O meu primeiro carro foi um Corsa 99 sedan 1.0 (in memorian). Como todo carro antigo, apresentou vários problemas, dos mais simples aos mais chatos - e caros. Porém, o primeiro problema foi culpa minha: deixei a luz do carro acesa durante o dia todo, e por isso fiquei sem bateria na hora de sair do trabalho. Solução? Chamei a seguradora, e o mecânico apenas deu carga. Algumas semanas depois, voltando para casa, o carro começou a falhar; o motor, engasgava, mas ainda funcionava. Encostei o carro e abri o capô para dar uma olhada no motor (como se fosse um expert em mecânica). Eis que, por mais leigo que fosse, observei o cabo de uma das velas solto. Pensei comigo mesmo “poxa, se eu tivesse fita isolante, já arrumava isso aqui”. Então olhei com mais cuidado e vi, em cima do motor, um rolo de fita isolante. Olhei para o céu e disse “Deus, preciso de uma Ferrari!” - mas não deu certo. Me contentei com a fita isolante, que arrumou meu carro e me possibilitou ir para casa. Na verdade, o rolo foi deixado pelo mecânico, por acidente, no dia que ele recarregou a bateria.
Conto essa história para demonstrar algo que - por fé ou por criação - sempre penso a respeito de percalços da vida: tudo acontece por um motivo. Se eu xinguei muito no Twitter no dia que fiquei sem bateria, agradeci no outro dia pela fita isolante deixada pelo mecânico. Pensei também nisso a respeito da epopeia do nascimento, onde todo o stress nos levou ao hospital mais bem preparado para o caso da minha esposa. E penso agora sobre a condição especial do meu filho.
Poucos sabem, além de amigos e parentes mais próximos, mas o guri nasceu com uma condição chamada “pé torto congênito bilateral”. Resumidamente, os pés nascem virados para dentro, como tacos de golfe. É uma condição considerada comum (uma em mil gestações) e que tem 100% de possibilidade de cura. Mas o tratamento não é tão tranquilo, no entanto. Foram cerca de 8 semanas de idas ao ortopedista para colocar gesso nas duas pernas, choros até se acostumar e banhos “de gato” com um pano, pois não dava para molhar da cintura para baixo. Hoje ele tirou o último gesso, e agora deverá usar um par de botas especial até acertar os pés por completo, o que pode acontecer até os 3 anos.
É algo ruim, trabalhoso e custoso, mas eu tento ver pelo lado positivo: ele não reclama de dor, age igual a qualquer criança da mesma idade, aprende a engatinhar e andar da mesma forma, e - principalmente - vai ficar sem nenhuma sequela no futuro. Quem sabe, mais para frente, ele não vire um grande atleta ou esportista? De repente ele é canhoto (igual a mim) e aprende a jogar futebol muito bem (não igual a mim), aí algum empresário visualiza seu potencial e ele vira um grande jogador. Já consigo até imaginar aquela reportagem melosa no Esporte Espetacular, com uma música triste de piano tocando ao fundo e o Régis Rösing narrando “... mas, na infância, Brucioêine sofreu. Nasceu com os pés tortos, blá blá blá” e o final triunfal com ele, capitão, levantando o troféu do octacampeonato da seleção brasileira, na Copa de 2042, na Nova Zelândia.
Ok, não precisa ser nada tão grandioso, mas tenho certeza que há um motivo por trás disso. Por isso não reclamo, nem me martirizo. E se por acaso você, que está lendo, terá ou conhece alguém que terá um filho com a mesma condição, eu digo, por experiência: não se preocupe. É chato, é trabalhoso, mas é remediável - e a criança sofre muito pouco. Acima de tudo, há um motivo maior.
Obs.: Nesse link há muita informação a respeito das razões e do tratamento: http://g1.globo.com/bemestar/noticia/2014/04/entenda-como-e-o-tratamento-para-corrigir-pe-torto-congenito-nos-bebes.html
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