sexta-feira, 24 de junho de 2016

Falando e andando


Se perguntarem aos pais e mães de bebês “quais os dois fatos mais esperados por vocês que o bebê faça?”, acredito que 10 entre 10 dirão “falar e andar”. Por uma baita ironia do destino, meu filho nasceu com pé torto e teve que fazer uma traqueostomia às vésperas do primeiro ano de idade. Isto posto, acho que qualquer pessoa com o mínimo de empatia pode imaginar o quão frustrante foi para mim e minha esposa saber que nosso guri teria dificuldades para conquistar esses dois marcos importantes da evolução bebezística em seu tempo normal.

Por isso, não é de se estranhar que ontem, ao ver nosso filho com quase 2 anos dando 5 passos entre mim e o sofá da sala, nós tenhamos comemorado tal qual Galvão e Pelé no célebre momento do “É TETRAAAA! É TETRAAAA!”

Para os novinhos e novinhas que não fazem ideia sobre o que eu estou falando.

Não importa o quanto você se esforce, sempre acaba, mesmo que inconscientemente, comparando seu filho a outras crianças da mesma idade. Ou ele é pequeno demais, ou fala menos palavras, ou faz menos gestos, ou ainda não sabe jogar Candy Crush… O fato de ter um filho prematuro-com-pé-torto-usando-traqueostomia piora a situação para o meu lado, pois não consigo saber se uma coisa ou outra que ele ainda não faz é algum efeito colateral de suas condições ou se é normal que uma criança evolua mais rápido que outra em um determinado campo - o que é perfeitamente aceitável se usarmos o pensamento lógico. Mas quando se é pai, pensar logicamente é complicado - ser pai é ser passional o tempo todo. Logo, preciso de um choque de realidade para perceber que meu filho pega o controle remoto e aperta os botões já olhando para a TV, esperando algo acontecer, entre outras coisas que ele faz e eu penso “como é que uma criança de menos de 2 anos entende isso?”.

"Pai, me ajuda nessa fase aqui?"

É inevitável que eu faça comparações ou fique imaginando em vão quais as sequelas que as dificuldades do guri podem causar - se é que causarão alguma - mas isso é apenas uma pequeníssima parte do tempo que passo pensando nele e em seu futuro - isso só ocorre quando bate a famosa bad. Eu já disse em um texto anterior e digo novamente: as melhores conquistas das crianças estão nos pequenos atos. Vê-lo já saber colocar todos os blocos de formas diferentes dentro do cubo do quebra-cabeça me traz mais orgulho do que qualquer “papai” que eu pudesse já ter ouvido - mesmo porque eu mesmo já confundi um semi-círculo com uma meia-lua ao tentar brincar com ele.

Vá dizer que não é pra confundir???

segunda-feira, 13 de junho de 2016

Curtinha #1

Hoje vou iniciar um novo tipo de postagem para movimentar um pouco esse blog, já que não tenho mais conseguido criar textos na frequência que gostaria. Serão textos curtos, de um parágrafo, com algum pensamento, causo ou relato, que intercalarei com as postagens principais. Espero que gostem!

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Comprar presente para menino de 2 anos é uma tarefa muito difícil. Menina é mais fácil, afinal tem vestidinho, bicho de pelúcia, boneca, tiara, cachecol rosa com bolinhas felpudas nas pontas... Mas um menino de 2 anos está na idade entre largar chocalhos e começar a gostar de carrinhos e bola. Me vi há quase uma hora em uma loja de departamentos procurando algo, até prestar atenção em um moletom de touca com um tiranossauro amigável estampado na altura do peito. Me fez rir. Pego o moletom e me dirijo até o caixa, para pagar. No meio do caminho, meus olhos fitam em algo que nunca teria prestado atenção antes de me tornar pai: uma gôndola com um conjunto de 3 pares de meias infantis em promoção. Mas dar meia de presente para uma criança??? Muitos dos traumas de infância da geração de hoje provavelmente tem relação com presentes como meias e cuecas quando o infante esperava ansiosamente por um Comandos em Ação ou um Hot Wheels. Não, meia não é presente para criança. Mas está muito frio, não é mesmo? Penso naqueles pezinhos descalços, ruborizados por conta da baixa temperatura e duros e gelados como um picolé de limão. Mas não, não vou levar as meias. Ok, levo as meias também. Me explico para a mãe da criança após dar o presente em sua festa de aniversário. Fim.

quarta-feira, 8 de junho de 2016

Quando eu digo NÃO é NÃO!


Eu adoro animais (inclusive no meu primeiro vestibular minha segunda opção de curso foi Biologia), e sempre quis ter um animal de estimação (haja vista que sempre morei em prédio). Mas minha esposa, essa adora mais ainda. A maior diferença entre nós no quesito “empatia com bichos” é que, enquanto eu os vejo como “animais de estimação” - prezando mais por obediência do que carinho, minha idolatrada cônjuge virago é daquelas que chegam a chamar o animal de “filho”. Não que eu veja algo de errado nisso, acho até bonito. Mas essa diferença de mentalidade causou um pequeno “stress conjugal” há algumas semanas.


"QUE DAORA, CARA!"


Eu chamei a atenção do nosso cachorro por alguma desobediência, e fui repreendido por minha Senhora dizendo que eu só brigo com ele. Retruquei, explicando que ele estava “ficando folgado” porque ela não mantinha o pulso firme, e complementei: “quero só ver quando o guri estiver maior e você reclamar que estou brigando com ele quando ele nos desobedecer”. Ela mandou uma tréplica, afirmando que “se for para só brigar com ele e não dar carinho, vou defender ele sim”. Nisso, um grupo de moleques da quinta série que passavam pela rua no mesmo momento gritaram para mim, em uníssono “AH LOOOOOOOOOOCOOOO!!”. Ok, essa parte é mentira.


"AH LOOOOOOOOOCOOOO!"


Tá, mas esse texto é sobre crianças, pais ou cachorros?”, você pode perguntar. Bom, é sobre de tudo um pouco, mas mais precisamente, sobre o poder do “não” e como ele deve ser aplicado. Realmente, eu deveria dar mais atenção ao cachorro, mas isso não implica em “brigar menos” com ele quando há uma desobediência. O mesmo deve acontecer no decorrer do crescimento dos filhos, e é muito importante que o “não” seja dito na hora, sem exageros e, principalmente, em comum acordo entre os pais.


"nananinanão!"


Conheço casos dentro da família, de amigos e de conhecidos onde o pai ou a mãe contradizem o respectivo cônjuge, causando uma confusão na cabeça do pequeno rebento, conhecida pelo termo científico “vou pedir para o meu pai (ou minha mãe) porque ele(a) arrega”. O fato é comum e provavelmente você já presenciou (ou até foi o protagonista de) um momento como este:
Filho(a): Mãe, posso comer sorvete?
Mãe: Não, só depois do almoço.
Filho(a): Mas mãe...
Pai: Dá um pouco de sorvete para a criança, mulher! O que custa?


Veja que, no exemplo acima, há um conflito de ideais perante à situação, e expor esse conflito na frente do filho dá a ele a impressão que não há uma hierarquia familiar, onde “pais mandam em filhos”, mas sim uma anarquia onde “cada um pode fazer o que quiser, inclusive eu”. E nesse caso, estamos a um fio de ouvir a criança mandar um “Eu quero e pronto! O que custa?” na próxima vez que ouvir uma negativa de um dos pais.


"Não me interessa como, eu quero agora!"


A melhor forma de tratar essa situação seria o pai reforçar o “não” da mãe e, em um outro momento, em que estivessem sozinhos, o pai explicar à mãe seu ponto de vista, dizendo que, numa próxima vez, ela poderia reavaliar a condição de dar um pouco de sorvete para o filho. Em outras palavras, conversarem a respeito, apresentarem seus pontos de vista e, no fim, o marido acatar a opinião da mulher, já que casamento feliz é aquele onde a mulher opina e o marido concorda.


Topo do bolo do nosso casamento... Ok, mentira de novo.

Independente do grau de entendimento da situação (ou de noção) de cada progenitor, é muito comum (e até importante) que hajam pontos de vista diferentes, mas na frente da criança o pai e a mãe precisam falar a mesma língua, para ela compreender o significado daquele velho ditado que diz “quando eu digo NÃO é NÃO!”.