começava, quando se separava o momento entre não conseguir segurar as lágrimas e estar com o beiço formado. Cheguei a pensar que se eu não chorasse, seria vergonhoso, pois pareceria que eu não estava nem aí para o nascimento do bebê. Eu também sou um péssimo ator, então nem fingir chorar eu consigo!

Para quem soube como foi a epopeia do nascimento, é fácil entender que a tensão estava à flor da pele. Quando o vi pela primeira vez, foi muito rápido, em um momento de nervosismo, não pude pegá-lo, nem tocá-lo. Muita informação na cabeça. Não consegui chorar. Saí do berçário me sentindo meio culpado por isso, enquanto recebia os parabéns dos parentes que estavam me acompanhando.

Fiquei no aguardo da segunda vez de vê-lo, para tentar curtir um pouco. Foi no outro dia, pela manhã. Antes de ir até o setor de maternidade do hospital, fui visitar a minha esposa, que ainda estava em observação após a cesárea. Falar com ela me acalmou, mas ainda me deixou tenso. Quando cheguei ao berçário, ver meu filho na incubadora, com um respirador,  e um médico me explicando que estava tudo bem, dando detalhes sobre o nascimento e evolução, quebraram o momento de intimidade que queria ter com o bebê. Por isso, continuei sem chorar. A terceira vez que o vi foi na tarde deste mesmo dia, onde o clima foi quebrado pela necessidade de passar as informações para preencher a ficha para registrá-lo como meu filho no cartório.

Quando já me sentia um homem-de-lata, veio o dia seguinte. Fui visitá-lo, e ele já estava sem respirador. Consegui ver certinho o rosto dele, mesmo tão pequenino já conseguia respirar sozinho, e ao colocar a mão dentro da incubadora, ele segurou meu dedo. Aí o choro veio ao natural. Numa situação dessas, um pai de verdade - por mais “machão” que seja - vai derramar pelo menos uma gota de suor masculino pelo olho esquerdo. Não sei explicar, é totalmente diferente de assistir o Marley morrer no filme, ver a esposa entrando no altar ou levar uma paulistinha no futebol do fim de semana. Não tem nada a ver com acompanhar seu time ser rebaixado, descascar cebolas, o Brasil perder de 7 a 1 da Alemanha ou baterem no seu carro zero semanas depois de você tirá-lo da concessionária. Você vê aquela miniatura de pessoa, se remexendo e espreguiçando, e pensa “ele está aqui por minha causa”. 
Eu não sei por que o ser humano chora, como e em quais circunstâncias as glândulas lacrimais são acionadas, se é frouxidão ou não. Mas se existe um motivo concreto para que o choro exista, é pra dizer ao mundo “meu filho nasceu”.



sexta-feira, 18 de julho de 2014

How I Met My Son


Sabe aquelas histórias que acontecem nas nossas vidas e que parecem uma aventura de algum roteirista hollywoodiano, com várias reviravoltas e tensões, onde no fim você só torce para não ter sido escrito pelo George R. R. Martin? Ontem foi um dia desses.

No fim da tarde minha esposa me liga, dizendo que estava com um aspecto amarelado, mas passava bem. Como ela estava grávida, não pensei duas vezes: vamos ao hospital. Chegamos lá mais ou menos 17h30, e logo ela foi atendida. Fizeram vários exames nela, por mais de quatro horas, e depois de verificarem que o bebê estava bem, mas os exames com alterações, nos mandaram para a maternidade: ela provavelmente seria internada para realizar uma cesárea.

Encostei o carro na maternidade um pouco depois das 22h - no meio tempo bati um cachorro quente de esquina que ficou se revirando no meu estômago madrugada adentro - e demos entrada para a verificação da médica, junto com os exames. Ela, aparentemente nova, olhou os exames estupefata, e ligou para o obstetra da minha esposa, para passar as informações. Eis que o médico diz “em <insira aqui um número grande> anos de profissão nunca vi um caso desses”. Aí, como diria o Araketu, “o corpo estremece e as pernas desobedecem”. Já fiquei tenso. A médica e o obstetra, com medo de alguma complicação que poderia acontecer durante a cesárea, nos encaminharam para outro hospital, que também possuía maternidade. E lá vamos nós, 11h30 da noite correr para o terceiro hospital do dia. Nesse meio tempo, começou a cair o maior toró - e obviamente me molhei para pegar o carro.

Enfim, chegamos ao ponto final. Mais uma vez demos entrada, e um médico mais velho foi atendê-la. Ele, indignado, reclamou “como te encaminharam para cá sem me ligar? Estamos sem vaga na maternidade!”. Dentro de mim o Araketu tocou de volta, enquanto o doutor continuou “temos que interná-la já, e ver o que fazer depois!”.

Resumo da ópera: após vários telefonemas para Deus e o mundo, decidiram: iriam operar minha esposa lá e depois encaminhar o bebê para a outra maternidade - aquela que eu tinha ido antes. Tudo pronto, tudo certo, tudo resolvido, próximo passo: subir para a sala de cirurgia. Nesse momento já era 1h30 da manhã de hoje, e as informações que eu tinha eram: 1- minha esposa estava com exames alterados; 2- a cirurgia era urgente; 3- meu filho prematuro ainda seria transportado para outro hospital após nascer, no meio da madrugada e com uma tempestade rolando lá fora. Acho que qualquer um no meu lugar entende que não era um momento tranquilo de espera.

Então eu, acompanhado de alguns membros das nossas famílias, aguardei. Nervoso, mas sem deixar transparecer, aguardei. Mandando mensagens e respondendo amigos e parentes pelo celular, aguardei. 2h, nada. 3h, nada. 3h40 me chamam. Eu mando o Araketu se catar e vou firme falar com o pediatra: o pequeno Brucioêine havia nascido! Estava bem, se recuperando na incubadora. Pude vê-lo rapidinho e tirar uma foto. Cabeludo igual ao pai, com o nariz da mãe. Uma pessoinha em miniatura. Me informaram que conseguiram uma vaga no mesmo hospital, então não precisaria mais deslocá-lo. Cerca de 527 toneladas haviam saído das minhas costas, mas ainda tinham mais 527 lá, no aguardo de informações da minha esposa.

Demorou mais ainda. 4h, 4h30, 5h. Então me chamaram de volta. Ainda deu tempo de sofrer um bullying da enfermeira, dizendo que eu não tinha cara de pai(EU SEI!). Enfim, disseram que estava tudo bem, e que ela ficaria em observação por um tempo, para se recuperar da cirurgia. Agradeci a Deus e aos médicos, e pude falar com ela rapidinho - embora ainda estivesse bem anestesiada.

Cheguei em casa 6h da manhã, exausto, física e psicologicamente, mas feliz. Feliz porque deu tudo certo, independente de todas as reviravoltas ocorridas no dia. E com a certeza que essa seria, daqui um tempo, apenas uma boa história pra contar - e com o final feliz. Chupa, George R. R. Martin!

E foi assim, crianças, que eu conheci o meu filho.


quarta-feira, 16 de julho de 2014

Leite com pera faz mal

Acabou a Copa do Mundo. Vai deixar saudades, tanto pela quantidade de jogos por semana quanto pela qualidade do futebol apresentado. Mas agora volta o Campeonato Brasileiro: um campeonato infinitamente pior, com jogadores ruins, futebol pobre e escândalos de arbitragem. Contudo, esse é o campeonato que mora em nossos corações, porque é onde nossos times do coração jogam.

Quando criança eu não era acostumado a ir ao estádio. Também não tinha a facilidade que temos hoje de assistir todo e qualquer jogo pela TV. Era no radinho mesmo. Raras vezes meu tio me levou, mas o dia que realmente me empolguei em acompanhar futebol foi na primeira vez que fui com meu pai. Eu tinha 13 anos, era comemoração do aniversário do clube e o estádio superlotou. O meu time ganhou de virada de um dos favoritos ao título. Aquela energia no gol da virada ficou para sempre guardada na minha memória, e desde então me fez acompanhar assiduamente o meu time.

Eu não torço para um dos ditos “grandes do futebol brasileiro”, o que acho que torna o ato “torcer” mais interessante. Cada jogo é uma batalha, cada vitória é uma conquista importante, mesmo que não signifique estar brigando pelas primeiras posições.

Pode parecer meio contraditório, ou até mesmo masoquismo, mas não é. Tenho notado que a chamada “nova geração” tem forçadamente se acostumado com vitórias. Perder é um absurdo, um ultraje, uma possibilidade inaceitável. Se não é possível vencer, é porque foi roubado ou prejudicado - e seu pai advogado vai processar quem servir de bode expiatório. É a famigerada geração “leite com pera”.
abaixo o leite com pera!

Eu vi o Brasil ser tetracampeão, acordava cedo para ver as corridas do Senna, e nem por isso sempre torci para o melhor por medo de enfrentar uma derrota. Hoje a galera torce para o Sebastian Vettel ou para o Hamilton, mesmo tendo um  - mediano, diga-se de passagem - piloto da nossa nação; dizem que o seu “time do coração” é o Barcelona, ou o Bayern de Munique; torceram contra o Brasil na Copa, para torcer pela Espanha - por causa de 2010 - ou pela Argentina - por causa do Messi - e deverão torcer pela Alemanha - agora campeã - daqui para frente. O “motivo” é sempre o mesmo: por que torcer pra outro senão o melhor?

Eu quero levar o meu filho para o estádio, quero vê-lo sofrer e vibrar pelo mesmo time que o meu, da mesma forma que fiz, pelo simples fato que “vitórias e derrotas” acontecem todos os dias das nossas vidas. Talvez saber lidar com a derrota do seu time favorito - ou alguma goleada por 7 x 1 que possa ter acontecido em um momento recente da história - possa fortalecer uma criança para saber como enfrentar uma situação mais séria quando for mais maduro. Ele pode chorar hoje, mas pode bater no peito amanhã - coisa que muitos hoje não conseguem fazer ao se confrontar com o primeiro probleminha da vida adulta. Sei que só isso não é o suficiente para fazer com que meu filho não se torne mais um regado a leite com pera, mas já é um início.

E claro, teoricamente ele poderia escolher outros times e ter a mesma experiência, mas sejamos sinceros: que pai não quer que o filho torça para o mesmo time que o seu?


domingo, 13 de julho de 2014

For Those About To Rock - I Salute You

Hoje é o Dia Mundial do Rock (horns up!). Desde que comecei a entender o que é música de verdade, sempre preferi essa vertente. Cheguei a me vestir apenas de preto num período da vida, ouvia bandas de heavy metal lado B, garimpava bandas desconhecidas que tivessem um som razoavelmente bom e execrava qualquer outro estilo musical. Hoje já sou um pouco (UM POUCO) mais maleável. Gosto de algumas coisas de MPB também e não me importo tanto com músicas antigas que, na minha adolescência, eu não ouviria nem por decreto.


Embora seja um músico (muito) amador, acredito que sei apreciar um bom arranjo musical, uma voz bem afinada e separar um riff bem elaborado de um feito nas coxas, utilizando uma escala pentatônica qualquer. Baseado nisso, me acho no direito de dizer: 99% dos grupos/bandas/cantores/cantoras atuais que fazem sucesso são LIXO MUSICAL.

“Você tem que ser mais eclético”, você pode dizer. Não sei quantas vezes já escutei isso. Mas a meu ver, gostar de tudo é gostar de nada. E aí entra o meu ponto: o que meu filho irá escutar???

Eu moro na “periferia”, por assim dizer. Muitos dos adolescentes que vejo perambulando nas ruas próximas de casa estão de boné gigante de aba reta, tênis 3 números maiores do que o pé e calças na altura do joelho. Quando não é assim, é camiseta polo, corrente de prata/ouro, brinquinho e cabelo oxigenado. O que quebra, talvez, é uma ou outra fã de Demi Lovato ou Justin Bieber. Me dá 3 tipos de arrepio em pensar no meu filho pedindo pra eu levá-lo no show do Jeito Moleque, do Nx Zero, de alguma dupla de sertanejo universitário ou de qualquer "hip-hop ostentação". Se for funkeiro então, aí eu vou sentir que fracassei completamente na missão de ser um bom pai.

Pode parecer preconceito - e deve ser mesmo. Mas assim que for possível, farei de tudo para ensiná-lo a gostar das músicas que eu gosto. Quero que ele durma ao som de Nothing Else Matters e dance e pule com Dancing With Myself. Quero vê-lo aprender Come As You Are no violão, a reconhecer a voz do Ozzy, a enxergar Foo Fighters como eu enxerguei Led Zeppelin quando era mais novo. Sei que isso bate de frente com um dos meus textos anteriores, sobre tentar não influenciar o guri, mas creio que os pais devem mostrar para os filhos a diferença entre o certo e o errado. Para mim, o certo é ouvir o bom e velho rock n’ roll.


quinta-feira, 10 de julho de 2014

Givin' the dog a bone

Eu ainda não comentei, mas tenho um cachorro. É provavelmente o cachorro menos ativo do mundo: não gosta de brincar, não gosta de correr pra pegar as coisas, não pede comida quando estou comendo, não destrói nada, não faz sujeira dentro de casa. E o que esse fato tem a ver com o que eu quero expressar nesse texto? Praticamente nada. O que importa é que semana passada apareceu no portão de casa uma outra cachorra, parecida com um labrador, com coleira, mas sem identificação. Ficou perambulando o dia todo pela vizinhança e volta e meia estava novamente na frente do nosso portão. Resolvi tirar fotos para publicar no Facebook e tentar encontrar o dono, e com muito receio de como o meu cachorro reagiria à presença dela, coloquei-a pra dentro. Agora ela está aqui, latindo pros cães da rua, destruindo os jornais e a placa do meu carro,  pentelhando meu cachorro pra brincar e sempre querendo atenção. É uma bebezona ainda, gosta de fazer bagunça e de carinho. E de fazer bagunça de novo.

Por sorte, se não encontrarmos o dono, já temos uma pessoa que quer adotá-la. Contudo, se não encontrasse ninguém, não conseguiria colocá-la na rua de volta. Teria que ficar com ela, mesmo que isso significasse mais custos, mais dor de cabeça, mais stress para tentar ensinar o que é certo e o que é errado e mais esforço para adaptar a casa para mais um membro da família. Mas também significaria que teríamos mais carinho, mais risadas e mais diversão. Impossível não fazer uma analogia com o nosso momento de agora: temos um filho a caminho, que vai - dadas as devidas proporções - dar os mesmos custos, dor de cabeça, stress e demandar o mesmo esforço, mas também trará muito mais benefícios.

Da mesma forma que essa cachorra apareceu do nada, de um dia para o outro, e entrou nas nossas vidas, vejo tantos conhecidos e ouço tantas histórias de pessoas - desde adolescentes até pessoas mais velhas contando de sua juventude - que enfrentaram uma gravidez inesperada. Eu antes ficava pensando “mas como essas pessoas conseguiram se virar? Eu e minha esposa planejamos tanto antes de tentar engravidar, nos preparamos, e ainda assim está um perrengue danado!”, mas agora entendo: quando alguém depende diretamente de você, nada te impede de alcançar o mínimo necessário para ela, independente do esforço que isso demande. Essa é a grande característica de nós, seres humanos: sabemos nos adaptar frente a uma adversidade. Seja ela um cão bobão ou o dever de montar um lar para sua família.

"O que um homem faz? Ele provê sua família"

segunda-feira, 7 de julho de 2014

Hamlet

Quem nunca quebrou um brinquedo de algum amiguinho quando criança não sabe o medo que dá pegar pela primeira vez um recém nascido. Aquela sensação de “se eu estragar, não tenho como pagar ou arrumar!”. Pra piorar, sou canhoto. Aí a tensão aumenta em 100%, porque a pessoa te passa o bebê de uma forma que você obrigatoriamente terá que girá-lo no eixo. Sinceramente, tenho a sensação que, quando o doutor vier entregar o meu filho, vou dizer “não, doutor, ele tá bem com você! Pode ficar com ele por enquanto!”. Ou vou segurá-lo igual quem segura uma bomba relógio prestes a explodir (mas eu não vou jogá-lo para longe e nem cortar o fio vermelho, fiquem tranquilos).

Não consegui encontrar uma foto que fosse fidedigna à posição que eu queria mostrar, mas fiquem com essa, por ora.


Um amigo meu me deu a dica: fazer a posição “Hamlet” para receber o bebê. Tal posição consiste em esticar o braço dominante (no meu caso, o esquerdo) e deixar o antebraço levantado entre 30 e 45 graus, com a mão como se estivesse segurando uma esfera de cerca de 15 centímetros de diâmetro. O outro braço fica mais pra baixo, relaxado, porém firme, aguardando receber o objeto esperado para aparar. Assim, a pessoa que entregar o bebê que se vire para encaixá-lo entre os seus braços.

O engraçado é que nunca vi uma peça ou filme de Hamlet, sequer li qualquer coisa relacionada a Shakespeare, mas mesmo assim eu sabia exatamente como era a posição no momento que meu amigo falou dela.

posição “Hamlet”.


Eu acho - e espero - que pegar um filho é igual a conhecer a “posição Hamlet”: pode ser algo que você nunca viu, nunca fez, que não tem experiência alguma, porém na hora fará todo o sentido do mundo. Mas que dá medo de deixar cair, isso dá.

P.S.: Ironicamente, quando estava pesquisando “posições de pessoa segurando bomba”, tinham várias fotos de recém nascidos e pessoas segurando bebês. Não pode ser só coincidência!

quinta-feira, 3 de julho de 2014

The Brucioêine Rises

Eu sempre fui muito mais fã dos heróis da Marvel do que da DC, ou qualquer outra editora de quadrinhos de fantasia. Tenho até hoje uma coleção de 3 ou 4 anos de gibis - infelizmente prejudicada pela enchente de 2004, provocada pelo vazamento da caixa d’água do escritório em que eu trabalhava, e a grande enchente de 2012, graças a um registro quebrado no banheiro. Meu super herói favorito sempre foi o Gambit, dos X-Men, seguido muito de perto pelo Homem Aranha (obs.: se você só os conhece graças aos filmes, não se deixe enganar. Nos quadrinhos é que a mágica acontece).

Quando descobri que teríamos um menino, resolvi postar um nome de brincadeira no Facebook, daqueles estilo “gringo abrasileirado”, vide Madeinusa, Waldisnei ou Lirodiou. Estranhamente o primeiro nome que me veio à mente foi “Bruce Wayne” (vulgo “Batman”, para os mais desinformados). No caso, virou “Brucioêine”. Pegou. E pegou forte. Muitos dos meus amigos me perguntam “e como está o Bruci?”, ou quando compram algum presente falam “esse é do Brucioêine”. Até um body com o símbolo do Batman ele já ganhou.

Engraçado, não? Antes mesmo de nascer o guri já tem uma ligação muito forte com um super-herói que faz parte do universo de quadrinhos rival ao qual eu sempre amei! Isso me faz pensar em quantos gostos contrários nós teremos. Quero que ele torça para o mesmo time que eu (esse é sagrado!), ouça as mesmas músicas que eu, tenha a mesma religião que eu, goste das mesmas comidas, das mesmas piadas, das mesmas brincadeiras, tenha as mesmas paixões… Mas como saber qual o limite entre a influência e a imposição? Como ter certeza que ele gosta de algo porque faz parte dele ou porque eu fiz uma espécie de “lavagem cerebral” durante todo o seu crescimento? Ou ainda: se eu não causasse nenhum tipo de influência, será que ele ainda teria afinidades comigo? Ou o simples fato de eu ser seu pai fará com que os seus gostos sejam parecidos com os meus?

É difícil aceitar o “viva e deixe viver” quando a vida em questão é a do seu filho. mas independente disso, acredito que a maior preocupação que eu devo ter durante todo o “processo” é tentar não influenciar a criança de forma negativa. Nenhum pai em sã consciência tem intenção de ensinar o errado ao filho, a fazê-lo ir contra seus princípios, mas somos humanos, e de vez em quando erramos sem querer. Basta lembrar que a culpa dessa conexão “Filho>Batman” é minha.

P.S.: Sim, o layout do site é uma ligação direta a esse fato.



terça-feira, 1 de julho de 2014

O início do início

Se você não me conhece, provavelmente olharia para mim e pensaria “ah, capaz que esse aí vai ser pai!”. Tenho 29 anos, porém se você encontrar uma foto minha de quando eu tinha 15, é possível pensar que a mesma foi tirada na semana passada. Eu tenho estatura baixa e só não deixo minha barba crescer porque Deus não me criou com essa feature. Não sou do tipo atlético e não honro minha nacionalidade, já que jogo bola muito mal e nunca consegui dançar sequer 10 segundos de samba (na verdade, nunca consegui dançar 10 segundos de qualquer tipo de dança).

Ao contrário do que você também possa pensar, não foi uma gravidez “sem querer”. Foi tudo planejado. Estou casado há 3 anos com minha namorada do terceirão, entre várias idas e vindas. Ela tem a mesma idade que eu, e muitos aconselham que a mulher tenha o primeiro filho antes dos 30. Temos o mínimo necessário e mais um pouquinho para manter uma vida relativamente confortável, mas sempre na tênue linha do saldo positivo e do vermelho no fim do mês. Pensando em tudo isso, chegamos a conclusão “por que não?”.

Sim, eu vou ser pai. É um guri. Está entrando no oitavo mês de gestação, e a ideia é que seja parto normal. O fato de não ter uma data específica cria uma pressão ainda maior no quesito “estarei preparado quando a hora chegar?”. Não sei por que esse temor, já que todos os pais foram pais uma primeira vez, e até hoje nunca vi uma manchete do tipo “Morre homem que acabara de se tornar pai. Motivo da morte foi virar pai”. Esse “medinho” deve acontecer todos os dias, em todas as maternidades, casas de parteiras, aldeias e táxis do mundo, e nem por isso as pessoas estão parando de ter filhos. Tá aí a China pra provar.

Enfim, esse é só um começo. A ideia é escrever aqui os acontecimentos bacanas, os meus “auto questionamentos”, um pouco dos meus devaneios e até mesmo, conversa fiada. Quem sabe essa minha experiência possa ajudar alguém por aí, pai ou não, mãe ou não, conectado nesse advento pós-moderno e globalizado chamado internet? Ou não.