segunda-feira, 24 de novembro de 2014

Labutando

Sabe aquela história de “se eu pudesse te dar um conselho…”? O Pedro Bial diz que é “use filtro solar”. Já eu digo “arranje um primeiro emprego horrível”.


Use filtro solar!

Comecei a trabalhar bem cedo, pra ajudar em casa - ou pelo menos para não dar mais despesas. Trabalhava como office boy, fazendo serviço de banco, ia pegar e entregar documentos em vários lugares, além de fazer todos aqueles serviços chatos de escritório que ninguém quer fazer. Não posso reclamar muito também, já que trabalhava umas duas horas, e de resto era só ficar coçando o saco.

Todos aqueles anos de filas de banco, horas dentro de ônibus lotados que iam para os pedaços mais obscuros da cidade e empilhamentos de notas fiscais e arquivos de 5 anos antes me ensinaram a conhecer a cidade de forma que consigo ir praticamente para qualquer canto, a ter paciência e a organizar minhas coisas antes que fujam de controle.

Depois de sair dessa empresa, tive o meu primeiro emprego de carteira assinada: suporte técnico de serviço de internet de uma empresa de telefonia. Suportei por 1 ano os comportamentos mais contrastantes possíveis dos clientes que ligavam pedindo ajuda, desde educados até os que xingavam de 8 a 9 palavras em 10, passando por uma senhora de 60 e poucos anos que deu em cima de mim. Atendi desde o Jimmy Hendrix até a Roquilane Fuck de Alguma-coisa. E o que aprendi? A ser educado, polido, (mais) paciente e - principalmente - trabalhar sob pressão.

Contudo, esses dois empregos me ensinaram uma lição muito maior: a valorizar o emprego seguinte. o trauma gerado por eles fez com que eu entendesse que não existe profissão perfeita, não existe empresa nota 10 e nem trabalho que não é exaustivo - bom, talvez testador de colchões seja. De videogames também.


Melhor emprego do mundo

Por isso vou incentivar meu filho a ter um primeiro emprego assim que seja possível, para ensiná-lo responsabilidade, comportamento social e - assim como aprendi - a entender que nem sempre a vida é bela e fácil. Vejo hoje em dia adolescentes e recém-adultos que mal sabem pegar um ônibus, ir ao banco ou até mesmo organizar seus gastos. Vejo também pais que defendem que o filho “deve se dedicar apenas aos estudos”. Aí eles ficam sem nenhuma ocupação até o fim da faculdade, e tem que entrar num furioso mercado de trabalho aos 20 e poucos anos sem nenhuma experiência empresarial - e vi muitos se darem mal por isso.


Tá, não precisa ser tão ruim assim

Claro, ele não precisará trabalhar feito um chinês ou em uma jornada de 44 horas semanais, realmente o estudo é mais importante. Mas aprender a se virar sozinho é parte crucial da vida adulta, e um bom (ruim) emprego é um ótimo passo para adquirir a responsabilidade necessária.

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