quinta-feira, 6 de novembro de 2014

"Porque sim" não é resposta!

O meu primeiro carro foi um Corsa 99 sedan 1.0 (in memorian). Como todo carro antigo, apresentou vários problemas, dos mais simples aos mais chatos - e caros. Porém, o primeiro problema foi culpa minha: deixei a luz do carro acesa durante o dia todo, e por isso fiquei sem bateria na hora de sair do trabalho. Solução? Chamei a seguradora, e o mecânico apenas deu carga. Algumas semanas depois, voltando para casa, o carro começou a falhar; o motor, engasgava, mas ainda funcionava. Encostei o carro e abri o capô para dar uma olhada no motor (como se fosse um expert em mecânica). Eis que, por mais leigo que fosse, observei o cabo de uma das velas solto. Pensei comigo mesmo “poxa, se eu tivesse fita isolante, já arrumava isso aqui”. Então olhei com mais cuidado e vi, em cima do motor, um rolo de fita isolante. Olhei para o céu e disse “Deus, preciso de uma Ferrari!” - mas não deu certo. Me contentei com a fita isolante, que arrumou meu carro e me possibilitou ir para casa. Na verdade, o rolo foi deixado pelo mecânico, por acidente, no dia que ele recarregou a bateria.

Fita da Intervenção Divina


Conto essa história para demonstrar algo que - por fé ou por criação - sempre penso a respeito de percalços da vida: tudo acontece por um motivo. Se eu xinguei muito no Twitter no dia que fiquei sem bateria, agradeci no outro dia pela fita isolante deixada pelo mecânico. Pensei também nisso a respeito da epopeia do nascimento, onde todo o stress nos levou ao hospital mais bem preparado para o caso da minha esposa. E penso agora sobre a condição especial do meu filho.

Poucos sabem, além de amigos e parentes mais próximos, mas o guri nasceu com uma condição chamada “pé torto congênito bilateral. Resumidamente, os pés nascem virados para dentro, como tacos de golfe. É uma condição considerada comum (uma em mil gestações) e que tem 100% de possibilidade de cura. Mas o tratamento não é tão tranquilo, no entanto. Foram cerca de 8 semanas de idas ao ortopedista para colocar gesso nas duas pernas, choros até se acostumar e banhos “de gato” com um pano, pois não dava para molhar da cintura para baixo. Hoje ele tirou o último gesso, e agora deverá usar um par de botas especial até acertar os pés por completo, o que pode acontecer até os 3 anos.

Esse foi o último gesso

É algo ruim, trabalhoso e custoso, mas eu tento ver pelo lado positivo: ele não reclama de dor, age igual a qualquer criança da mesma idade, aprende a engatinhar e andar da mesma forma, e - principalmente - vai ficar sem nenhuma sequela no futuro. Quem sabe, mais para frente, ele não vire um grande atleta ou esportista? De repente ele é canhoto (igual a mim) e aprende a jogar futebol muito bem (não igual a mim), aí algum empresário visualiza seu potencial e ele vira um grande jogador. Já consigo até imaginar aquela reportagem melosa no Esporte Espetacular, com uma música triste de piano tocando ao fundo e o Régis Rösing narrando “... mas, na infância, Brucioêine sofreu. Nasceu com os pés tortos, blá blá blá” e o final triunfal com ele, capitão, levantando o troféu do octacampeonato da seleção brasileira, na Copa de 2042, na Nova Zelândia.

Estou profetizando a taça em 2042!!

Ok, não precisa ser nada tão grandioso, mas tenho certeza que há um motivo por trás disso. Por isso não reclamo, nem me martirizo. E se por acaso você, que está lendo, terá ou conhece alguém que terá um filho com a mesma condição, eu digo, por experiência: não se preocupe. É chato, é trabalhoso, mas é remediável - e a criança sofre muito pouco. Acima de tudo, há um motivo maior.


Obs.: Nesse link há muita informação a respeito das razões e do tratamento: http://g1.globo.com/bemestar/noticia/2014/04/entenda-como-e-o-tratamento-para-corrigir-pe-torto-congenito-nos-bebes.html

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