terça-feira, 24 de janeiro de 2017

Lava, lava, lava, uma orelha, uma orelha - Parte 3


Eis que nas últimas semanas evoluímos mais um passo no quesito “banho”: agora, sem traqueostomia, e com o clima mais agradável do Verão, resolvi colocá-lo para tomar banho no chuveiro, junto comigo. O resultado? Um pavor tremendo do crianço assim que a água começou a cair em sua cabeça e escorrer pelo rosto.

se ele tivesse um apito, iria fazer isso

Conheço pessoas que dão banho de chuveiro em seus pequenos bacuris desde os primeiros meses, logo se torna algo comum para eles. Já no nosso caso, por conta de todo o cuidado para que não entrasse água pela traqueostomia, tivemos que evitar chuveiros e afins. Contudo, é algo com que o guri terá que se acostumar mais cedo ou mais tarde. As primeiras tentativas foram de gritos, choros, medo e ranger de dentes, mas há poucos dias encontrei um trunfo para que ele se acalmasse: o vasilhame de shampoo do Hulk.

esse é o meu ajudante nº1

Por algum motivo que não sei explicar, ele consegue ficar calma e serenamente debaixo do chuveiro enquanto brinca com o shampoo do Hulk, a ponto de não notar a água escorrendo, os olhos pingando e até mesmo eu esfregando suas costas com a esponja. O banho, que outrora era motivo de esperneamento e berreiro, agora se faz em quase (QUASE) completa paz, graças ao Hulk.

Hulk esmaga!

O pobrezinho já enfrentou muitas dificuldades mesmo com tão pouco tempo de vida (aqui, aqui e aqui), e é óbvio que todos esses percalços impactaram diretamente no desenvolvimento dele, se compararmos com uma criança “comum”. Mas aos poucos, com garra, determinação, e uma ajudinha de um outro super-herói, ele vai evoluir, e essas dificuldades ficarão no passado.

segunda-feira, 16 de janeiro de 2017

Curtinha #4

Fim de semana na praia. Casa do meu irmão. Meu filho, acostumado a dormir no berço, sozinho, teve que dormir entre mim e minha esposa. O rebento já estava na terra dos sonhos desde as 22h, e nós, seus pais, fomos nos deitar às 23h30. Ele acordou. E não quis dormir mais. Não sei se era o colchão de ar que era desconfortável, o ventilador soprando na nossa cara, o calor do litoral ou o fato de ser um lugar totalmente diferente, mas o guri decidiu que não iria mais cair no sono. Tentei dar a chupeta - não adiantou. Tentei fingir que estava dormindo - não adiantou. Tentei forçá-lo a ficar deitado - não adiantou. Tentei dar uma mamadeira - não adiantou. Uma da manhã e me vi dormindo sentado, apoiado num guarda roupas e com ele deitado no meu colo, fazendo “bilu bilu” no próprio beiço. Aceitei minha derrota: quem sabe amanhã eu durma melhor.

sexta-feira, 6 de janeiro de 2017

Promessa é dívida

Em uma determinada época da minha infância, meu pai teve um buggy (bugue, bugre, depende de qual região do país você está). Não é o carro mais versátil para um pai carregar seus familiares, mas existem duas vantagens que nenhum outro automotor possui: 1- toda viagem para a praia é uma aventura e 2- é possível consertar qualquer problema que ele apresente com um clipe de papel, um rolo de barbante e uma paçoca rolha (Durepoxi é desejável, mas não essencial).

Era parecido com esse, se bem me lembro

Pois bem, aconteceu que, em um dia chuvoso, estava passeando no buggy com meu pai e, de repente, arrebentou o cabo do pedal do acelerador. Ele encostou o carro e começou a imaginar o que fazer para consertar, já que ele não tinha clipe de papel, nem rolo de barbante e muito menos uma paçoca rolha. Então, seus olhos encontraram o pequeno pé tamanho 28 do seu filho (no caso, eu). O pequeno pé tamanho 28 calçava um tênis azul, do Snoopy, que possuía uma imagem holográfica do lado direito, onde o Snoopy e o Woodstock se mexiam dependendo do ângulo de visão. Era minha paixão em forma de calçado. Ele, então disse “filho, me dá o cadarço do seu tênis”. Eu prontamente disse “Eu não! É meu tênis!”. Ele retrucou “Eu te compro outro!” e eu, com muita dor no coração e totalmente contrariado, retirei o cadarço e dei para ele consertar o cabo do acelerador. Funcionou. E eu nunca tive meu tênis novo.

Saudades, Snoopy.

Esse pequeno conto verídico foi apenas para demonstrar o quão perigoso é fazer promessas para os pequenos bacuris. Por sorte não precisei de psicólogo e nem me tornei mentalmente instável, mas é um fato que acabou guardado na memória. A memória da criança é algo fantástico, e qualquer promessa que você faça será posteriormente cobrada por ela independente do tempo que passe. A ingenuidade dos infantes os fazem acreditar em tudo que é dito para eles e tenho certeza que muitos marmanjos hoje em dia carregam em seu traço de personalidade algum trauma causado por uma promessa feita por algum adulto durante sua infância e que não foi cumprida. Poucas coisas doem mais no coração do que ver a cara de decepção de uma criança quando percebe que você mentiu para ela, mas creio que pra elas deve ser pior. Logo, é bom evitar.

Os Lannisters teoricamente não decepcionam suas crianças

Não ganhei meu tênis do Snoopy, não fui pra escolinha de futebol e aquela vendedora da esquina que me prometeu um doce nunca me deu um pirulito sequer, e ainda fez eu brigar com meu irmão porque ela disse que “seu irmão passou aqui e pegou pra você”. Em teoria, a frustração é esquecida poucas horas depois, mas a ferida aberta no âmago nunca se cicatriza. Cuidado: prometam apenas aquilo que possam cumprir - e isso não vale apenas para as crianças.