quarta-feira, 31 de dezembro de 2014

Dosmilequinze

Esse foi, de longe, o ano mais louco que já vivi. Não só pelo fato de ter virado pai, mas por tudo que isso englobou. Quem acompanhou ou leu a respeito de como foi o nascimento e o período que se estendeu após isso, sabe do turbilhão que passamos, além de outras correrias, e surpresas, e acontecimentos. Pessoas que achei que ficariam mais próximas de nós exatamente por causa do nascimento do nosso filho se distanciaram (e algumas tiveram a pachorra de dizer que nós “sumimos”, como se não soubessem do período de 3 meses que tivemos que ficar entocados em casa), já outros que estavam mais distantes, se aproximaram. Teve alguns, ainda, que surpreendentemente se dispuseram a nos ajudar e apadrinhar o guri sem que esperássemos, mesmo porque não achávamos que estariam tão conectados conosco ao final da epopeia da eclosão bebezística. De certa forma, o meu início de ano passou quase despercebido exatamente pela quantidade de experiências que aconteceram do segundo semestre para cá. 2014 me proporcionou três aprendizados que levarei para a vida toda:

1- Se sua mulher está grávida, leve-a ao médico ao menor sinal de desconforto. Pode ser só gases, mas leve-a ao médico ou a um hospital. Não adianta levar só na maternidade, veja um local que atenda ambos, pois maternidade só cuida direito da criança;

2- Amigos de verdade não mandam só mensagens perguntando se “estão todos bem”, mas ligam ou batem à nossa porta para ter certeza. Acima de tudo, fazem questão de estarem conosco, principalmente quando são convidados;

3- O mais importante: você só se torna adulto após ser mãe/pai. Não é com 18 anos, não é quando sai da casa da mãe, quando compra seu primeiro carro ou quando se casa. A responsabilidade de cuidar de uma vida extrapola qualquer conta que vence no fim do mês, qualquer infração de trânsito que você possa cometer, todas as tarefas que seu chefe quer que você termine antes das 17h de sexta-feira ou aquele ingrediente crucial para a receita e que você esqueceu de comprar no mercado  - e sua esposa provavelmente irá te matar por isso. Ter um filho é rever suas prioridades, abdicar de quase todo o seu desejo próprio em prol da saúde e da segurança de uma pessoinha em miniatura que só tem um sorrisinho banguela pra te oferecer como retribuição a toda essa dedicação. Mas esse sorrisinho vale muita coisa, como vale…


Feliz ano novo!


quinta-feira, 25 de dezembro de 2014

Então é natal…

Eis que passo meu primeiro natal como pai, e eis que não mudou muita coisa. Acredito que vou sentir o peso de ser um pai nas festividades natalinas só quando ele tiver idade pra me pedir uns beyblades de presente. Nem me vestir de papai noel serviria, já que nem tenho barba e minha pança só tá uns 20% do necessário para fazer o papel do bom velhinho.


Beyblade de pobre.


Mas se para mim não foi surpreendentemente impactante, não posso falar o mesmo da minha família. A chegada do guri causou furor no recinto: tias se descabelando, primos brigando entre si, madrinha empurrando tio pela escada para chegar por primeiro, entre outros ocorridos que só se vê na TV à tarde, no programa da Márcia.


Falando nisso, ainda existe o programa da Márcia?


O fato é que ele passou grande parte da noite dormindo. Outra boa parte mamando e um tanto de tempo chorando - afinal era muita gente estranha para ele, fazendo caretas e barulhos semelhantes a um apocalipse zumbi. Mas o impressionante mesmo foi a capacidade dele conseguir dormir tanto. A minha família é grande e do tipo italiana, com uma ou duas tias e umas duas primas que, quando se empolgam, facilmente adquirem a habilidade de se tornarem supersônicas. Ainda assim, ele estava tendo o sono dos anjos.


Nem precisou de um desses


Acho que a tal “magia do natal” aconteceu mesmo na hora da entrega de presentes: ele ganhou muitos, de brinquedos a roupas, além de acessórios que serão de grande valia. Após anos ganhando de presente apenas meias e uma ou outra camiseta, vi o carro cheio de papéis de presente e sacolas na hora de ir embora. Apesar de não serem para mim, me lembrei de como era divertido o natal quando era criança: a expectativa de dar meia noite para poder abrir os presentes, a ansiedade para saber quem me daria o quê, os abraços de agradecimento e as brincadeiras com os primos. Aí eu tive a certeza que a tendência é que cada natal seja mais alegre, ano após ano. Mesmo que eu tenha que comprar barba e barriga postiças - ou começar a comer muitos donuts.


Feliz Natal!


domingo, 21 de dezembro de 2014

Lava, lava, lava, uma orelha, uma orelha - Parte 2

Continuando a saga das primeiras vezes, hoje eu dei um banho completo no guri pela primeira vez. Antes eu era apenas coadjuvante, já ajudei a segurar, a passar sabão, mas não tinha assumido a titularidade na arte de higienizar o pimpolho.

Dar banho é consideravelmente mais complicado do que trocar fraldas, tendo em vista que você nunca tem certeza que limpou tudo direitinho. Numa troca de fraldas, o inimigo está ali, pastosamente apresentado, contrastando com a pele do bacuri - e cheirando muito mal, diga-se de passagem. Já no banho, você até tenta limpar integralmente a superfície bebezística, mas será que todo o suor, resquícios de vomitinhos e caquinhas foi devidamente removido?

Valeu, Neto!

Já viram aquela tática que os médicos fazem de sujar as mãos do paciente com tinta para ver se ele sabe lavar a mão corretamente, alcançando todos os espaços? Pois bem: de repente, cobrir o filho de tinta guache ou com farinha, e aí dar um banho, é uma alternativa plausível para confirmar que sua forma de dar banho está de acordo com a ABNBB - Associação Brasileira de Normas para Banho em Bebês.

Melhor não. Vai que o guri gosta da brincadeira?

Outra preocupação é lavar as costas e o bumbum: tem que virar o guri de costas, deixando-o cara a cara com a água. Aí você tem que achar o ângulo perfeito entre deixá-lo muito reto - e sem maleabilidade pra lavar o popoti - e ouvir uns “glub glub glub” - que acredito não ser muito saudável para a criança.

Roupa apropriada pra dar banho no bebê

Enfim, para um primeiro banho, acredito que me dei bem: ele saiu com cheirinho de camomila, sem vergões, roxos ou arranhões. Também não chorou, nem tentou pular para fora da banheira para tentar salvar sua vida. Logo, me auto-pontuo com nota 8. Vamos ver como serão as próximas vezes - se é que a mãe dele vai permitir que seu amado filho ter mais doses de adrenalina como hoje.

terça-feira, 16 de dezembro de 2014

Relato de uma "noitada"

Há 5 anos Hoje

22h. Me apronto para entrar no chuveiro. Depois do banho tomado, escolho uma roupa bacana, com o qual tento ficar - a muito custo - bonito. Após esperar o contato dos meus amigos, saio de casa para ir para a balada, e chego lá perto de meia-noite. Assim que chego, já pego uma cerveja, e a banda de rock começa a tocar. Converso gritando com os amigos, devido ao som alto da música. Pego mais uma cerveja, e canto uma música bacana de forma despreocupada. No intervalo das músicas, vou ao banheiro, me infiltrando no meio da multidão de gente para ir e voltar do sanitário. A banda volta a tocar. Quase no fim da apresentação, tocam uma música ruim. Subo até o bar para pegar mais uma cerveja. Quando volto, a banda tinha acabado, e meus amigos ainda estavam animadões. Ofereço minha cerveja para um que está sem. Começa a música eletrônica, e descemos para o lounge. Enquanto finjo estar dançando de um lado a outro, fico esperando por um sinal de música boa, mas me decepciono com os “tux tux” que permanecem tocando. De vez em quanto o DJ aumentava o som, mostrando como DJs podem ser sarcásticos. Fui pegar mais uma cerveja pra espairecer. Meus pés já doem. Sento numa cadeira, mas meus amigos não querem que eu fique parado, e começam a me zoar. Volto a ficar de pé. Tento me animar e voltamos a conversar e dar risada, mas a música continuava martelando repetidamente na minha cabeça. Aí a coisa piora: começa a tocar axé. Olho pros meus amigos e digo “vamos embora?”. Eles enrolam um pouco, mas finalmente parecem tão cansados quanto eu. Sento no sofá da recepção aguardando que eles paguem a conta. Vamos até o carro e rumamos para casa. Chego em casa, escovo os dentes, troco de roupa e deito a cabeça no travesseiro, feliz por ter me divertido, mas bastante cansado por ter passado a noite na farra.

22h. Me apronto para entrar no chuveiro. Depois do banho tomado, coloco meu pijama, com o qual tento ficar confortável. Após esperar minha esposa ir dormir, coloco um seriado para assistir, que acaba perto de meia-noite. Assim que desligo, vou até a cozinha e pego um copo d’água, e o bebê começa a chorar. Converso sussurrando com minha esposa, pra tentar não despertá-lo ainda mais. Pego um copo de água para ela, e tento fazer o guri voltar a dormir de forma preocupada. Ela resolve dar de mamar, então vou ao banheiro, andando na ponta dos pés para ir e voltar do sofá. Volto a ver o seriado. Quase no fim do episódio, o guri volta a chorar. Subo até o quarto para ver o que está acontecendo. Chego lá, o choro tinha acabado e minha esposa estava em estado de zumbi. Ofereço minha ajuda para fazer o guri dormir. Começo a tentar fazê-lo dormir, e desço para a sala. Enquanto ando com ele de um lado a outro, fico esperando por um sinal de sono do guri, mas me decepciono com seus enormes olhos feito duas jabuticabas que permanecem me olhando. De vez em quando ele ainda sorria pra mim, mostrando como bebês podem ser sarcásticos. Fui pegar mais um copo d’água pra distrair. Meus pés já doem. Sento no sofá, mas ele não quer que eu fique parado, e começa a reclamar. Volto a ficar de pé. Tento me animar e volto a andar de lado a outro, mas o sono continuava martelando repetidamente a minha cabeça. Aí a coisa piora: ele começa a choramingar. Olho pro meu filho e digo “vamos dormir?”. Ele enrola um pouco, mas finalmente parece tão cansado quanto eu. Sento no sofá da sala aguardando que ele adormeça. Vamos até o quarto e coloco-o no berço. Depois chego no banheiro, escovo os dentes, subo para o quarto e deito a cabeça no travesseiro, sem ter me divertido, mas feliz por ter cuidado do meu filho e ter sido bem sucedido na minha missão.


quarta-feira, 10 de dezembro de 2014

Grama verde, céu azul...

“… e flores vermelhas! Sorrindo para o amigo Sol, que está sempre alegre!”♫
Sim, é isso mesmo que você está imaginando: por mais que eu tenha me esforçado para que esse dia não acontecesse, ele sumariamente repousou sobre nossas vidas para se manter conosco por anos a fio. Me dói dizer isso, mas meu filho ganhou um presente musical - e o pior: ele adorou.

Acredito que seja mais pela luz vermelha piscante e pelo colorido do brinquedo, mas para que a luz pisque, é preciso que ele cante. É uma simples máquina fotográfica com um sol sorridente (que está sempre alegre) no lugar da lente, mas é o suficiente para deixá-lo calmo e concentrado mesmo quando estava incessantemente chorando.


Eis o responsável pelo meu martírio

Eu não queria que ele ganhasse brinquedos com música, pelo simples fato que as canções grudam na nossa cabeça com uma intensidade maior que A Dança da Manivela (aqui tá quente! Tá frio! Muito quente! Muito frio!) ou qualquer uma do Molejão. Eu já me peguei cantarolando esses famigerados versos dirigindo a caminho do trabalho (e com o rádio ligado), durante o banho e até mesmo pro meu filho - que é, no caso, um dos sintomas finais que indicam a impregnação total da musiquinha dentro da família.

“Assim tá bom dimaaaaaaisss!”

Eu fico cabreiro com esses brinquedos, não só por temer pela minha própria sanidade, mas porque meu lado psicótico acredita que sempre tem um motivo obscuro para essas musiquinhas existirem. Cresci numa época onde se acreditava que dentro do corpo do boneco do Fofão havia uma faca, que a boneca da Xuxa criava vida durante a noite, entre outras bizarrices. Morro de medo de tocar a música ao contrário e descobrir que, na verdade, é uma mensagem de ETs informando que serei abduzido por ouvir o segredo das galáxias, ou algo do tipo.


O_O

Ok, exagerei. Na verdade, é só egoísmo meu, não queria ficar ouvindo repetidamente as mesmas cançõezinhas chiclete por horas e horas nos dias que hão de vir. Sei que brinquedos musicais são interessantes para evoluir ritmo, criatividade e musicalidade da criança. Também sei que é muito provável que daqui a pouco tempo estarei cantarolando sonetos elaboradíssimos de Lazy Town, Meu Amigãozão e - Deus tenha piedade da minha alma - Galinha Pintadinha. Se isso é importante para o aprendizado do meu filho - ou até mesmo para distraí-lo ou acalmá-lo de vez em quando - tudo bem, mas será que é pedir muito trocar essas músicas por AC/DC?

quinta-feira, 4 de dezembro de 2014

Adivinha?

Uma das coisas que mais me irritou durante a gestação foi a quantidade de “videntes” que acabamos conhecendo. Começou quando finalmente tornamos a gravidez pública: por acharmos mais seguro só divulgar após o terceiro mês que estávamos esperando um filho (o período mais “delicado”), foi um festival de “Eu sabiiiiia!”. Engraçado que essas pessoas “sabiam”, mas nunca afirmaram nada para nós - sequer questionaram. Depois foi a vez do sexo do bebê: “sabia que ia ser um menino!”. Alguns diziam que era por causa do formato da barriga, outros porque o umbigo estava pra dentro, e não pra fora. Outros pelo brilho na pele ou nos olhos da mãe. Pessoal, sejamos justos: tem 50% de chance de acerto! Ou é menino, ou é menina! Fica fácil acertar com a probabilidade máxima. Eu realmente daria crédito se dissessem “é um filhote de ornitorrinco!” e acertassem - e pediria um teste de DNA, por óbvio.

“Parabéns, papai!”

Agora está na fase dos olhos do bebê ficarem na cor que carregará por boa parte da vida. Antes disso era um misto de cinza, marrom e azul, dependendo de como a luz batia, de qual fase a lua estava ou quantos gols o Botafogo levava no jogo do fim de semana. Como eu tenho olhos castanho-escuros (o famoso olho de jabuticaba) e minha esposa tem olhos verdes (tipo uva itália), o jogo para os videntes agora é definir qual vai ser a cor final. Aqui creio que temos quatro chances: verde, castanho esverdeado, castanho claro e castanho escuro, com uma remota chance de ter um olho de cada cor, estilo husky siberiano. Já começa a dificultar as apostas, tendo os paranormais de plantão que apelar para os orixás, as cartas e até mesmo para o espelho mágico.


Heterocromia apavora!


Como tem gente no mundo que adora dar pitacos e contar vantagem por ter acertado algo, não? Será que essas mesmas pessoas tem noção que pouco ou nada me importa se eles têm o conhecimento do universo e do espaço e tempo nas mãos? A única coisa que quero é que o guri tenha os olhos da mãe, porque os meus são muito sem graça. Se ficar com eles verdes, beleza! Se não ficar, tudo bem! Mas se você acertar a cor, parabéns, viu? Você vai ganhar um belíssimo NADA, enrolado num lindo papel de TÔ ME LIXANDO.


“Quer saber qual vai ser a cor dos olhos? Ligue djá!”


Após a definição dos olhos, começa o próximo bolão: ele será canhoto ou destro? Consultem suas bolas de cristal, búzios, o horóscopo e aquela sua tia que sabe quando vai chover porque o joelho começa a doer, pois assim que soubermos, não fará diferença nenhuma para sua vida! Quer brincar de adivinhar? Tudo bem! Nós também fazemos isso! Mas depois não venha falar conosco com um ar de superioridade, dizendo que “sabia” como seria. Fica a dica.

sábado, 29 de novembro de 2014

Bobolhando

Eu nunca soube como agir com crianças, principalmente os mais novinhos. Nunca fui de ficar fazendo careta, falando igual besta (ou com voz de criança) ou até mesmo fazer “cuti cuti” e outras brincadeirinhas que fazem o bacuri te olhar com cara de “o que tá acontecendo aqui?”. Mas aí eu tive um filho, e tudo mudou.


“Me desculpe, senhor, mas o quê você está fazendo?”

Quer dizer, nem tudo. Ainda não ajo assim com o filho dos outros, mas com o meu já ganhei o diploma de bestão com louvor. Não sei, acho que com ele posso ser mais natural, não preciso temer ser julgado ou não ser aceito - afinal ele não tem muita escolha, sou o pai dele e ponto. Fora que é papel crucial dos pais fazer seus filhos passarem vergonha em vários momentos da vida.


Do grupo “tentativas que não deram certo”

Agora que ele aprendeu a rir, fico parecendo um macaco de circo na frente dele, na busca frenética por tirar uma risada. Falo bobo, faço caretas e barulhos estranhos com a boca e com a língua, tentando em vão fazê-lo sentir cócegas na barriga e debaixo do braço, entre outras peripécias que sou grato a Deus por saber que o guri não se lembrará quando tiver idade para falar. Também acho ótimo que ele não tenha um gravador de vídeo que posta automaticamente as gravações no Youtube - mas fica a dica pra alguma empresa de tecnologia que queira implementar algo assim em chupetas, babadores e bonés para bebês. Nicho de mercado, hein!


Do grupo "reações mais comuns do que a risada"

O pior é que gasto um bom tempo nessa bobeira, e cada décimo de segundo em que ele esboça um sorriso me dá forças para esquecer minha dignidade e continuar ainda mais, até ele visivelmente ficar de saco cheio. Mas aquele décimo de segundo, aquele momento em que ele faz um som, eu repito e ele torna a repetir também, valem por todo o esforço e toda vergonha na cara que deixo para trás ao brincar com ele. Enfim, aprendi a agir com uma criança pequena, mesmo que seja só com a minha. No final, ela é a que mais importa.

segunda-feira, 24 de novembro de 2014

Labutando

Sabe aquela história de “se eu pudesse te dar um conselho…”? O Pedro Bial diz que é “use filtro solar”. Já eu digo “arranje um primeiro emprego horrível”.


Use filtro solar!

Comecei a trabalhar bem cedo, pra ajudar em casa - ou pelo menos para não dar mais despesas. Trabalhava como office boy, fazendo serviço de banco, ia pegar e entregar documentos em vários lugares, além de fazer todos aqueles serviços chatos de escritório que ninguém quer fazer. Não posso reclamar muito também, já que trabalhava umas duas horas, e de resto era só ficar coçando o saco.

Todos aqueles anos de filas de banco, horas dentro de ônibus lotados que iam para os pedaços mais obscuros da cidade e empilhamentos de notas fiscais e arquivos de 5 anos antes me ensinaram a conhecer a cidade de forma que consigo ir praticamente para qualquer canto, a ter paciência e a organizar minhas coisas antes que fujam de controle.

Depois de sair dessa empresa, tive o meu primeiro emprego de carteira assinada: suporte técnico de serviço de internet de uma empresa de telefonia. Suportei por 1 ano os comportamentos mais contrastantes possíveis dos clientes que ligavam pedindo ajuda, desde educados até os que xingavam de 8 a 9 palavras em 10, passando por uma senhora de 60 e poucos anos que deu em cima de mim. Atendi desde o Jimmy Hendrix até a Roquilane Fuck de Alguma-coisa. E o que aprendi? A ser educado, polido, (mais) paciente e - principalmente - trabalhar sob pressão.

Contudo, esses dois empregos me ensinaram uma lição muito maior: a valorizar o emprego seguinte. o trauma gerado por eles fez com que eu entendesse que não existe profissão perfeita, não existe empresa nota 10 e nem trabalho que não é exaustivo - bom, talvez testador de colchões seja. De videogames também.


Melhor emprego do mundo

Por isso vou incentivar meu filho a ter um primeiro emprego assim que seja possível, para ensiná-lo responsabilidade, comportamento social e - assim como aprendi - a entender que nem sempre a vida é bela e fácil. Vejo hoje em dia adolescentes e recém-adultos que mal sabem pegar um ônibus, ir ao banco ou até mesmo organizar seus gastos. Vejo também pais que defendem que o filho “deve se dedicar apenas aos estudos”. Aí eles ficam sem nenhuma ocupação até o fim da faculdade, e tem que entrar num furioso mercado de trabalho aos 20 e poucos anos sem nenhuma experiência empresarial - e vi muitos se darem mal por isso.


Tá, não precisa ser tão ruim assim

Claro, ele não precisará trabalhar feito um chinês ou em uma jornada de 44 horas semanais, realmente o estudo é mais importante. Mas aprender a se virar sozinho é parte crucial da vida adulta, e um bom (ruim) emprego é um ótimo passo para adquirir a responsabilidade necessária.

terça-feira, 18 de novembro de 2014

Tá rindo de quê?

Ontem me peguei pensando sobre como funciona o senso de humor dos bebês. Meu filho começou a esboçar os primeiros sorrisos na semana passada, passando de brincar com a chupeta ou me ver fazendo barulhos com a língua até rir do próprio pum.

Ok, pum é algo engraçado para crianças e adultos também. Não que seja uma obra prima da comédia contemporânea, mas todo mundo dá um risinho - mesmo que inconsciente - quando ouve um som flatulento vindo de algum lugar. Mas e os outros motivos para rir? Nós, enquanto adultos, temos consciência e senso de humor bem definidos. Alguns - como eu - riem de coisas bestas, como trocadilhos infames ou piadas que a grande maioria acharia sem graça. Outros riem do estilo pastelão: tropeços, tortas na cara, pancadas e tombos - coisas que o Chaves melhor sabe fazer.


essa é ótima

Tem os que tem um senso de humor mais refinado, que ri apenas de tiradas jocosas de seriados cult ingleses, e por isso se acham mais inteligentes que o resto da humanidade. E tem os que acham graça do Zorra Total - esses eu já considero casos perdidos mesmo.


Leandro Hassum não curtiu isso

Sendo engraçado ou não do nosso ponto de vista, todos temos consciência do por quê algo pode provocar riso. Mas aquele bebê, pequenininho, que há pouco tempo mal conseguia distinguir imagens e cores, agora já acha graça das coisas mais variadas. Como será que a mente dele trabalha para distinguir que a ponta da chupeta passando sobre os lábios dele é algo divertido? Ou por que ele se mantém tão concentrado olhando para a própria mão, abrindo e fechando os dedos freneticamente? O que há de tão engraçado em ver minha língua subir e descer fora da boca?


“você só colocou as mãos na frente do rosto, você não sumiu de verdade!”

Sim, eu sei, o “porque sim” é a melhor resposta para o momento, afinal minha vida não mudará se eu descobrir o segredo por trás desses sorrisos. Mas saber o que os ocasiona tornaria a experiência com o filho ainda melhor, porque não há ser humano no mundo que não tente tirar o sorriso de um bebê quando está na presença de um, não é mesmo?

sexta-feira, 14 de novembro de 2014

Posso brincar com você?

Quem me conhece, sabe que sou um nerd e não me envergonho disso. Volta e meia eu tenho uma vontade imensa de jogar RPG de mesa (se você não sabe o que é, clique aqui - mas já vou avisando que a explicação é muito mais chata que o jogo em si!).

Épico.

Minha esposa tem o mesmo desejo que eu - sim, é um dos motivos por eu ter casado com ela - e, junto a alguns amigos nerds que temos (e que já jogamos juntos), resolvemos tentar jogar mais uma vez. Só que havia um pequeno porém: nós temos um bebê prematuro, que não podia sair de casa e nem receber visitas, tendo em vista o sistema imunológico frágil. Bem, eu estava tão empenhado que pesquisei na internet e consegui encontrar um site para jogar virtualmente, além de um programa para fazer uma “audioconferência”, e todos jogarmos cada um em seu humilde lar. Em miúdos, resolvi o problema de locomoção e de localidade. Agora era só jogar, certo? Errado.

o meu já tem um desses!

Após várias tentativas - todas em fins de semana, já que durante a semana todos trabalham - conseguimos jogar uma única vez, e só por duas horas, com um dos membros do grupo ausente. Nas outras semanas, sempre um, dois ou três não podiam - era festa, aniversário, compromisso de família, compromisso de faculdade… Alguns tinham um horário bem restrito, do tipo “sexta-feira, das 21h45 às 23h39”. Por fim, o jogo morreu.

Depois disso, fiquei pensando em quantas vezes ouvi pessoas dizerem que depois que o filho nasce, os pais perdem a liberdade de se entreter como antes. “Esqueça o videogame, cara!” ou “vocês nunca mais verão um filme juntos” foram algumas das que já me falaram. Pois bem, naquele único domingo que pudemos jogar RPG, eu vi a minha esposa com o guri mamando em um peito e o notebook do outro lado, jogando normalmente conosco. Antes disso, eu estava com ele no colo, arrumando as coisas para começarmos o jogo. Já faz alguns dias também que eu e minha esposa jogamos Resident Evil juntos enquanto o rebento está conosco (mas não deixamos ele olhar para os bichos do jogo, fiquem tranquilos).


Num tô vendo, ó!

Esse episódio me ensinou duas coisas: 1- não é questão de ter um filho ou não, e sim questão de ser adulto - nunca mais teremos a mesma liberdade para fazer o que quisermos como podíamos quando mais novos. Temos emprego, faculdade, pós graduação e até mesmo vida social para dar atenção; e 2 - quem realmente quer fazer algo, se esforça para conseguir - e quem não quer, arranja uma desculpa. Não era uma tarefa fácil conciliar a jogatina com os horários e demandas do nosso filho, mas eu e minha esposa arranjamos todas as formas possíveis para fazê-lo. Ainda assim, parecia ser mais difícil ainda para os outros fazerem o mesmo.

Também não posso ser prepotente e achar que, só porque nós temos um filho, e os outros não, pra nós sempre será mais complicado - mas provamos que tem como dar um jeito. E se você, leitor, acha que esse texto é apenas sobre nerds querendo jogar RPG, você não entendeu o recado.

segunda-feira, 10 de novembro de 2014

Guia passo a passo: como trocar uma fralda

Nessa semana troquei pela primeira vez a fralda do meu filho por completo, de cabo a rabo. É, eu sei, ele já está com quase 4 meses, eu fui um aprendiz tardio. Mas tendo mãe e sogra 24 horas por dia ao lado do guri, fica difícil para o pai exercer tal responsabilidade.

Enfim, como acredito que essa missão é um mistério para muitos pais e mães de primeira viagem, vou apresentar aqui , assim como fiz com o tutorial de como fazer uma mamadeira, um passo a passo de como trocar uma fralda.

1- Deite o bebê sobre uma superfície reta e confortável. Se possível, coloque um pano ou algum material impermeável por baixo dele.




2- Confirme que você tem em mãos tudo o que precisa para fazer a troca (fralda extra, pomada para assaduras, lenço umedecido, etc.).




3- Remova todas as camadas de roupa até chegar à fralda.




4- Abra a fralda com cuidado, examinando o conteúdo a fim de programar os próximos passos.




5- Em caso de resíduos sólidos na superfície cutânea do bebê, use a extremidade frontal da fralda para remover o excesso.



6- Use quantos lenços umedecidos forem necessários para limpar toda a pele do bebê que tenha sido atacada pela ferocidade intestinal do mesmo. Lembre-se de dar um cuidado especial às preguinhas.




7- Coloque os lenços utilizados dentro da fralda suja e enrole-a, prendendo o rolo com suas próprias linguetas de fixação. Depois deposite no lixo orgânico.




8- Encaixe a fralda nova na altura correta (mais ou menos 1/3 das costas), com as linguetas de fixação na parte de trás. Cuidado para não trocar os lados!



9- passe uma quantidade generosa de pomada entre as pernas e na região glútea, priorizando a área do fabricante de “caquinha”.


Obs.: SÓ nas regiões da fralda, ok?


10- Feche a parte da frente e puxe as linguetas de forma que a fralda fique fixa, sem pontos de vazamento mas que não faça o bebê ter a sensação de estar usando uma cinta modeladora  ou um espartilho.


Se estiver parecido com isso, provavelmente está muito apertado


11- Faça o teste do “não cai”.




12- Vista o bebê.




13- Comemore seu triunfo.

Espero ter ajudado com essas dicas. Fiquem atentos para mais dicas importantíssimas a respeito da arte milenar de ser pai. Meus cumprimentos.

quinta-feira, 6 de novembro de 2014

"Porque sim" não é resposta!

O meu primeiro carro foi um Corsa 99 sedan 1.0 (in memorian). Como todo carro antigo, apresentou vários problemas, dos mais simples aos mais chatos - e caros. Porém, o primeiro problema foi culpa minha: deixei a luz do carro acesa durante o dia todo, e por isso fiquei sem bateria na hora de sair do trabalho. Solução? Chamei a seguradora, e o mecânico apenas deu carga. Algumas semanas depois, voltando para casa, o carro começou a falhar; o motor, engasgava, mas ainda funcionava. Encostei o carro e abri o capô para dar uma olhada no motor (como se fosse um expert em mecânica). Eis que, por mais leigo que fosse, observei o cabo de uma das velas solto. Pensei comigo mesmo “poxa, se eu tivesse fita isolante, já arrumava isso aqui”. Então olhei com mais cuidado e vi, em cima do motor, um rolo de fita isolante. Olhei para o céu e disse “Deus, preciso de uma Ferrari!” - mas não deu certo. Me contentei com a fita isolante, que arrumou meu carro e me possibilitou ir para casa. Na verdade, o rolo foi deixado pelo mecânico, por acidente, no dia que ele recarregou a bateria.

Fita da Intervenção Divina


Conto essa história para demonstrar algo que - por fé ou por criação - sempre penso a respeito de percalços da vida: tudo acontece por um motivo. Se eu xinguei muito no Twitter no dia que fiquei sem bateria, agradeci no outro dia pela fita isolante deixada pelo mecânico. Pensei também nisso a respeito da epopeia do nascimento, onde todo o stress nos levou ao hospital mais bem preparado para o caso da minha esposa. E penso agora sobre a condição especial do meu filho.

Poucos sabem, além de amigos e parentes mais próximos, mas o guri nasceu com uma condição chamada “pé torto congênito bilateral. Resumidamente, os pés nascem virados para dentro, como tacos de golfe. É uma condição considerada comum (uma em mil gestações) e que tem 100% de possibilidade de cura. Mas o tratamento não é tão tranquilo, no entanto. Foram cerca de 8 semanas de idas ao ortopedista para colocar gesso nas duas pernas, choros até se acostumar e banhos “de gato” com um pano, pois não dava para molhar da cintura para baixo. Hoje ele tirou o último gesso, e agora deverá usar um par de botas especial até acertar os pés por completo, o que pode acontecer até os 3 anos.

Esse foi o último gesso

É algo ruim, trabalhoso e custoso, mas eu tento ver pelo lado positivo: ele não reclama de dor, age igual a qualquer criança da mesma idade, aprende a engatinhar e andar da mesma forma, e - principalmente - vai ficar sem nenhuma sequela no futuro. Quem sabe, mais para frente, ele não vire um grande atleta ou esportista? De repente ele é canhoto (igual a mim) e aprende a jogar futebol muito bem (não igual a mim), aí algum empresário visualiza seu potencial e ele vira um grande jogador. Já consigo até imaginar aquela reportagem melosa no Esporte Espetacular, com uma música triste de piano tocando ao fundo e o Régis Rösing narrando “... mas, na infância, Brucioêine sofreu. Nasceu com os pés tortos, blá blá blá” e o final triunfal com ele, capitão, levantando o troféu do octacampeonato da seleção brasileira, na Copa de 2042, na Nova Zelândia.

Estou profetizando a taça em 2042!!

Ok, não precisa ser nada tão grandioso, mas tenho certeza que há um motivo por trás disso. Por isso não reclamo, nem me martirizo. E se por acaso você, que está lendo, terá ou conhece alguém que terá um filho com a mesma condição, eu digo, por experiência: não se preocupe. É chato, é trabalhoso, mas é remediável - e a criança sofre muito pouco. Acima de tudo, há um motivo maior.


Obs.: Nesse link há muita informação a respeito das razões e do tratamento: http://g1.globo.com/bemestar/noticia/2014/04/entenda-como-e-o-tratamento-para-corrigir-pe-torto-congenito-nos-bebes.html